O Governo Federal anunciou na terça-feira, 11, que cancelou o leilão realizado no dia 6 de junho para compra de arroz para reabastecimento do cereal no país. A informação foi anunciada pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, e pelos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, logo após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto.

A medida do Governo é mais um dos desencontros entre o presidente e seus auxiliares e ministros. Assim como no caso da taxação de compras internacionais de até 50 dólares, onde o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad – e até mesmo a base aliada do Governo no Senado já tinham tido o entendimento de taxar – o presidente declara em coletivas de imprensa que quem faz “as comprinhas” de sites chineses são os mais pobres e se posicionando contra a taxação. No caso do arroz chinês não passou muito longe disso. Apesar de toda a estruturação ter sido feita pelo próprio Governo, as irregularidades encontradas levaram a um “pedido de demissão” do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller.

O “pedido de demissão”

Segundo os órgãos de fiscalização, um dos responsáveis pela venda de metade do arroz importado no leilão era sócio do filho de Geller em um outro empreendimento. Outras inconsistências também foram encontradas, como por exemplo a incompatibilidade entre as áreas de atuação das empresas contratadas e a disponibilidade orçamentária delas para fazerem as operações.

Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

O secretário acabou dando a entender, em entrevista à Folha, que teve sua “demissão à pedido” formulada antes mesmo de sua saída.

“É justo que os órgãos de controle fiquem de olho, mas não tem uma vírgula errada. Não posso coibir um ex-assessor meu de realizar a atividade dele. O erro deles, do meu filho também, foi nunca ter dado baixa na empresa, aí não teria dado todo esse imbróglio”.

Geller também apontou que não estava 100% de acordo com o leilão e apontou outras saídas para a pretensa crise, como diminuir a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul.

Tabelamento de preços e etiquetagem

Foto: Divulgação

Uma das ações propostas pelo Governo Federal após a compra do arroz seria o tabelamento dos preços do arroz adquirido e adesivagem constando na embalagem que o produto tinha subsídio do Executivo. A ideia era que o arroz fosse vendido a R$4,00 o quilo em pacotes de cinco quilos. As medidas foram duramente criticadas pela oposição, em especial pela bancada ruralista no Congresso que está recolhendo assinaturas para uma CPI.

CPI do Arroz

Capitaneada pelo Deputado Federal Luciano Zucco (PL-RS), a oposição alcançou até agora 115 assinaturas, de no mínimo 171, para abrir a chamada “CPI do Arroz”. A ideia é investigar a iniciativa do governo de realizar leilões para comprar arroz importado. A proposta é conduzida por integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária.

Foto: Câmara dos Deputados

Zucco afirmou que “o ato do Governo Federal foi açodado, irresponsável e desumano, em que o governo não teve consideração nenhuma com os gaúchos. Tenho certeza que eles identificaram algo de errado e temos que fazer uma CPI”, disse. Ele também classificou como irresponsável a tentativa do Governo de refazer um novo leilão.