Aos 37 anos, mesmo com instabilidade política, Tocantins vive “boom” econômico que dava pra ser ainda maior

03 outubro 2025 às 17h19

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Aos 37 anos, o Tocantins se consolidou como uma das economias que mais avançaram no Brasil nas últimas duas décadas, mesmo que a instabilidade política, com sucessivos afastamentos e cassações de governadores, ainda limite o pleno aproveitamento de seu potencial. Entre 2003 e 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do estado cresceu, em média, 4,8% ao ano — mais que o dobro da média nacional, que foi de 2,1%, e empatando com Mato Grosso na liderança, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O desempenho foi impulsionado principalmente pelo agronegócio, que registrou média anual de crescimento de 8,8%, acima de Mato Grosso, tradicional potência do setor, com 7,5%. Indústria e serviços também contribuíram para o avanço, com médias de 4,6% e 3,3% ao ano, respectivamente. Estes números consolidam o Tocantins como uma das economias mais dinâmicas do país neste século.
Para o economista Higor Franco, o Tocantins é um estado com potencial ainda pouco explorado. “O Tocantins é um estado muito promissor, um estado rico, com municípios que podem gerar processos de dividendos econômicos muito satisfatórios. Basta ser explorado, basta ter política pública de qualidade e, além do mais, contínua”, afirma.
Franco ressalta que a extensão geográfica do estado favorece a produção agropecuária, a indústria e o turismo. “O Tocantins tem terras férteis, riquezas diferenciadas em todos os sentidos e isso pode ser um fator de benevolência para o estado, trazendo investidores, produtores e indústrias”, explica. Segundo ele, o turismo também é forte e representa uma oportunidade de diversificação econômica que ainda pode ser mais explorada.
O agronegócio, segundo o economista, continua sendo o principal impulsionador do crescimento. “O Brasil tem uma extensão muito favorável para o agronegócio, e o Tocantins não é diferente. Tem terras férteis para lavoura — soja, arroz, milho, algodão, gergelim —, e a agropecuária também é muito forte, com confinamentos e grandes pastagens. Além disso, a piscicultura vem crescendo e gerando resultados positivos”, detalha.
Política instável
Apesar do crescimento econômico, o Tocantins enfrenta desafios estruturais ligados à política. Desde 2006, nenhum governador eleito conseguiu concluir um mandato de quatro anos, e o estado teve sete chefes do Executivo diferentes nos últimos 16 anos — praticamente um a cada dois anos. “A instabilidade de governança acaba trazendo desconfiança por parte de empresários, indústria e agronegócio, e retém crescimento”, afirma Franco.
O ciclo de instabilidade começou em 2009, com a cassação de Marcelo Miranda pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sucedido por Carlos Gaguim. Em 2014, Siqueira Campos renunciou, abrindo espaço para o vice João Oliveira, que também deixou o cargo, e Sandoval Cardoso assumiu. O ciclo se repetiu em 2018, com nova cassação de Marcelo Miranda, e em 2021, quando Mauro Carlesse foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mais recentemente, em 2025, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) também foi afastado no âmbito da Operação Fames–19.
Para Higor Franco, a instabilidade política impacta diretamente a economia. “Quando não se tem políticas públicas de qualidade, ou quando elas são interrompidas, o Tocantins perde credibilidade e confiabilidade, o que retraí investidores e limita o crescimento”, explica. Segundo ele, a continuidade das políticas públicas é fundamental para atrair novos investimentos, aumentar exportações e fortalecer o mercado interno.
Soluções
Franco destaca ainda que o estado possui potencial para gerar emprego, renda e arrecadação. “Políticas públicas consistentes podem reduzir custos do Estado e aumentar investimentos. Quando há planejamento bem feito e execução de qualidade, resultados positivos aparecem, e a economia flui com mais sustentabilidade. Por outro lado, execução falha prejudica a visibilidade do Tocantins no mercado interno e internacional”, explica.
O economista reforça a importância de políticas públicas que incentivem a iniciativa privada, equilibrando interesses e fortalecendo a economia local. “Nenhuma das duas — iniciativa privada ou pública — pode assumir sozinha o desenvolvimento econômico. É necessário que haja incentivos fiscais, linhas de crédito, políticas de médio e longo prazo, geração de empregos e oportunidades para a população socioeconomicamente ativa”, afirma.
Além disso, Franco destaca que a relação com mercados externos e interestaduais é crucial para a estabilidade econômica. “O Tocantins precisa trabalhar melhor sua estrutura de relações com outros estados e países. Isso gera confiabilidade, negociação e credibilidade mercadológica”, pontua.
O economista observa que, quando o Tocantins consegue criar um ciclo virtuoso — redução de custos, aumento de investimentos, geração de emprego e renda —, o crescimento econômico se torna mais sustentável. “Quanto menor o custo do Estado, maiores os investimentos; quanto maiores os investimentos, maior a rentabilidade econômica; e quanto maior a rentabilidade, maior a geração de empregos, consumo e produção. É um ciclo que depende de planejamento, execução e equilíbrio entre setor público e privado”, conclui.
Apesar das dificuldades políticas, Higor Franco acredita que o Tocantins tem potencial para se consolidar como uma economia sólida, capaz de gerar crescimento sustentável e melhorar a qualidade de vida da população. “Se houver estabilidade política, políticas públicas contínuas e incentivos adequados, o Tocantins pode aumentar exportações, atrair novas indústrias e consolidar um ciclo econômico positivo, colocando o estado em um patamar diferenciado de credibilidade, visibilidade interestadual e internacional”, finaliza.