Com o avanço da direita no Congresso Nacional e dificuldades de articulação no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem colocado a eleição de senadores como prioridade para 2026. A meta do Planalto é clara: ampliar a base governista e evitar novas derrotas em votações-chave. No Tocantins, mesmo sem contar com um deputado estadual, deputado federal ou senador filiado ao PT, o nome que desponta nos bastidores como possível aposta do presidente é o do senador Irajá Abreu (PSD).

Filho da ex-senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu, uma das aliadas históricas de Lula, Dilma e do PT no estado, Irajá tem atuado de forma alinhada ao governo nas principais votações no Senado. Seu partido, o PSD, é da base aliada e tem mantido posição favorável ao Palácio do Planalto em pautas estratégicas.

Em recente visita de Lula ao Tocantins, em junho, Kátia Abreu declarou de forma enfática: “Irajá Abreu será o candidato de Luiz Inácio Lula da Silva ao Senado pelo Tocantins. Lula, você é sempre muito bem-vindo ao Tocantins. Tudo que temos de bom nesse estado foi nos dado por Siqueira Campos, Dilma e Lula. O restante é fake news!”.

A declaração reforça os rumores de que o presidente estaria inclinado a apoiar a reeleição de Irajá em 2026, mesmo sem uma decisão oficial do PT no estado. “Lula tem buscado essa articulação para o próximo ano e enxerga o nome Irajá consolidado no estado, além de ser um aliado de primeira hora no Congresso, nada mais natural que o apoio”, revela uma fonte de Brasília.

PT Tocantins

Procurado pela reportagem, o ex-deputado federal e liderança petista Paulo Mourão afirmou que Lula ainda não sinalizou diretamente suas intenções para o Tocantins. Segundo Mourão, “o Presidente Lula não fez qualquer menção às questões político-partidárias” em encontros recentes com lideranças locais.

No entanto, Mourão reconheceu que o partido trabalha nacionalmente para definir as candidaturas com maior viabilidade nos estados. “No segundo semestre, o PT nacional irá discutir as eleições de 2026 com o intuito de garantir a reeleição do presidente Lula”, destacou.

Sobre a declaração de Kátia, Mourão ponderou: “Somente ela pode confirmar se isso é uma decisão já tomada pelo presidente ou um desejo pessoal de mãe”. Ele também destacou que o apoio a Irajá dependerá da posição nacional do PSD, que ainda é incerta e pode pender para nomes como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado ou Romeu Zema, expoentes da direita nacional.

O alerta dos suplentes

A movimentação de Lula no Senado não é isolada. O PT vem revendo sua estratégia após enfrentar derrotas significativas na Casa Alta, em parte causadas pela presença de suplentes sem vínculo firme com o governo. O senador Humberto Costa (PT-PE), responsável pelo mapeamento das chapas estaduais, revelou que o partido faz agora um pente-fino nos estados, analisando não apenas os candidatos titulares, mas também seus suplentes.

Entre os casos emblemáticos, estão Margareth Buzetti (PSD-MT), que obrigou o ministro Carlos Fávaro a reassumir o mandato para garantir votos, e Ana Paula Lobato (PDT-MA), vista como politicamente inexpressiva. A falta de capacidade de articulação e de alinhamento ideológico virou um problema prático para o governo Lula, que tenta evitar erros semelhantes em 2026.

Nesse cenário, o nome de Irajá Abreu ganha força como uma solução política: já está no cargo, tem experiência, é da base e, ao que tudo indica, conta com a confiança do núcleo político do governo federal, além do apoio vocal de sua mãe, Kátia Abreu.

O desafio do PT, agora, é resolver sua própria ausência no Tocantins e decidir se apoiará uma candidatura de fora do partido, mas que pode garantir um voto seguro no Senado. A equação ainda depende de movimentos nacionais do PSD e de costuras regionais que devem se intensificar a partir do segundo semestre.