Comprar alimentos saudáveis em Palmas é um desafio para boa parte da população. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, divulgados nesta semana, a capital do Tocantins ocupa a quinta posição entre as cidades brasileiras com maior percentual de moradores vivendo em desertos alimentares — áreas onde há baixa oferta e disponibilidade de frutas, verduras e outros produtos in natura.

O levantamento mostra que 38,8% dos palmenses, o equivalente a aproximadamente 114,6 mil pessoas, vivem em regiões da cidade onde alimentos saudáveis são raridade. Essa realidade coloca Palmas atrás apenas de Manaus (52,5%), Belém (47,2%), Rio de Janeiro (45,3%) e São Luís (42,3%).

Embora o dado preocupe, a cidade apresenta uma situação menos grave quando o assunto são os chamados pântanos alimentares — locais onde predominam alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, refrigerantes, biscoitos recheados e fast food. Em Palmas, 7,4% da população (cerca de 21,8 mil pessoas) estão expostas prioritariamente a esse tipo de oferta alimentar.

Desigualdade social

Especialistas apontam que os desertos alimentares estão profundamente ligados à vulnerabilidade socioeconômica. “É comum que bairros mais periféricos, onde o poder aquisitivo é menor, concentrem estabelecimentos que vendem apenas produtos ultraprocessados ou alimentos de baixo valor nutricional. A falta de frutas, verduras e legumes no entorno das casas limita a possibilidade de escolhas saudáveis”, explica a pediatra nutróloga Maria Paula de Albuquerque, gerente clínica do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren).

A médica observa que, em situações como essa, famílias acabam recorrendo a alimentos mais calóricos, baratos e de menor qualidade, o que aumenta os riscos de obesidade e doenças crônicas. “Você não consegue colocar salada e fruta no prato do seu filho se no bairro só tem bolacha recheada, refrigerante e salgadinho”, exemplifica.

Iniciativas

Para tentar reduzir o problema, o governo federal lançou em 2023 a Estratégia Alimenta Cidades, que pretende ampliar a produção e o acesso a alimentos saudáveis em áreas urbanas, com prioridade para periferias e regiões mais vulneráveis. Em 2025, a meta é expandir a iniciativa para 91 municípios, e Palmas está entre os territórios que podem ser contemplados.

O programa envolve o fortalecimento de ações como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), cozinhas solidárias e a modernização de bancos de alimentos, além de apoio técnico para a definição de estratégias locais.

Problema regionalizado

O quadro de Palmas é semelhante ao de outras capitais da região Norte, onde os desertos alimentares atingem índices superiores a 30%, enquanto a presença de pântanos alimentares costuma ser menor do que em cidades do Sudeste e Sul. Em Manaus, por exemplo, mais da metade da população vive sem acesso a alimentos saudáveis, mas apenas 3,1% estão em áreas com predominância de ultraprocessados.

Esse contraste reforça a necessidade de políticas específicas para cada realidade regional, como defende o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. “O ambiente alimentar de uma cidade interfere diretamente no padrão de saúde da sua população. Precisamos olhar para isso com atenção e estratégia.”

Perspectiva para Palmas

Com índices alarmantes de insegurança alimentar e desafios históricos no abastecimento de produtos in natura, Palmas vê no Alimenta Cidades a oportunidade de estruturar políticas locais para garantir acesso à alimentação adequada. A expectativa é que, com investimento e articulação entre poder público e sociedade civil, o deserto alimentar da capital tocantinense possa, enfim, começar a ser enfrentado.