A ex-senadora Kátia Abreu é, sem dúvidas, uma das figuras mais complexas e intrigantes da política brasileira, e tocantinense. Entre ataques de ambientalistas e alianças improváveis, ela construiu uma trajetória marcada por pragmatismo, ousadia e articulação nos bastidores, características que voltam a ganhar protagonismo com os recentes episódios envolvendo o retorno de Eduardo Siqueira Campos (Podemos) à prefeitura de Palmas.

Em 2014, ao aceitar o Ministério da Agricultura no governo Dilma, Kátia se tornou alvo da esquerda, sendo chamada de “Miss Desmatamento” por entidades como o Greenpeace. Apesar das críticas, foi uma das vozes mais combativas contra o impeachment da então presidente, postura que lhe custou a expulsão do MDB em 2017. Mesmo com esse histórico de lealdade a Dilma, Kátia surpreendeu ao aceitar ser vice na chapa presidencial de Ciro Gomes em 2018, mostrando que sua trajetória é marcada mais por cálculo político do que por fidelidades ideológicas permanentes.

No Tocantins, seu berço político, Kátia Abreu mantém influência silenciosa, às vezes, mas eficaz. Após o afastamento do prefeito Eduardo Siqueira Campos pelo STF, seu nome circulou como uma das principais articuladoras para o retorno dele, desafeto de outrora, mas agora aliado, ao cargo. Embora nada tenha sido confirmado oficialmente, os bastidores do poder tocantinense sabem que, quando Kátia se move, dificilmente é em vão. Seu apoio a Eduardo em 2024 e a publicação incisiva nas redes sociais durante o período de interinidade de Carlos Velozo mostram que a ex-senadora ainda sabe como marcar posição, mesmo fora de mandato.

A frase postada por ela no X (ex-Twitter), “O prefeito de Palmas chama-se Eduardo Siqueira Campos”, deixou pouca margem para dúvida: havia uma operação em curso, e ela sabia muito bem de que lado estava. Se de fato ajudou a garantir a volta de Eduardo, nasce aí uma fatura política que poderá ser cobrada em 2026.

Palmas, maior colégio eleitoral do Tocantins, transformou Eduardo em um ativo estratégico para as próximas eleições. Com sua força renovada após o retorno ao cargo, ele já tem seu primeiro nome definido para o Senado: o deputado federal Vicentinho Júnior, seu escudeiro desde a campanha de 2024. O segundo nome, até pouco tempo atrás, poderia ser cortejado, mas agora pode ter outro destino. Se o acordo for real, a cadeira pode estar reservada para Irajá Abreu (PSD), filho de Kátia. Assim, Eduardo fecharia o apoio ao Senado com Vicentinho e Irajá, um gesto claro de gratidão e cálculo.

Essa engenharia política impacta diretamente outra pré-candidatura importante: a da senadora Professora Dorinha (União Brasil), que pleiteia o governo do Estado em 2026 com apoio de Eduardo. O problema: o União também tem Gaguim como pré-candidato ao Senado. Caso Eduardo mantenha o apoio a Dorinha, não haveria mais espaço para Gaguim em sua chapa majoritária, os nomes já estariam dados.

O fator Kátia, portanto, ressurge como peça-chave no cenário de forças no Tocantins. Fora dos holofotes, sem mandato, mas nunca fora do jogo. Seu silêncio estratégico, suas publicações certeiras e sua capacidade de articulação seguem como um enigma político, um que, goste-se ou não, continua a desenhar os rumos do poder no estado.