Por João Reynol


A violência praticada contra jornalistas dentro da Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 9, não foi um episódio isolado. Pelo contrário: simboliza um projeto de poder da extrema-direita que busca restringir a transparência, intimidar a imprensa e cegar a sociedade diante dos abusos cometidos no país.

Durante a sessão, parlamentares de centro-esquerda e esquerda ocuparam a Mesa Diretora em protesto contra a tentativa de cassação do deputado Glauber Braga (Psol), acusado por bolsonaristas após reagir a provocações de um militante aliado da extrema-direita. Em resposta, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos), acionou a Polícia Legislativa para retirar Glauber à força — e, de maneira igualmente violenta, expulsou do Plenário jornalistas que registravam a cena. O episódio ainda teve a interrupção do sinal da TV Câmara, em clara afronta ao direito à informação.

O contraste com o tratamento dado à extrema-direita em agosto de 2025 é gritante. Naquele mês, deputados bolsonaristas protagonizaram um motim de 45 horas, invadiram o espaço da presidência da Câmara, impediram a circulação de parlamentares — incluindo um que se algemou à cadeira de Hugo Motta — e promoveram empurrões e tumultos. O objetivo era pressionar pela anistia a Jair Bolsonaro, que estava, até então, em prisão domiciliar, e forçar a votação do fim do foro privilegiado.

Apesar da gravidade, apenas três deputados — Marcel Van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS) e Zé Trovão (PL-SC) — podem ser punidos, e mesmo assim com suspensão temporária. Quatro meses depois, o processo ainda está nas oitivas e corre risco de ser prorrogado por 90 dias. Outros 11 deputados envolvidos podem receber apenas uma advertência escrita — um gesto que, na prática, “passa pano” para o motim.

Quando a ação parte da minoria parlamentar à esquerda, porém, o martelo desce com força. A reação desproporcional de Hugo Motta e o uso da força contra a imprensa reforçam as acusações feitas por Lindbergh Farias (PT) sobre crime de responsabilidade. Não se trata de exagero retórico: o episódio expõe uma escalada autoritária que combina abuso de poder, asfixia da imprensa e tentativa de controlar a narrativa política pela coerção.

O ataque a jornalistas dentro do Parlamento — o espaço que deveria ser o coração da democracia brasileira — revela a gravidade do momento. E sinaliza um projeto em curso: calar quem fiscaliza, punir com rigor quem denuncia e proteger quem tumultua em defesa de interesses autoritários.