A Polícia Federal (PF) afirma que o deputado federal Vicentinho Júnior (PP-TO) e sua esposa, Gillaynny Marjorie Duarte Borba de Oliveira, movimentaram cerca de R$ 170 milhões ao longo de seis anos por meio da empresa GMD Borba Distribuidora Eireli, considerada de fachada pela investigação da Operação Overclean. O inquérito apura um esquema de intermediação de propina em contratos públicos no Tocantins, segundo informações divulgadas pela colunista Natália Portinari, do UOL.

De acordo com relatório da PF, uma planilha apreendida no fim de 2024 com os empresários Fábio e Alex Parente aponta o controle de pagamentos de propina relacionados a um contrato da Secretaria de Educação do Tocantins. No documento, aparece o codinome “Vic”, com valores e datas que coincidem com transferências feitas à empresa registrada em nome da esposa do parlamentar.

Entre janeiro de 2019 e abril de 2025, a GMD Borba Distribuidora recebeu R$ 85 milhões em créditos e registrou o mesmo valor em débitos. Para a PF, a empresa teria funcionado como uma “conta de passagem”, sem atividade econômica compatível com o volume financeiro movimentado.

O relatório afirma que há “elevado grau de certeza” de que os valores descritos na planilha de propinas, atribuídos ao codinome “Vic”, teriam sido efetivamente canalizados a Vicentinho Júnior por meio da empresa em nome de sua esposa.

Contrato sob suspeita

A investigação aponta que a empresa Larclean Saúde Ambiental, pertencente aos irmãos Parente, venceu uma licitação do governo do Tocantins em 2020 após suspeita de fraude que teria desclassificado sete concorrentes com preços menores. O contrato de dedetização, inicialmente firmado em R$ 13,6 milhões, recebeu aditivos que elevaram o valor para R$ 59,2 milhões, apesar de a PF apontar preço 660% acima do valor de mercado.

Entre 2023 e 2024, outra empresa dos irmãos, a BRA Teles, repassou R$ 260 mil à GMD Borba Distribuidora. Considerando outros intermediários, a PF estima que Vicentinho Júnior e a esposa tenham recebido R$ 420 mil dos empresários.

Em diligências no endereço da empresa, em Sítio Novo do Tocantins, vizinhos relataram à PF que a suposta distribuidora teria funcionado por pouco tempo. O deputado afirmou que a empresa pertencia ao sogro, falecido em abril de 2024, mas, segundo a investigação, os pagamentos continuaram mesmo após a morte.

STF nega pedidos da PF

A Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a realização de busca e apreensão e o bloqueio de R$ 420 mil em bens do deputado e da esposa. Os pedidos foram negados pelo ministro Nunes Marques, relator do caso, com parecer contrário da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Na decisão, o ministro afirmou que a PF não comprovou, naquele momento, a conexão direta entre os pagamentos à empresa da esposa do deputado e a fraude licitatória investigada.

Procurado, Vicentinho Júnior negou irregularidades. Disse que nunca foi investigado e que os pagamentos à empresa da esposa fazem parte de “rotinas da vida pessoal”, já esclarecidas nos autos.

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