O Tocantins registrou perdas de 30,96% da água tratada produzida em 2023, segundo estudo do Instituto Trata Brasil divulgado nesta segunda-feira, 24. O estado aparece como o segundo melhor desempenho do país, atrás apenas de Goiás (25,68%), mas ainda acima do índice considerado aceitável pelo governo federal, de 25%.

Apesar do resultado relativamente positivo, o levantamento mostra que o desperdício segue elevado em todo o Brasil. A média nacional chegou a 40,31%, uma piora em relação ao estudo anterior, embora a comparação entre os anos seja limitada devido a mudanças metodológicas promovidas pelo Governo Federal a partir de 2023.

O Norte, onde está o Tocantins, registrou a maior taxa regional (49,78%), mas apresentou avanço consistente na série histórica. Em 2019, as perdas somadas dos estados nortistas eram de 55,21%. Mesmo com a redução, nenhuma região do país atinge o parâmetro de 25% considerado adequado.

No recorte nacional, os piores índices ficaram com Alagoas (69,86%), Roraima (62,51%), Acre (62,25%) e Pará (58,71%). Distrito Federal (31,46%) e São Paulo (32,66%) aparecem próximos ao desempenho tocantinense.

O Trata Brasil alerta que a série histórica deve ser analisada com cautela, pois a partir de 2023, o governo federal adotou novos critérios de cálculo para aproximar os indicadores de padrões internacionais. Embora consideradas melhorias técnicas, as mudanças dificultam comparações diretas com anos anteriores.

Desperdício bilionário e causas estruturais

Em todo o país, o volume desperdiçado em 2023 chegou a 5,8 trilhões de litros, quantidade que abasteceria 50 milhões de pessoas durante um ano, com impacto financeiro estimado em R$ 13 bilhões.

Segundo o estudo, os motivos incluem ligações clandestinas, falhas de medição e hidrômetros antigos, mas a maior parte do desperdício acontece por vazamentos nas redes de captação e distribuição, responsáveis por cerca de três trilhões de litros perdidos.

A presidente do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, afirma que os índices elevados preocupam diante da estiagem prolongada enfrentada em diversas regiões. O cenário tem levado municípios a decretar racionamento ou situação de emergência hídrica, como a cidade de Esperantina.

“Há previsão de redução anual de 3,4% na oferta média de água dos rios. Investir na redução de perdas e na modernização da infraestrutura é urgente para mitigar efeitos climáticos e garantir o uso sustentável dos recursos”, afirmou.

O estudo também analisou as 100 cidades mais populosas do país. Suzano (SP) lidera com o menor desperdício, apenas 0,88%. Na outra ponta, Maceió (AL) aparece com 71% de perdas. A lista evidencia, segundo o instituto, três perfis de municípios: os que ainda não tratam o saneamento como prioridade, os que expandem rede sem reduzir desperdício e os que trabalham ambos os pontos simultaneamente.