Somente o sepultamento da anistia será capaz de pacificar o Brasil. Não há outro caminho. E sepultar o projeto de lei, diga-se de passagem, não é deixar de debatê-lo. Pelo contrário. Isso só abafaria a questão, jogaria a sujeira para debaixo do tapete.

No Congresso, a pauta já se move com pressa. Fora dos plenários a reação é clara como a luz do dia. Pesquisas mostram que a maioria da população rejeita a medida. É uma prova de que sociedade enxerga no perdão um risco maior do que um remédio. Não é detalhe: é sintoma de que o brasileiro, em sua maioria, quer justiça, não esquecimento.

A condenação de Jair Bolsonaro já deu sinais de que a polarização pode ter perdido intensidade. Ainda que haja quem veja riscos de agravament, a aplicação da lei demonstrou que a democracia não é refém da força, do barulho e nem da violência. E isso, mais do que qualquer perdão, aproxima o país de uma pacificação real.

E destaca-se: o furor que agora emana da população em decorrência da aprovação da PEC da Blindagem, tanto da esquerda quanto da direita, mostra que o brasileiro está cansado de impunidade. Há que se ter e usar a lei.

Não à toa já surgem políticos que, antes defensores implacáveis da anistia, agora falam em “dosimetria”. A da vez agora é não perdoar, mas condenar com penas reduzidas. Em suma: até eles já sabem que do cansaço da população em relação ao tema. Simplesmente não há clima.

Enterrar a anistia não é gesto de vingança, mas afirmação de racionalidade (e senso de justiça) política. Só a punição proporcional aos crimes do 8 de janeiro e apenas ela pode restaurar a confiança coletiva e marcar o limite: na democracia, não tem espaço para tentativa de golpe.

A extinção da possibilidade de anistiar os criminosos do 8 de janeiro será o marco zero da democracia contemporânea. Não é apenas uma decisão legislativa. É definir que história o país quer contar sobre si mesmo: a de uma democracia capaz de se proteger ou a de um sistema disposto a relativizar sua própria sobrevivência.