Advogados, médico e engenheiro são alvo de nova operação sobre fraudes do Césio-137 que investiga militares do Tocantins e Goiás
30 outubro 2025 às 10h38

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A Polícia Civil de Goiás deflagrou, nesta quinta-feira, 30, uma nova fase da operação que investiga fraudes milionárias relacionadas ao chamado “Golpe do Césio-137”. De acordo com a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), foram cumpridos cinco mandados de prisão temporária e sete de busca e apreensão na Região Metropolitana de Goiânia.
Os alvos desta etapa são advogados, um médico e um engenheiro suspeitos de falsificar documentos e laudos médicos para obter benefícios fiscais e previdenciários com base em suposta exposição ao material radioativo do acidente ocorrido em 1987. O prejuízo estimado chega a R$ 79 milhões.
Segundo a Polícia Civil, o grupo ingressava com ações judiciais pedindo isenção de imposto de renda sob alegação de contaminação pelo Césio-137 — o mesmo argumento usado por militares e servidores do Tocantins em fraudes semelhantes já noticiadas pelo Jornal Opção Tocantins.
Em 2024, o jornal revelou que a Procuradoria-Geral do Estado de Goiás (PGE-GO) identificou a participação de militares de Goiás e do Tocantins no esquema e que, no Tocantins, o governo não havia adotado medidas para reaver valores pagos indevidamente. No mesmo período, o Jornal Opção Tocantins mostrou que o Instituto de Gestão Previdenciária do Tocantins (Igeprev) admitiu não ter aberto processos de restituição, alegando que a restituição do imposto é de competência da Receita Federal.
No mês passado, em 14 de outubro de 2025, o Jornal Opção Tocantins noticiou com exclusividade que o Ministério Público do Tocantins (MPTO) instaurou um inquérito civil para apurar o envolvimento de oficiais da reserva — incluindo ex-comandantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros — na obtenção irregular de isenções tributárias e previdenciárias com base em laudos falsos de contaminação por Césio-137.
Entre os investigados estão os ex-coronéis Admivair Silva Borges (ex-comandante-geral do Corpo de Bombeiros), Marielton Francisco dos Santos e José Tavares de Oliveira (ex-comandantes-gerais da PM), José Anísio Pereira Braga (ex-corregedor-geral da PM) e Edivan Ribeiro de Souza (ex-comandante da 1ª Companhia Independente da PM e ex-corregedor-geral do Detran).
O levantamento do jornal indicou que, considerando as aposentadorias desses oficiais, que ultrapassam R$ 41 mil mensais, os valores recebidos indevidamente podem ter superado R$ 5 milhões até outubro de 2024, com restituições retroativas desde 2010.
A portaria de instauração do inquérito, assinada em 10 de outubro de 2025 pelo promotor Rodrigo Grisi Nunes, da 22ª Promotoria de Justiça de Palmas, busca identificar o dano ao erário estadual e responsabilizar os beneficiários e eventuais servidores que tenham atuado na concessão das isenções. O MPTO requisitou informações à PGE, ao Igeprev, à PM e ao Corpo de Bombeiros sobre valores pagos, lista de beneficiários e eventuais sindicâncias internas.
O acidente com o Césio-137, ocorrido em setembro de 1987, em Goiânia, é considerado o maior desastre radiológico da história do país. As isenções de imposto de renda são destinadas exclusivamente às vítimas diretas, tornando o suposto esquema de fraudes especialmente grave do ponto de vista moral e jurídico.
