Revista britânica vê Brasil mais firme que EUA na defesa das instituições

28 agosto 2025 às 13h38

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O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou ao centro do noticiário internacional ao estampar a capa da revista The Economist desta semana. A publicação britânica dedica sua reportagem principal ao julgamento que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciará em 2 de setembro, no qual Bolsonaro responde por suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023.
Na ilustração de capa, Bolsonaro aparece com o rosto pintado de verde e amarelo e usando um chapéu semelhante ao do chamado “xamã do Capitólio”, figura que se tornou símbolo da invasão ao Congresso americano em janeiro de 2021.
A Economist traça paralelos entre os casos de Bolsonaro e Donald Trump, destacando que ambos estimularam dúvidas sobre a lisura das eleições e viram seus seguidores ocuparem prédios-sede dos poderes nacionais. No entanto, segundo o editorial, o Brasil se mostra mais firme que os Estados Unidos ao responsabilizar autoridades por ataques à democracia.
“O Brasil oferece uma lição de maturidade política aos americanos”, diz o texto. Para a revista, enquanto os EUA enfrentam retrocessos sob o novo governo Trump, o Brasil se mostra disposto a proteger suas instituições mesmo sob pressão externa.
As acusações
Bolsonaro responde a cinco crimes, entre eles tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e liderança de organização criminosa. Parte das imputações se refere à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiadores radicais contestaram a eleição de Lula. O ex-presidente já havia sido declarado inelegível em 2023 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político em reunião com embaixadores. Ele e seus aliados negam as acusações.
O papel do STF
A publicação ressalta a centralidade do Supremo Tribunal Federal, descrito como “guardião da democracia brasileira”. Cita o Inquérito das Fake News e observa que, embora a concentração de poderes na Corte desperte críticas, seu protagonismo foi decisivo para frear avanços autoritários. Ainda assim, a Economist pondera que o país enfrenta desafios adicionais, como crise fiscal e polarização política, fatores que dificultam reformas estruturais.
Pressão externa
A revista também aponta a interferência do presidente Donald Trump, que impôs tarifas a produtos brasileiros e acusou o STF de perseguir Bolsonaro. Para o semanário, a estratégia tende a fracassar, já que o Brasil tem alternativas comerciais e Lula acabou fortalecido politicamente pelas críticas vindas de Washington.
A lição brasileira
A publicação avalia que a experiência brasileira pode servir de referência para democracias em crise. “Se os EUA se tornam mais autoritários, o Brasil dá sinais de amadurecimento. Ao menos por ora, o papel de adulto democrático no hemisfério ocidental mudou de endereço”, afirma o editorial.