A direita, ainda capitaneada por Jair Bolsonaro (PL), deu neste domingo, 3, nova demonstração de força. As manifestações não ‘floparam’; foram atendidas por muitos entusiastas do ex-presidente e oponentes do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Entretanto, a presença na rua pode enganar. Pesquisa Datafolha publicada neste domingo revelou que 61% dos brasileiros não votariam em um candidato que prometesse librar Bolsonaro de qualquer punição, bem como seus aliados que tramaram contra a democracia e condenados pelo 8 de janeiro. 

Em discursos sobre o carro de som na Praça Tamandaré, em Goiânia, políticos bolsonaristas ecoaram as sanções americanas contra o ministro do Supremo. A retórica se vale de certa ingenuidade: a tese de que as tarifas econômicas foram trocadas por uma sanção ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — uma sanção coletiva em troca de uma sanção individual —, tudo em prol de Bolsonaro. Isso faria do Brasil o único país sancionado por razões não-comerciais. Além disso, ao pregar ruptura de relações comerciais com os EUA e acirramento da hostilidade entre Legislativo e Judiciário, a direita acaba por empurrar o centro moderado para Lula. 

Esse centro moderado é formado pelo brasileiro comum, que quer garantir sua subsistência antes de garantir a sobrevivência política de Lula, Bolsonaro ou Alexandre de Moraes. Esse cidadão sente a economia piorar e intui, com razão, que as notícias de tarifaços e sanções e paralisações do Legislativo em prol da liberdade de políticos condenados — tudo isso só pode significar piora de sua vida prática. 

Essa pessoa comum também não se sente segura com Lula, que adotou na imprensa internacional tom hostil: o título da entrevista estampada na capa do New York Times da última quarta-feira, 30, era “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. Não por acaso, neste domingo, a Datafolha revelou que 67% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro deveria desistir da eleição; 54% pensam o mesmo sobre Lula. O campo está aberto para o surgimento de uma figura conciliadora.