Há um curioso sincronismo político no ar. Os seis prefeitos das maiores cidades do Tocantins, Eduardo Siqueira Campos (Palmas), Wagner Rodrigues (Araguaína), Josi Nunes (Gurupi), Ronivon Maciel (Porto Nacional), Celso Morais (Paraíso) e Josemar Kasarin (Colinas), enfrentaram, em outubro, o mês mais turbulento desde o início dos seus mandatos. E todos eles, coincidência ou não, têm algo em comum: estão politicamente alinhados ao projeto de Dorinha Seabra (UB) para disputar o governo do estado em 2026.

Enquanto Dorinha se movimenta, na costura de apoios regionais, seus principais aliados municipais, cinco deles dentro do grupo chamado de G5, vivem uma fase de desgaste, cada um à sua maneira.

Palmas

Em Palmas, Eduardo Siqueira (Podemos) tenta vestir o figurino de gestor responsável, lançando uma reforma administrativa pesada, prometendo economia de R$ 20 milhões e corte de comissionados. O prefeito fala abertamente que a prefeitura opera no limite financeiro. Medidas são estudas para oxigenar o caixa e mais cortes podem ser anunciados. As mudanças administrativas, claro, trouxeram desgaste com aliados que perderam espaço. Além disso, no mês de outubro, o gestor passou a ser bombardeado pela ex-prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), que virou uma pedra no sapato com ataques públicos e ironias políticas.

Araguaína

Em Araguaína, Wagner Rodrigues (UB) joga o jogo mais arriscado: tenta aprovar um novo PCCR sob o argumento de que o atual pode quebrar o Instituto de Previdência. Professores lotam a Câmara, sindicato fala em “ataque à educação”, e o Conselho Fiscal do Impar rebateu o próprio prefeito, dizendo que o sistema está sólido. Ou seja, Wagner está sozinho no front, e o tom de pânico que adotou no vídeo (“a conta não fecha”) mais pareceu tiro no pé.

Gurupi

Já em Gurupi, Josi Nunes (UB) correu para a Secretaria da Fazenda do Estado, literalmente pedindo socorro diante da queda de 10% nos repasses do ICMS. O rombo de R$ 15 milhões força cortes e cancelamento de projetos, e a prefeita tenta manter o discurso técnico de austeridade sem parecer fragilizada politicamente, o que, em ano pré-eleitoral, é tarefa quase impossível.

Porto

Porto Nacional vive um drama de planilha: o prefeito Ronivon Maciel exonerou 200 servidores e pode cortar mais 100 para tentar reduzir um déficit de R$ 3 milhões mensais. As demissões de comissionados e temporários viraram o símbolo de uma administração que tenta evitar o colapso fiscal. Internamente, a base política anda inquieta, o que deixa o terreno fértil para pressão e traições.

Paraíso

Em Paraíso, Celso Morais encabeça um “pacote de dor”: cortes salariais de até 30%, redução de gratificações e previsão de demissões. É o típico remédio amargo que nenhum político quer tomar, ainda mais em véspera de disputa estadual. A gestão tenta segurar o discurso da responsabilidade, mas irá mexer com o humor do servidor, e de suas famílias.

Colinas

Por fim, Colinas virou caso de polícia política. O prefeito Kasarin está encurralado com um processo de impeachment aprovado pela câmara, após denúncias de ter recebido R$ 144 mil em um único mês. Ele diz que é “intriga de adversário”, mas o desgaste é inevitável — e o clima na cidade virou praça de guerra.

O elo com Dorinha

Para 2026, os prefeitos são uma das principais moedas políticas da eleição estadual. Reeleitos, ainda concentram capital eleitoral, estrutura e presença local, mas a durabilidade dessa força é incerta, especialmente nas seis maiores cidades do estado, que reúnem parte expressiva do eleitorado tocantinense.

Esses prefeitos orbitam o projeto da senadora Dorinha Seabra (União), que tenta converter sua imagem de gestora técnica em liderança estadual com base territorial. A estratégia, no papel, faz sentido: unir eficiência administrativa e capilaridade política. Na prática, porém, o momento é de alerta. Outubro marcou o início de uma onda de desgaste entre os aliados, se não agora, os efeitos ainda podem estar por vi, e o reflexo disso pode chegar à pré-campanha. Se as gestões municipais entrarem em declínio, Dorinha carrega o risco de herdar não o prestígio, mas o cansaço político de seus prefeitos.