Secretária ou candidata? Débora Guedes lança pré-campanha com bênção evangélica e eco na prefeitura

26 maio 2025 às 08h57

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A secretária de Educação de Palmas, Débora Guedes (Podemos), entrou oficialmente no jogo eleitoral de 2026. O anúncio da sua pré-candidatura à Assembleia Legislativa foi feito neste domingo, 25, durante o encerramento da 27ª Escola Bíblica de Obreiros (EBADETINS) e 30º Encontro de Obreiros (ENOADETINS), eventos religiosos da Assembleia de Deus Madureira, em Gurupi, com direito a bênção política do pastor Amarildo Martins, presidente da Convenção Estadual de Ministros Evangélicos das AD Nação Madureira no Tocantins (CONEMAD/TO).
O movimento revela a estratégia de consolidar sua base entre o eleitorado evangélico e ampliar capital político antes mesmo de completar um ano à frente da Secretaria de Educação. Mas o momento e o modo do anúncio levantam perguntas, tanto dentro da gestão de Eduardo Siqueira Campos (Podemos), que pode precisar reorganizar a equipe, quanto entre os que esperavam de Débora um trabalho técnico e focado exclusivamente no ela própria chamou de recuperação da educação palmense.
Débora assumiu a Semed após ser eleita vereadora em 2024. Desde o início, adotou uma retórica dura contra a gestão anterior, acusando-a de irregularidades graves, como contratos ilegais com MEIs, desvio de verba federal destinada à construção de Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) e um déficit de mais de 600 servidores. Chegou a dizer que recebeu uma “educação ferida, sangrando” e prometeu “imparcialidade” e dedicação total à reestruturação do setor. Agora, com menos de seis meses à frente da secretaria, sinaliza que o projeto pessoal vai disputar espaço com as promessas de gestão.
A antecipação da pré-campanha tem um efeito duplo. Por um lado, pode ser vista como estratégia legítima de construção de imagem e musculatura política, afinal, poucos secretários resistem à tentação de transformar a máquina em vitrine. Por outro, levanta dúvidas sobre até que ponto ela vai conseguir manter o foco na secretaria, que já passou por períodos turbulentos de descontinuidade e é uma das áreas mais sensíveis da gestão municipal. Débora parece mais preocupada em se projetar do que em concluir a missão a que se propôs.
A fala pública num evento religioso, longe da agenda institucional da secretaria, indica que a pré-campanha já está em curso. E com ela vêm os riscos de confundir a atuação técnica com a busca por votos. É previsível que a secretária comece a articular bases no interior, cumprir agendas políticas e se afastar, ainda que progressivamente, da rotina administrativa. O discurso de “reconstrução da Educação” pode se esvaziar caso não venha acompanhado de entregas concretas até o fim do ano.
Para o prefeito Eduardo Siqueira Campos, a movimentação de Débora também exige cautela. Ele pretende fazer uma minirreforma administrativa nos próximos meses, e o anúncio da secretária pode estar abrindo caminho para uma saída já prevista. O risco, nesse caso, é a descontinuidade da política educacional e o desgaste de imagem para uma gestão que tenta se vender como técnica e eficiente. Se Débora sair agora, fica a leitura de que usou a secretaria como trampolim. Se ficar, terá que entregar resultados rápidos para não virar alvo fácil de críticas.
Em resumo, a pré-candidatura de Débora Guedes mostra que é preciso ter habilidade entre gestão e ambição eleitoral. Ela ainda pode virar o jogo se conseguir mostrar que é possível fazer campanha sem abandonar o comando da educação.