Hospitais particulares ameaçam suspender atendimentos eletivos aos usuários do Servir; dívida já se arrasta desde 2024
03 dezembro 2025 às 13h34

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O sistema de saúde conveniado ao Governo do Tocantins voltou a entrar em alerta após o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Tocantins (SINDESTO) divulgar, nesta quarta-feira, 3, uma carta aberta à população anunciando a suspensão dos atendimentos eletivos a partir de 9 de dezembro, caso o Estado não regularize os pagamentos em atraso. Segundo a entidade, clínicas e hospitais estão há meses sem receber pelos serviços prestados ao Plano Servir e ao SUS.
Na carta, os prestadores afirmam que ainda aguardam o repasse da competência de junho de 2025 do Servir e que há valores do convênio SUS referentes a 2024 que permanecem em aberto. O sindicato relata que já enviou ofícios, buscou diálogo e se colocou à disposição do governo, mas não obteve respostas concretas. “Chegamos a um ponto insustentável”, diz o documento, ao afirmar que muitos estabelecimentos já não conseguem manter salários, insumos e fornecedores.
A possibilidade de paralisação reacende um problema que vem se acumulando ao longo de todo o ano. Em outubro, o próprio governo admitiu que o Servir atravessa uma situação financeira crítica, operando com um déficit mensal de cerca de R$ 30 milhões. Na época, a Secretaria da Administração (Secad) informou que apenas a fatura de junho havia sido quitada e que os demais pagamentos “aguardavam previsão orçamentária”. A gestão atribuiu o desequilíbrio a passivos herdados de anos anteriores e afirmou estar realizando um processo de reorganização administrativa.
Em novembro, diante da crescente insatisfação dos prestadores e da reação dos servidores estaduais, que passaram a questionar nas redes sociais para onde vai o dinheiro descontado todo mês de seus contracheques, a Secad informou que havia quitado as competências de maio e junho e iniciado o pagamento de julho. No entanto, a pasta não apresentou um cronograma para a regularização das competências seguintes — agosto, setembro e outubro — e tampouco mencionou os atendimentos de novembro, já encerrados pelas unidades.
Enquanto isso, o clima de desconfiança cresceu entre os beneficiários do plano. Comentários publicados por servidores reclamavam da falta de transparência e do aumento dos custos do atendimento particular devido à instabilidade da rede credenciada. Alguns também pediram a suspensão das cobranças em folha enquanto o serviço permanece irregular.
A nova carta do SINDESTO, divulgada hoje, indica que a crise se aprofundou. O sindicato afirma que a rede conveniada “não quer parar”, mas que o trabalho já realizado precisa ser remunerado. Caso contrário, a partir do dia 9 de dezembro, todos os atendimentos eletivos do Servir e do SUS serão interrompidos nas unidades que aderirem ao movimento.
A suspensão afetaria diretamente milhares de servidores públicos estaduais, dependentes do plano, além da população atendida pelo SUS em clínicas e hospitais conveniados.
O Jornal Opção Tocantins questionou a Secad sobre o valor total das pendências com o Servir e o SUS; a previsão de pagamento das competências ainda não quitadas; o motivo pelo qual junho aparecia como pago em novembro, mas continua em aberto segundo os prestadores; se há um plano de contingência para evitar a suspensão dos atendimentos; e se será divulgado um cronograma transparente de regularização. A reportagem aguarda resposta.
Confira a nota na íntegra:
Esta é uma carta aberta à sociedade tocantinense — em especial a você, usuário SUS e beneficiário SERVIR
Os hospitais, clínicas e serviços de saúde do Tocantins, têm se mantido firmes no compromisso de cuidar da população, mesmo diante de uma realidade extremamente desafiadora: a ausência de repasses por parte do Estado pelos serviços que já foram prestados. Aguardamos repasses do SERVIR dos atendimentos realizados ainda no mês de junho/2025, enquanto do convênio SUS, temos valores em aberto de atendimentos de 2024 não repassados.
Temos buscado o diálogo. Enviamos ofícios, propusemos alternativas e nos colocamos à disposição para juntos encontrar soluções. Mas, infelizmente, não temos tido respostas concretas nem ações resolutivas da gestão pública que nos permitam continuar.
Chegamos a um ponto insustentável. Sem recursos, sem retorno, sem previsão. Não há mais como manter salários, insumos, fornecedores, e nem garantir a dignidade dos profissionais da saúde.
Por isso, comunicamos que, caso os pagamentos não sejam regularizados até o dia 8 de dezembro, a partir do dia 9 todos os atendimentos eletivos dos serviços conveniados ao SERVIR e ao SUS serão suspensos nos estabelecimentos.
Não queremos parar. Queremos apenas o que é justo: receber por um trabalho já realizado, com dedicação e humanidade.
A você, beneficiário do SERVIR, usuário do SUS, pedimos compreensão. E mais que isso: que nos ajude a levar essa mensagem adiante.
A saúde não pode esperar. E o cuidado com você também não.
SINDESTO – Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Tocantins
