A trajetória de fé, serviço e simplicidade de padre Luso de Barros Matos está cada vez mais próxima de um reconhecimento oficial da Igreja Católica: sua beatificação. O processo, iniciado oficialmente em 2022, entra agora em uma nova fase, com o início da etapa diocesana no próximo 19 de julho, em Porto Nacional, onde o missionário viveu por mais de quatro décadas.

A cerimônia será realizada às 11h, na Igreja São Judas Tadeu, com a presença do bispo Dom José Moreira, do postulador vaticano Paolo Vilotta, responsável por conduzir a investigação canônica, de padres, representantes da comunidade e da Associação dos Amigos do Padre Luso (AaPL). A missa marca oficialmente a abertura da fase local de apuração das virtudes e da fama de santidade do religioso, reconhecido por fiéis como um verdadeiro “padre santo”.

Luso Barros de Matos nasceu em 16 de dezembro de 1906, na cidade de Balsas, no Maranhão. Órfão de pai ainda pequeno, foi criado pela mãe, dona Petronilha, que o ensinou desde cedo a pedir proteção a santo Antônio, devoção que acompanhou padre Luso por toda a vida.

Seu sonho era ser padre, mas a saúde frágil o impediu de ser aceito em diversos seminários. Só foi acolhido na Diocese de Porto Nacional, que reconheceu sua vocação. Ali, foi ordenado em 23 de setembro de 1945, na Catedral de Nossa Senhora das Mercês.

Porto Nacional como missão

Igreja Nossa Senhora das Mercês | Foto: Divulgação

Padre Luso viveu e atuou em Porto Nacional até sua morte, em 3 de agosto de 1987, aos 81 anos. Morava com extrema humildade no Seminário São José, em um quarto simples. Visitava doentes, acompanhava famílias enlutadas, acolhia marginalizados e celebrava missas em comunidades distantes.

Padre Luso ficou conhecido como um taumaturgo, ou seja, alguém a quem são atribuídas curas e bênçãos. Muitos fiéis relatam terem recebido graças por sua intercessão, tanto quando ele ainda era vivo, quanto após sua morte.

Na Capela São Judas Tadeu, construída por ele no bairro Setor Cruzeiro do Sul, repousa hoje seu corpo. Ali, os fiéis continuam depositando orações, velas e pedidos.

Devoção a santo Antônio

Devocionário de santo Antônio que o padre Luso carregava no bolso. Crédito: Acervo Casarão Padre Luso.

Além da imagem de Nossa Senhora de Fátima, que levava em suas visitas, padre Luso carregava sempre no bolso um devocionário de santo Antônio, o mesmo que pode ser visto hoje no acervo do Casarão Padre Luso, espaço de memória e turismo religioso aberto ao público em Porto Nacional.

“Dizia que via santo Antônio em oração. E repetia sempre: ‘a caridade é o alimento da alma’”, conta o padre Eldinei Carneiro, atual responsável pela fase local do processo de beatificação.

O caminho para os altares

A beatificação é a penúltima etapa antes da canonização, que confere oficialmente o título de santo a um fiel. O processo é composto por três fases principais:

  1. Servo de Deus – título concedido quando o Vaticano autoriza a abertura do processo. Padre Luso recebeu esse reconhecimento em 2022, com a concessão do Nihil Obstat pelo Dicastério para a Causa dos Santos.
  2. Venerável. Quando a Igreja reconhece que o fiel viveu virtudes heroicas, como humildade, fé, esperança e caridade. Essa é a fase que se inicia agora, com a coleta de testemunhos e análise documental pelo Tribunal Diocesano.
  3. Beato. Etapa que exige a comprovação de um milagre ocorrido por intercessão do candidato. Se for aceito pela Santa Sé, o fiel pode ser beatificado e cultuado localmente.
  4. Santo. Com um segundo milagre, comprovado após a beatificação, o beato é canonizado e reconhecido como santo da Igreja Católica.

Milagre em investigação

Um dos casos que poderá ser apresentado ao Vaticano é o de Flávio Macedo, corretor de imóveis de Palmas, que foi diagnosticado com câncer gástrico em 2023. Ele afirma que foi por intercessão de padre Luso que os exames detectaram o tumor em fase inicial, o que possibilitou um tratamento bem-sucedido. 

O papel do postulador

O italiano Paolo Vilotta, que chega a Porto Nacional no dia 18 de julho, atua como postulador da causa, função equivalente à de um advogado canônico. Ele é o responsável por reunir e organizar os documentos, entrevistas e provas que serão encaminhadas a Roma.

Vilotta já atuou em dezenas de processos de beatificação e canonização de brasileiros, inclusive o de Dom Alano Maria Pena, ex-bispo de Nova Friburgo, e a visita a Porto Nacional reforça a seriedade e o ritmo do processo.

Padre Luso de Barros Matos pode se tornar o primeiro santo do Tocantins. Sua causa de beatificação agora depende da comprovação de suas virtudes e de um milagre reconhecido. A fé, porém, já o canonizou no coração de muitos.