Professor tem remoção publicada no Diário Oficial um dia após morrer; escola diz que casos de hostilidade foram “pontuais”

02 setembro 2025 às 11h33

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O professor Carlos Eduardo Meira Batista, conhecido como Cadu, de 29 anos, teve seu nome publicado no Diário Oficial do Estado do Tocantins desta segunda-feira, 1º, como removido para a cidade de Pedro Afonso, na disciplina de História. A publicação ocorreu no Diário Oficial nº 6.889, menos de 24 horas após sua morte, no domingo, 31, em Recursolândia, em decorrência de um infarto. Ele deixa um filho.
Na reportagem publicada pelo Jornal Opção Tocantins nesta segunda-feira, 1º, colegas e amigos relataram que o docente havia protocolado ao menos três pedidos de remoção, todos acompanhados de laudos médicos. O primeiro foi negado porque ele ainda estava em estágio probatório. O segundo havia sido aprovado e estava previsto para ser oficializado justamente na edição do Diário Oficial desta segunda, o que acabou ocorrendo apenas após seu falecimento.
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Amigos e colegas de Cadu consideraram insensível a publicação do nome de Cadu após ele falecer, diante da tragédia e da luta travada por ele para conseguir a transferência. Há relatos de professores e moradores que afirmaram que Cadu vinha enfrentando hostilidade no ambiente escolar, com episódios de bullying e denúncias de assédio. Pessoas próximas disseram que alunos, por não aceitarem a forma que o professor conduzia as aulas, jogavam pedras enroladas em papel, enquanto ele escrevia no quadro. Também proferiram ofensas diariamente em relação ao seu peso e à sua condição de saúde ocular.

Amigos disseram que o professor passou a fazer uso de medicamentos controlados diante do agravamento do seu estado de saúde mental. Após repercussão do caso, a escola veio a público dizer que “os fatos mencionados foram pontuais e, tão logo chegaram ao conhecimento da equipe gestora, foram prontamente apurados e solucionados”. Confira a nota ao final.
Natural de Brumado (BA), ele trabalhava na Escola Estadual Recurso I desde 2024, após ingressar no quadro efetivo da rede estadual. O corpo foi trasladado para sua cidade natal, onde ocorrerá o sepultamento. Familiares e amigos chegaram a organizar uma campanha para arrecadar dinheiro para custear translado, velório e enterro.
O que diz a Seduc
Em nota, a Seduc lamentou a morte do professor, manifestou solidariedade a familiares, amigos, colegas e estudantes, e explicou que o processo de remoção estava inserido no edital lançado em agosto, que ofertou 490 vagas e foi acordado com o Ministério Público do Tocantins. Sobre a remoção ser publicada após a morte, a Seduc informou que o ato referente ao resultado do Edital de Remoção Interna foi enviado para publicação no Diário Oficial na sexta-feira, 29, data anterior ao falecimento do servidor.
“No edital de remoção, o professor Carlos Eduardo Meira Batista havia se inscrito para ser removido para a cidade de Pedro Afonso, que apresentava três vagas para a disciplina de História. O professor foi automaticamente aprovado, pois tiveram apenas dois inscritos para essas vagas. A pasta ressalta, que conforme o cronograma do Edital de Remoção, o resultado publicado nesta segunda-feira, 1º de setembro, é preliminar e o que o resultado definitivo será divulgado no próximo dia 10”, disse.
Ainda conforme a Seduc, em atendimento ao Estatuto do Servidor do Estado do Tocantins, a família do professor tem direito ao auxílio funeral correspondente a um mês de remuneração, subsídio ou provento do servidor. “A Seduc manifesta os mais sinceros sentimentos e condolências à família, amigos e colegas de trabalho do professor Carlos Eduardo Meira Batista, por sua partida”.
O que diz a escola
Sobre o cenário de bullying em que o professor teria sido vítima, a Direção da Escola Estadual Recurso I disse que “os fatos mencionados foram pontuais e, tão logo chegaram ao conhecimento da equipe gestora, foram prontamente apurados e solucionados”.
A escola afirma que “atua de forma constante na promoção do cuidado com a saúde mental e no bem-estar de seus alunos e servidores”. Entre as medidas adotadas, destaca-se “o remanejamento do professor para a função de coordenador pedagógico de área, com menor carga horária em sala de aula, visando sempre preservar sua saúde e integridade, bem como, promover ações de acolhimento entre professores e estudantes”. A remoção para o cargo ocorreu por decisão da Superintendência Regional de Ensino (SRE).
A instituição disse que está comprometida com a qualidade da educação, afirmando que esta deve ser “pautada pelo respeito, pela escuta e pelo acolhimento”.