Chácara usada por Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero citada pela PF fica próxima à área em disputa entre Tocantins e Goiás
12 novembro 2025 às 17h56

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A Polícia Federal descreve, em relatório juntado aos autos da Operação Nêmesis, uma chácara situada no povoado Campo Alegre, zona rural de Paranã (TO), como um dos imóveis utilizados pelo governador afastado Wanderlei Barbosa (Republicanos) e pela primeira-dama Karynne Sotero Campos. A propriedade está registrada em nome de Mauro Henrique da Silva Xavier Rodrigues, identificado pelos investigadores como pessoa próxima ao casal. Mauro também é alvo da operação.
Embora não tenha sido alvo desta nova fase da Operação Nêmesis, deflagrada nesta quarta-feira, 12, para apurar tentativas de obstrução das investigações, o imóvel continua sob atenção da PF por conta de indícios de ocultação de patrimônio e uso de terceiros em nomeação de bens.
Segundo o relatório, a equipe policial esteve no local em setembro, durante cumprimento de mandado na segunda fase da Operação Fames-19. O documento relata que o caseiro, Adeilson Neres de Farias, afirmou trabalhar para “Mauro”, mas apresentou “inconsistências significativas” ao descrever a relação com o verdadeiro proprietário. No interior da casa, os agentes encontraram fotografias pessoais, roupas e um quadro de grande porte com a imagem de Wanderlei e Karynne, exposto na sala principal — elementos que, segundo a PF, comprovam o uso direto da residência pelo casal.
A construção, de acordo com depoimentos colhidos, foi erguida recentemente, após a suposta compra do terreno em 2024.


Região em litígio
O povoado Campo Alegre está situado nas imediações de uma área de fronteira entre Tocantins e Goiás, que é objeto de disputa territorial em ação cível originária (ACO) no Supremo Tribunal Federal (STF) impetrada na última semana.
O governo goiano alega que o Tocantins avançou sobre cerca de 12,9 mil hectares ao norte de Cavalcante (GO), englobando parte do Quilombo Kalunga dos Morros e do Complexo do Canjica, regiões de interesse ambiental e turístico. Em janeiro, o Tocantins instalou um portal turístico no local, o que levou Goiás a acionar o STF para que o equipamento fosse removido.

Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que a indefinição de limites fundiários dificulta a rastreabilidade de propriedades e o controle de registros imobiliários, o que pode impactar diretamente o mapeamento patrimonial de agentes públicos investigados.
Em nota na semana passada, o Governo do Tocantins informou que ainda não foi citado oficialmente na ação que tramita no STF, mas determinou à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a órgãos técnicos a realização de um levantamento geográfico detalhado da região para subsidiar sua defesa. Na ocasião, o governador não quis comentar o caso.


Outros bens em nome de Mauro
Além do imóvel rural, Mauro Henrique é também o proprietário formal de uma picape RAM Rampage, que foi encontrada na residência da Quadra 603 Sul, em Palmas, endereço ligado à mãe de Karynne Sotero, primeira-dama do Tocantins. De acordo com a PF, o veículo é “sabidamente utilizado” por Rerison Antônio Castro Leite, filho do governador afastado.
Para a PF, a propriedade formal do carro, somada ao uso direto por familiares de Wanderlei Barbosa, reforça a suspeita de que Mauro atuava como testa de ferro na tentativa de ocultar a origem e a titularidade de bens vinculados ao núcleo familiar do governador.
Atos de obstrução
O relatório também detalha que Mauro Henrique foi identificado por meio do Laudo de Revisão Facial n. 141/2025 durante o esvaziamento da residência da Quadra 603 Sul, onde foram observadas ações de retirada de caixas, bolsas e mochilas após o cumprimento da primeira fase da Operação Fames-19.
Segundo a PF, ele acompanhava e auxiliava no transporte dos objetos, o que é interpretado como ato material de embaraço às investigações.
A autoridade policial ressalta que Mauro mantinha contato direto com o governador Wanderlei Barbosa, o que, segundo o relatório, “ratifica a existência de uma relação de confiança” entre ambos.
Operações Fames-19 e Nêmesis
Deflagrada em setembro, a Operação Fames-19 investiga supostos desvios de recursos públicos e fraudes em contratos firmados durante a gestão de Wanderlei Barbosa. O processo tramita sob supervisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou o afastamento do governador por tempo por seis meses em setembro deste ano.
O novo desdobramento, batizado de Operação Nêmesis, apura tentativas de embaraço às investigações, incluindo ocultação de bens, destruição de provas e reconfiguração de dispositivos eletrônicos.
O que dizem os citados
Wanderlei Barbosa
O Governador Wanderlei Barbosa recebeu com estranheza mais uma operação da Polícia Federal ao mesmo tempo que aumenta a expectativa pelo julgamento do Habeas Corpus que pode devolvê-lo ao cargo.
Ao mesmo tempo reitera a sua disponibilidade para colaborar com as investigações e mantém a sua confiança na justiça e nas instituições.
Karynne Sotero
A primeira-dama Karynne Sotero repele as acusações infundadas de tentativa de embaraço às investigações feitas de forma anônima à Justiça.
Também lamenta a tentativa de intimidação contra seus familiares, inclusive a sua mãe, uma senhora de mais de 75 anos que acabou passando mal e tendo que ser hospitalizada.
Por fim, reitera a sua inteira disposição de colaborar com a Justiça para o esclarecimento dos fatos.
A reportagem tenta contato com Mauro.
