Demissões viram munição eleitoral para pré-candidatos, mas expõem dilema de como irão governar um estado movido por cargos
06 novembro 2025 às 14h48

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O governo interino de Laurez Moreira (PSD) ainda calcula o impacto político da onda de exonerações na Secretaria da Educação. Foram mais de mil contratos temporários encerrados, segundo dados oficiais. A Seduc justifica que a medida busca otimizar recursos, corrigir distorções e reduzir os gastos em cerca de R$ 2,7 milhões por mês.
O discurso oficial é de gestão técnica e ajuste fiscal. A pasta afirma que as mudanças não comprometem o funcionamento das escolas e que as decisões seguem critérios objetivos. O argumento reforça a narrativa de correção administrativa e zelo com o dinheiro público.
Mas o efeito político é inevitável. As demissões, ocorridas no fim do ano letivo, acenderam o alerta em partidos e pré-candidatos que disputam espaço no debate público. O tema virou combustível eleitoral e também um teste de coerência: quem hoje critica, amanhã pode ter de adotar medidas semelhantes para acomodar aliados e imprimir seu próprio ritmo de governo.
A senadora e pré-candidata ao governo, Professora Dorinha Seabra (UB), disse que as demissões representam “um grande e grave prejuízo” e que houve falta de sensibilidade com o momento do ano letivo. Para ela, a decisão afeta servidores com muitos anos de serviço e funções operacionais essenciais para o funcionamento das escolas.
O ex-senador e também pré-candidato Ataídes Oliveira foi além e classificou o episódio como reflexo da instabilidade política do Estado. “Gestões interrompidas, trocas constantes de secretários e políticas públicas que não chegam ao fim. Essa instabilidade tem um preço alto”, afirmou. Ele pontuou ainda que “mesmo com indicações políticas, há muita gente séria e trabalhadora que sofre com o vai e vem das trocas de governo” e defendeu que “não é sobre mudar pessoas, é sobre mudar a forma de governar”.
O estado é uma máquina pesada
No entorno político, o diagnóstico é que as exonerações, embora apresentadas como ato de gestão, carregam o peso de decisões com forte impacto social. Cada contrato rescindido significa uma família atingida, um líder local pressionado e um padrinho político cobrado. O estado segue sendo uma engrenagem sustentada por cargos, e mexer nessa estrutura custa desgaste imediato.
O caso da Educação ilustra o principal dilema de quem almeja governar o Tocantins: equilibrar a responsabilidade fiscal com a lógica política. A máquina é grande, o peso das alianças é real e a margem para decisões impopulares é estreita. O resultado é uma corda esticada entre o discurso de eficiência e a necessidade de sobrevivência política.
No fim das contas, o governo interino tenta mostrar seriedade administrativa, mas os reflexos da medida continuam ecoando na base e alimentando o discurso dos adversários. E, para quem se apresenta como alternativa nas urnas, o episódio funciona como lembrete: no Tocantins, o custo de cortar é sempre político.
