Fazenda de Wanderlei Barbosa em Aparecida do Rio Negro teria sido beneficiada com recursos desviados de contratos de cestas básicas

03 setembro 2025 às 15h59

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A Fazenda Santa Helena, localizada em Aparecida do Rio Negro e pertencente ao governador afastado Wanderlei Barbosa, foi mencionada no inquérito da Operação Fames-19 como uma das propriedades beneficiadas com insumos adquiridos em meio ao esquema investigado pela Polícia Federal. Segundo os documentos que o Jornal Opção Tocantins teve acesso, a empresa Nativa Mineração Ltda forneceu insumos destinados à fazenda.
Segundo o documento, o pagamento desses materiais foi feito por meio de operação registrada no Banco da Amazônia (nº 183-21/0021-8), em nome de Matheus Macedo Mota, apontado como operador financeiro. O relatório da autoridade policial destaca que as datas de processamento, vencimento e quitação, bem como os valores, coincidem com os apresentados nas prestações de contas do financiamento rural obtido junto ao banco.
De acordo com a investigação, essa movimentação pode indicar desvio de finalidade do crédito concedido, já que o pagamento do insumo deveria ter sido realizado com os recursos do financiamento. A prática foi classificada pela Polícia Federal como indício de crime contra o sistema financeiro, além de lavagem de dinheiro.
Os documentos também registram que parte dos valores movimentados em espécie teria sido apresentada como se fosse destinada a despesas da Fazenda Santa Helena, funcionando como justificativa formal para recursos de origem ilícita. A análise feita pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal aponta que a propriedade aparece como elo de sustentação do esquema de lavagem, uma vez que os pagamentos vinculados ao financiamento rural foram usados para encobrir operações em dinheiro vivo que beneficiavam diretamente o governador afastado.

O documento judicial acrescenta que “Wanderlei Barbosa Castro não apenas desviou recursos públicos oriundos de contratos de fornecimento de cestas básicas durante o exercício de seu mandato, como também se valeu de empresários, servidores, assessores próximos e familiares, notadamente de seus filhos, para a ocultação e dissimulação do patrimônio ilicitamente auferido”. Ainda segundo a decisão, parte desses valores foi canalizada para a construção de um empreendimento de luxo na Serra de Taquaruçu, em Palmas.
Operação Fames-19
A segunda fase da Operação Fames-19, foi deflagrada nesta quarta-feira, 3, levou ao afastamento do governador Wanderlei Barbosa e da primeira-dama Karynne Sotero, ambos por seis meses. A decisão foi do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A operação investiga o suposto desvio de recursos destinados à compra de cestas básicas durante a pandemia da Covid-19. Nesta etapa, a Polícia Federal cumpriu 51 ordens judiciais, entre mandados de busca e apreensão e medidas cautelares, em locais como o Palácio Araguaia, sede do governo estadual, e a Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto).
O que diz o governador:
Recebo a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com respeito às instituições, mas registro que se trata de medida precipitada, adotada quando as apurações da Operação Fames-19 ainda estão em andamento, sem conclusão definitiva sobre qualquer responsabilidade da minha parte. É importante ressaltar que o pagamento das cestas básicas, objeto da investigação, ocorreu entre 2020 e 2021, ainda na gestão anterior, quando eu exercia o cargo de vice-governador e não era ordenador de despesa.
Reforço que, por minha determinação, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Controladoria-Geral do Estado (CGE) instauraram auditoria sobre os contratos mencionados e encaminharam integralmente as informações às autoridades competentes.
Além dessa providência já em curso, acionarei os meios jurídicos necessários para reassumir o cargo de Governador do Tocantins, comprovar a legalidade dos meus atos e enfrentar essa injustiça, assegurando a estabilidade do Estado e a continuidade dos serviços à população.
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