Baixa cobertura de mamografias pelo SUS coloca Tocantins entre os estados com piores índices de rastreamento do câncer de mama em 2025
04 novembro 2025 às 08h37

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O Tocantins figura entre os estados com menor cobertura de mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 2025. Segundo levantamento da startup de dados Lifeshub, com base em informações do Sistema de Informações do Câncer (Siscan) e do IBGE, apenas 8% das mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária recomendada para o rastreamento do câncer de mama, realizaram o exame entre janeiro e agosto deste ano.
O índice está muito abaixo da meta ideal de 100% e da média nacional, que chegou a 20% no mesmo período. Em 2024, o percentual havia sido de 37%. Roraima (5%) e Pará (9%) completam a lista dos estados com piores resultados da região Norte.
De acordo com Wallace Casaca, pesquisador da Unesp e integrante da análise, o indicador compara o número de mamografias feitas com metade da população feminina na faixa etária recomendada, já que o exame deve ser realizado a cada dois anos. “Se o SUS conseguisse atingir 100% desse público ou algo próximo disso, teríamos uma cobertura adequada dentro do intervalo ideal”, explicou.
O levantamento revela ainda que, embora o Brasil conte com 3.305 mamógrafos em funcionamento, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), a oferta de exames não é suficiente para cobrir a demanda. Em 2024, o SUS realizou 3,9 milhões de mamografias, mas a disparidade regional permanece: enquanto Sul e Sudeste alcançaram mais de 50% de cobertura, o Norte e parte do Nordeste ficaram abaixo de 30%.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres e o que mais causa mortes no país. A estimativa é de que 73,6 mil novos casos sejam diagnosticados entre 2023 e 2025. O órgão alerta que cerca de 40% dos diagnósticos entre 2018 e 2022 ocorreram em estágios avançados ou metastáticos, situação que reduz as chances de cura.
Para a mastologista Maira Caleffi, fundadora da Femama, a baixa cobertura pode estar associada à dificuldade de acesso, horários de atendimento limitados, falta de campanhas ativas e barreiras culturais. “É necessário um programa estruturado, com busca ativa e integração digital, que convoque as mulheres e garanta o acompanhamento dos resultados”, defende.
A presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Angélica Nogueira, reforça que o Brasil ainda adota um modelo passivo de rastreamento, em que cabe à mulher procurar o exame. “A ausência de um sistema que monitore os intervalos e emita alertas, somada às desigualdades regionais, impede o país de atingir as metas internacionais”, avalia.
Em resposta, o Ministério da Saúde anunciou em setembro a ampliação do público-alvo para exames preventivos. Mulheres de 40 a 49 anos poderão realizar a mamografia pelo SUS mesmo sem sintomas, e a faixa etária de rastreamento foi estendida até os 74 anos, antes, o limite era 69.
