Campanha anual sobre prevenção do suicídio precisa ir além de datas simbólicas para realmente ajudar

26 setembro 2025 às 16h29

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Todos os anos, o mês de setembro se colore de amarelo em nome da prevenção do suicídio. Cartazes, posts e campanhas dominam as redes e espaços públicos. No entanto, apesar da visibilidade, é legítimo questionar se essa ação realmente ajuda quem precisa.
A meu ver, o setembro amarelo é uma iniciativa pontual que muitas vezes não oferece suporte real. A exposição midiática e simbólica da campanha pode até engatilhar pessoas em sofrimento que não têm acompanhamento adequado ou acesso a profissionais preparados. Informações superficiais e mensagens genéricas não substituem atendimento psicológico qualificado.
Os dados mais recentes do Tocantins ilustram essa necessidade de atenção contínua. Em 2024, os suicídios no estado caíram 10% em relação ao ano anterior — de 181 para 163 casos. Por outro lado, a violência autoprovocada apresentou aumento de cerca de 3%, passando de 1.689 para 1.737 notificações. Esses números mostram que, mesmo com quedas em alguns índices, os desafios relacionados à saúde mental permanecem elevados.
O estado conta com uma Rede de Atenção Psicossocial que inclui leitos psiquiátricos em hospitais e 21 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) distribuídos por municípios. No entanto, mesmo com essa estrutura, a discussão sobre prevenção do suicídio tende a se concentrar em datas específicas, quando deveria ser constante ao longo do ano.
Outro ponto preocupante é que a campanha não ensina efetivamente a população a lidar com o tema. Amigos, familiares e colegas de trabalho são incentivados a observar sinais sem orientação prática de como agir, resultando em conscientização limitada e potencialmente perigosa.
A prevenção do suicídio exige políticas contínuas de saúde mental, investimento em profissionais qualificados, acesso a psicólogos e psiquiatras, acompanhamento constante e educação permanente para lidar com sofrimento emocional. Somente a informação isolada, distribuída uma vez por ano, não basta.
Portanto, o setembro amarelo precisa ir além do simbolismo: deve se traduzir em ação concreta, cuidado constante e preparo real de quem está à volta de pessoas vulneráveis. Até lá, é legítimo questionar se a campanha está realmente salvando vidas ou apenas colorindo o mês de amarelo.