Um ponto que chama atenção nas investigações da Operação Nêmesis que apura embaraço na Fames-19 é a presença de ex-integrantes e aliados do grupo político de Wanderlei Barbosa (Republicanos) em cargos estratégicos do atual governo de Laurez Moreira (PSD).

Mesmo após o afastamento de Wanderlei, em 3 de setembro deste ano, por suspeita de desvios de recursos de cestas básicas durante a pandemia de covid-19, nomes ligados a seu núcleo de confiança — e ao ex-secretário Thomas Jefferson Gonçalves Teixeira, apontado como articulador do embaraço — mantiveram influência e posições-chave na nova gestão.

As citações a esses nomes surgem em denúncia anônima recebida pela Polícia Federal em 13 de outubro de 2025, anexada aos autos da Operação Nêmesis e posteriormente encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O documento detalha a atuação e a influência de ex-integrantes da gestão de Wanderlei Barbosa sobre decisões e nomeações do governo de Laurez Moreira, apontando indícios de continuidade do mesmo grupo político-administrativo que já era investigado.

O caso mais emblemático é o de Odilon Coelho Lima Júnior, que atuava como assessor no governo de Wanderlei e, com a chegada de Laurez ao Palácio Araguaia, foi alçado ao comando da Secretaria de Participações e Investimentos (SPI) — pasta antes ocupada por Thomas Jefferson.

De acordo com documentos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Odilon é apontado por servidores e terceiros como lobista, indicado diretamente por Thomas Jefferson e por Carlos Humberto Lima e Silva (Beto Lima).

O relatório destaca ainda que Odilon é primo do governador afastado Wanderlei Barbosa, por parte de pai, e que antes de assumir a SPI atuava como assessor na Secretaria de Indústria e Comércio, ao lado de Beto Lima, onde supostamente analisava e autorizava pagamentos de alto valor — muitos deles ligados a contratos vinculados ao grupo de Thomas Jefferson.

Segundo o mesmo documento, sua nomeação para a SPI representou a continuidade da influência política e administrativa de Thomas Jefferson dentro do governo, supostamente garantindo a manutenção da rede de benefícios e controle financeiro.

Já Beto Lima, secretário de Indústria e Comércio, é descrito pela PF como amigo pessoal e colaborador direto de Thomas Jefferson. O mesmo relatório do STJ revela que servidores da pasta comandada por Beto informaram à Polícia Federal que, após o afastamento de Wanderlei Barbosa, um representante de empresa que prestou serviços durante a Agrotins afirmou publicamente ter pago R$ 300 mil em propina ao ex-secretário Thomas Jefferson, e que ainda aguardava o pagamento devido pelo Estado.

Beto Lima, ainda conforme a denúncia anônima, integraria o comitê gestor do Governo, responsável por definir pagamentos do Estado, e, segundo a investigação, foi mantido no cargo justamente para garantir a continuidade das operações e dos desvios iniciados na gestão anterior. No entanto, conforme o Diário Oficial, a Secretaria de Comércio e Serviços não integra o grupo e sim o Conselho de Desenvolvimento Econômico, responsável por administrar de programas de benefícios fiscais e outros projetos no Tocantins.

As apurações indicam que Thomas Jefferson, mesmo após deixar o cargo e se tornar alvo da operação Nêmesis nesta quarta-feira manteve influência sobre decisões e nomeações do governo sucessor. Ele é suspeito de vazar informações sigilosas e de orientar aliados a obstruírem as buscas da PF, com o apoio de pessoas próximas ainda inseridas na estrutura estatal.

O Jornal Opção Tocantins questionou o governo do Estado sobre os dois citados e aguarda retorno. A reportagem também tenta contato com a defesa de ambos.

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