Com a previsão de uma colheita histórica de 336 milhões de toneladas de grãos no Brasil, o Tocantins parte da região do Matopiba, uma das fronteiras agrícolas do país, também enfrenta os efeitos da falta de estrutura para armazenagem. A escassez de silos e galpões adequados tem feito com que boa parte da produção de soja e milho fique exposta ao tempo ou precise ser transportada rapidamente, gerando prejuízos e pressionando o escoamento.

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade de armazenagem no país é de pouco mais de 212 milhões de toneladas, o que representa um déficit de 124 milhões de toneladas, quase 37% de tudo o que será colhido nesta safra. No Tocantins, a situação é ainda mais delicada: menos da metade da produção conta com armazéns adequados, o que obriga muitos produtores a recorrerem a silos-bolsa, improvisos com caminhões ou venda imediata dos grãos.

As dificuldades são maiores nas regiões mais distantes dos centros de escoamento. Em algumas localidades do Tocantins, os grãos precisam viajar até 100 km para serem armazenados. O problema se agrava porque a colheita do milho ocorre logo após a da soja, ocupando os mesmos espaços de armazenamento. A preferência pelo armazenamento da soja, que tem valor de mercado mais alto, acaba deixando o milho sem lugar, o que leva ao acúmulo a céu aberto, sob risco de perda por exposição ao sol e à chuva.

Além do risco logístico, o impacto econômico também preocupa. Com a pressa em vender a produção por falta de espaço, os preços caem e o frete encarece. A indústria, por sua vez, acaba absorvendo parte do problema, armazenando mais do que precisa e repassando o custo à cadeia produtiva.

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) alertam que o crescimento da produção não tem sido acompanhado pela ampliação da capacidade de armazenagem. A recomendação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) é que um país tenha capacidade estática de armazenamento 1,2 vez maior que a produção anual. No Brasil, isso significaria ter estrutura para guardar mais de 400 milhões de toneladas, quase o dobro do que existe atualmente.

Segundo levantamento da CNA, 73,3% dos produtores do Matopiba disseram que construiriam armazéns se tivessem acesso a financiamento com taxas mais atrativas. Muitos acabam preferindo investir em máquinas como colheitadeiras, que oferecem retorno mais rápido e menos risco.

Enquanto isso, soluções coletivas como os condomínios de grãos, em que produtores compartilham estruturas, ainda são pouco difundidas fora do Sul do país.

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