Terno azul escuro, camisa azul clara, gravata rosa e uma pasta azul, uma paleta que diria tudo sobre o personagem. Três dias após um segundo turno disputado de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), recém-eleito prefeito da Capital, pisava no Palácio Araguaia com aquele ar de quem já conhece os corredores, mas volta com um novo caderno em mãos. Era 30 de outubro de 2024, e começava ali o que ele mesmo deixaria claro: uma gestão pedagógica.

O anfitrião? Governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). O clima? Cordial, mas com aquele sorriso de quem sabe que jogou do lado perdedor, e apostou alto. Wanderlei tinha doado, articulado, corrido e suado para eleger Janad Valcari (PL). Não rolou. Palmas preferiu um girassol à pisadinha. O prefeito eleito foi, mesmo assim, comedidamente diplomático. Sabe-se lá se por respeito, cálculo político ou hábito de quem já viveu altos e baixos demais para desperdiçar energia com briga pública. Política, afinal, é jogo de tabuleiro, e ele voltou sabendo as casas.

Ali Eduardo não vendia promessas, vendia método. O discurso era técnico, cheio de palavras como “corpo técnico”, “segurança jurídica” e “cooperação institucional”. Para alguns, parecia até empolado. Para outros, o prenúncio de uma gestão com mais cérebro que gogó. Em outras palavras: professor voltou à sala. Mas a turma era nova, barulhenta e cheia de dívida.

Sim, a herança. Palmas estava endividada, os buracos pela cidade se multiplicavam, o transporte público quase parando, e o carnaval foi o primeiro a rodar. E a ex-prefeita psdbista Cinthia Ribeiro? Esta subiu no palanque no segundo turno, mas desceu logo depois da posse. Eduardo, como bom veterano da política, tratou de aparar arestas, e deixar claro que a cadeira era dele, o projeto era dele, e quem quiser seguir que se encaixe.

E aí vem o estilo Eduardo. Nos primeiros quatro meses, o que tampou de buraco na cidade, costurou de articulação nos bastidores. Virou presença constante em Brasília, com pasta na mão e discurso afinado. Visitou Dorinha Seabra (União), que tinha apoiado Janad, mas que agora virou parceira institucional. A política em Eduardo parece funcionar no automático, é o idioma que ele fala com fluência.

Mais difícil foi com Eduardo Gomes (PL). A relação dos dois parecia ter virado peça de museu durante a eleição, mas política no Tocantins é novela com roteiro próprio. O mesmo Gomes que chorou no adeus ao “velho Siqueira” (aquele que o fez senador), hoje aparece em café, jantar e, quem sabe, como segunda opção ao Senado em 2026. O tempo dirá. E Eduardo, o prefeito, continua sorrindo como quem sabe que o passado político une mais do que separa.

Mas se engana quem acha que o novo Eduardo é só diplomacia e tapinha nas costas. Ele veio com gana. E com dor, as perdas do pai e do filho, Gabriel, foram combustível e cicatriz. Dedicou a vitória na eleição de Palmas a eles, à mãe Dona Aureny, e talvez, secretamente, a ele mesmo. Porque essa eleição, para Eduardo, não foi só sobre Palmas. Foi sobre voltar a ser útil, sobre reencontrar propósito num lugar onde ele já foi tudo, e também já não foi nada.

E sim, há um resgate. Em 2023, na entrevista ao Jornal Opção, concedida ao jornalista Ruy Bucar, meses antes da morte do pai, ele falou com brilho nos olhos de debates com Paulo Mourão (PT), da falta de entusiasmo na Assembleia e do chamado interior para governar de novo. Palmas, disse ele, estava “desguarnecida”. E como bom pedagogo, achou que podia ensinar alguma coisa. Não na lousa, mas na prática.

Se vai dar certo, ainda é cedo pra saber. A turma é barulhenta, o quadro branco está cheio de anotações e a pressão do fundão é grande. Mas o professor está de volta. E parece que, desta vez, quer ensinar e aprender. Se tudo caminhar como ele pensa, e como parece caminhar, não será surpresa se em 2030 o pedagogo for visto, de novo, correndo o estado. Com 71 anos, discurso renovado e apostando que, às vezes, o melhor jeito de ensinar política… é reaparecer como se nunca tivesse saído da sala de aula.