Por Fernando Maciel Vieira

Atenção, estudantes (e não-estudantes)! Se você está lendo isso, parabéns. Você acaba de realizar um ato de resistência no Brasil de 2025. Sério. Pare um segundo e sinta-se especial, porque você está desafiando as estatísticas, a gravidade cultural e, provavelmente, o impulso de abrir o TikTok a cada 30 segundos.

Ser estudante no Brasil é, essencialmente, uma performance circense de alto risco. Você não está apenas estudando; você está tentando convencer seu cérebro, criado para fugir do esforço desnecessário, de que ler e pensar é mais divertido do que ver memes de gatinhos. E em um país onde a leitura não é um hábito comum, onde o livro é caro e o tempo é luxo, a gente se sente um super-herói sem capa.

Qual é o nosso superpoder? A capacidade de ficar horas e horas sentado estudando! Uma realidade que, sejamos honestos, é mais rara que unicórnio em festa de formatura. Para muitos, a falta de dinheiro para o livro é um muro. Para outros, a falta de tempo (entre o trabalho, o transporte e a sobrevivência) é uma montanha. E para uma fatia considerável… bem, a falta de vontade e o entendimento da importância beiram o milagre.

A curva demográfica e a piada nacional

E aí, a gente olha para o futuro e pensa: “Perdemos, ?”. Como nação, estamos ignorando a “onda demográfica”, aquela chance de ouro que o Brasil teve de ter um monte de gente jovem e investir pesado em educação, ciência e tecnologia. Nossas famílias estão tendo menos filhos. Isso significa menos jovens no futuro, menos cérebros frescos entrando na universidade, menos gente para fazer a ciência acontecer. Em vez de avançar na educação, estamos nos preparando para ser uma nação de velhinhos que não sabem a diferença entre fake news e a verdade, porque, claro, não lemos os manuais.

Um dia, meu aluno, com aquela inocência cruel da juventude, me soltou a bomba: “Professor, por que o senhor não escreve mais?”. Eu, com um sorriso de quem já viu de tudo, retruquei: “Para quem ler, meu querido? Se nem você, que recebe meu material fundamental de graça, se dá ao trabalho de folhear as páginas?”. A verdade é que a gente se sente um pregador no deserto.

O convite ao vício mais saudável do mundo

Eu sei, perdemos leitores. Mas agora, eu quero te fazer um convite indecente: Vire um leitor. Juro, é o melhor vício que você pode ter.

Você está sozinho? O livro é a melhor companhia. Ele não te julga, não te cancela e sempre tem algo novo para te contar.

Quer viver um amor de cinema? Temos romances que farão você suspirar e chorar (e talvez até duvidar que o match do Tinder vai dar certo, porque a literatura é muito melhor).

Gosta de futebol, mas se cansou dos comentaristas? Biografias de jogadores vão te revelar podres, glórias e segredos que a TV  jamais mostrou. É o Gossip Girl do campo!

Seu negócio é investigação? A literatura policial está lotada de mistérios prontos para serem resolvidos. Você vai se sentir o Sherlock Holmes, só que sem o casaco ridículo.

E para os mais… picantes? Temos a literatura adulta. Esqueça o Google Imagens. A palavra escrita, meu amigo, leva você ao céu, ao inferno e ao purgatório, tudo na mesma página. A imaginação é a melhor.

A neurociência da leitura e o sarcasmo da sobrevivência

Mas, por que não lemos? Ah, a pergunta de 1 milhão de dólares! Cada um tem que responder à sua. E se você não gosta, faça um esforço de fé, clame a Deus (ou ao Universo, ou à sua divindade preferida) o dom, a virtude, a tara de ler! Não deixe esse “dom” ficar de fora da sua existência.

Seja sincero: quem não lê, não aprende com profundidade. Fica estagnado, com a profundidade de um pires e a visão de um pássaro engaiolado. Quando você pega o hábito de ler, você descobre o quão bom é ficar só. Sozinho, mas em ótima companhia, buscando alegria, conforto e conhecimento. É o melhor teletransporte: você viaja pelo mundo sem sair da poltrona.

Lembre-se: nós não nascemos com o instinto de leitura. Não é igual respirar ou reclamar do vizinho. O nosso cérebro tem que fazer um reboot, reorganizar-se. É um esforço incomum, quase um milagre da plasticidade cerebral. Quando lemos, nossos neurônios fazem uma festa! Sentimos o que o escritor propõe. Morremos, amamos, sentimos invencíveis, tudo em meio à ficção.

Dicas para virar leitor (sem ser chato)

Para finalizar, algumas sugestões sarcásticas, mas que funcionam:

  • A regra do “permita-se começar”: Pare de pensar no livro de 500 páginas. Comece com 10 minutos. É como academia: os primeiros dias são infernais, mas depois você vicia no prazer.
  • O livro é seu novo acessório: Não fique sem livro. Em todo lugar. No banheiro, na fila do banco, no ônibus. Não precisa ter seriedade. Leia em pé, de cabeça para baixo, e ignore quem te olha. Você é mais interessante que o celular deles.
  • Sem culpa, sem gênero, sem limites: Leia o que você gosta! Romance trash, ficção científica, autoajuda, terror gótico… LIVRO É LIVRO! Mergulhe no poder das palavras e, pelo amor de Deus, não sinta vergonha do seu prazer literário.

A leitura é a única chance de ser um mestre dos mistérios, um expert em sedução e um erudito, tudo antes do almoço. Comece agora. Seu cérebro (e a nação) agradece. E eu, o professor em extinção, prometo continuar escrevendo. Afinal, sempre há alguém lendo. E esse alguém pode ser você. Forte abraço e boa leitura!