Por Gabriela Carneiro

Ontem, ao voltar do trabalho no ônibus das 20h05, eu vivi o último dia de outubro.
O calor era tremendo, o suor escorria pros olhos. Gargalho do ritmo que as coisas tomam nessa cidade. A reta de quem corta Palmas de eixão se confunde com os dias infinitos que giram conforme você paga seus 4,85 na catraca do “Sou”.

Dentro desse ônibus, eu nem consigo pensar quantos estão presentes. Parece que todo mundo consegue vagar o suficiente até chegar ao fim da sua rota. É como um anticorpo. E é curioso que, às vezes, eu até cochilo na imersão daquele caos da espera, mas sempre acordo perto do meu ponto. Parece uma intuição.

A próxima parada já é novembro. E, por mais que eu queira dormir, uma esperança me desperta, como se dissesse: logo mais tem chuva. Coisas boas vão acontecer, você vai chegar já já!

Outubro passou tão depressa que já é novembro. Eu gosto de acreditar em começos e em novembros.

Eu gosto principalmente do que consegue me tirar do automático e me costurar na existência. É como ter vida lá fora após o fim da viagem de busão, até o ventinho na cara bate diferente.

A moça do meu lado dormiu. Vou precisar acordar.

Moça, licença aí! Já vou descer.