O primeiro informe epidemiológico sobre juventude, divulgado pela Fiocruz, apresenta um panorama detalhado sobre mortalidade por causas externas e notificações de violência interpessoal e autoprovocada entre jovens do Tocantins. Entre as unidades da Federação, o estado ocupa o 7º lugar em taxas de mortalidade da juventude por causas externas, com 17 óbitos por 100 mil habitantes no biênio 2022-2023.

As maiores taxas de mortalidade por causas externas entre jovens no país estão concentradas nas regiões Norte e Nordeste. A análise da mortalidade por unidades da Federação mostra que, em apenas três estados, sendo São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, a mortalidade por essa causa é maior na população em geral do que entre jovens. Em todos os demais estados, a mortalidade da população jovem (15 a 29 anos) é mais alta, com destaque para Amapá (AP), Bahia (BA) e Alagoas (AL), onde a taxa de mortalidade entre jovens é 80%, 70% e 60% superior à população como um todo, respectivamente.

No recorte etário, os jovens entre 20 e 24 anos apresentam as maiores taxas de mortalidade por causas externas, especialmente em Amapá e Bahia, com 477 e 403,7 óbitos por 100 mil habitantes, respectivamente. Comparados à média nacional, os estados do Amapá e da Bahia apresentam taxas muito mais elevadas, sendo o primeiro com o dobro e o segundo com 80% a mais. Em contrapartida, Distrito Federal e São Paulo apresentam taxas para jovens equivalentes à metade da média nacional, e Santa Catarina, 40% inferior.

Diferenças por sexo e região

Entre homens jovens, a taxa de mortalidade por causas externas é superior à do total de homens em praticamente todas as unidades da Federação. No conjunto dos municípios da Região Metropolitana (RM), o risco de óbito é aumentado para a juventude, exceto em Mato Grosso (MT) e Roraima (RR), onde o risco é menor, e em São Paulo, onde ele é igual. O aumento do risco é alto na Bahia (100% maior), Amapá, Alagoas, Sergipe (SE) e Rio de Janeiro (RJ) (50% maior).

Para mulheres jovens em municípios de RM, o risco é menor do que para o total das mulheres em todas as UFs, exceto em Roraima (10% maior) e no Tocantins (onde o risco é igual). Nos municípios não metropolitanos, o padrão se mantém: homens jovens apresentam risco maior que o total de homens em todos os estados, exceto em São Paulo, com destaque para Bahia (70%), Amapá e Alagoas (60% maiores), Amazonas (AM) e Rio Grande do Norte (50% maiores). Para mulheres jovens de municípios não metropolitanos, o risco é menor que o total de mulheres em todas as UFs, exceto em RR, TO e Mato Grosso do Sul (MS), com 90%, 100% e 20% maiores, respectivamente.

Ao analisar a mortalidade estratificada por sexo, observa-se que para homens jovens o risco é superior ao da população masculina em quase todas as unidades da Federação, com destaque para Bahia e Amapá (90% maior), Alagoas (70% maior), Amazonas e Rio de Janeiro (60% maior). Para mulheres jovens, o risco é geralmente reduzido em relação à população feminina em quase todas as UFs, mas aumenta nos RMs de Rondônia (RO) (80%), Tocantins (70%) e Roraima (50%). Nos municípios não metropolitanos, o risco para mulheres jovens é maior em Roraima (90%) e Mato Grosso (60%), e reduzido em Amapá (50%) e Sergipe (30%).

Comparando a taxa de mortalidade jovem de cada unidade da Federação com a média nacional, para homens o risco é especialmente aumentado no Amapá (120%) e Bahia (90%), e reduzido no DF e em São Paulo (50% menor) e Santa Catarina (40% menor). Para mulheres jovens, o risco é maior no Mato Grosso (60%), MS, Roraima e Tocantins (50% cada) e menor em São Paulo e DF (30% menor).

Notificações de violência

As notificações de violência interpessoal e autoprovocada apresentam incidência mais alta entre jovens do que na população total em todas as unidades da Federação. Em todas as UFs, a taxa é pelo menos 50% maior entre jovens, exceto no Amazonas (30% maior), Pará, Tocantins e Ceará (40% maior em cada). No Distrito Federal e na Paraíba, a incidência é mais de 90% superior entre jovens. Entre os estados com maior taxa de notificações na população jovem destacam-se DF, Espírito Santo (ES), Mato Grosso do Sul e Roraima, com 696,1; 637,8; 629,5 e 623,5 casos por 100 mil habitantes, respectivamente.

Desafios

O relatório aponta que a mortalidade e a violência entre jovens configuram um grave problema de saúde pública, demandando estratégias de prevenção e cuidado. Homens jovens, especialmente de 20 a 24 anos, apresentam maior risco de óbito por violência, enquanto mulheres jovens, principalmente de 15 a 19 anos, apresentam maior morbidade relacionada à violência. Jovens negros e indígenas têm maior risco de morrer. Armas de fogo e acidentes de motocicleta são fatores determinantes de óbitos, reforçando a necessidade de políticas públicas de proteção à vida e melhorias na mobilidade urbana, sobretudo em municípios não metropolitanos.

O estudo também destaca a importância da qualificação do registro de casos de violência nos serviços de saúde, da revisão de campos informacionais nas fichas de notificação e da realização de estudos qualitativos, com recortes territoriais, de gênero e raça/cor, envolvendo a própria juventude afetada. A combinação de dados de mortalidade, notificações do SUS, segurança pública, internações e atenção primária à saúde é apontada como fundamental para compreender a complexidade do problema e subsidiar políticas de prevenção e promoção da vida entre jovens.