UPA de Tocantinópolis acumula falhas enquanto prefeitura gasta mais de R$ 2 milhões em shows entre junho e julho

Dados levantados pelo Jornal Opção Tocantins mostram que entre os meses de junho e julho, enquanto a principal unidade de urgência e emergência de Tocantinópolis enfrenta problemas estruturais e de gestão, a Prefeitura contratou 19 apresentações artísticas no valor total de R$ 2.083.000,00. Os eventos integram a programação da XX EXPOTOC, temporada de praias e aniversário da cidade.

Em abril de 2025, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) passou por vistoria do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins (TCE/TO), dentro do projeto TCE de Olho. O relatório técnico apontou 21 falhas na estrutura e no funcionamento da unidade, entre elas medicamentos vencidos, descarte inadequado de insumos, ambulâncias com pneus desgastados, falta de manutenção de equipamentos, ausência de escala médica visível, protocolos clínicos inexistentes e falhas no controle da farmácia e da frequência dos profissionais.

Após o levantamento, o TCE/TO notificou o prefeito Fabion Gomes de Sousa (PL) e a secretária municipal de Saúde, Maria da Conceição Marinho, para que apresentassem um plano de ação. O prazo encerrou-se em 24 de junho. Segundo certidão juntada ao processo, até o dia 2 de julho nenhuma resposta havia sido protocolada . Sem resposta por parte da gestão municipal e dois meses depois da fiscalização dos auditores, a situação parece seguir a mesma, conforme vídeos que a reportagem teve acesso que mostram que até lençóis estão em falta na unidade.

Contratos com artistas

No mesmo período em que não houve manifestação oficial sobre as irregularidades na UPA, a gestão municipal firmou, entre junho e julho, 19 contratos de shows artísticos por inexigibilidade de licitação, conforme informações disponíveis no Portal da Transparência da Prefeitura e no SICAP – Licitações, Contratos e Obras (Módulo Público), plataforma do próprio TCE/TO.

Os eventos aconteceram ou estão programados para ocorrer no Parque de Exposições Agropecuárias e o Espaço Cultural da Beira Rio. Os valores contratados variam entre R$ 10 mil e R$ 620 mil. O maior cachê é da dupla Hugo & Guilherme, anunciada pelo prefeito nas redes sociais como atração principal do aniversário de 167 anos de Tocantinópolis, com show marcado para 27 de julho. O empenho, no valor de R$ 620 mil, foi publicado sob a rubrica de “festividades e homenagens”, com recursos oriundos de convênio estadual.

Além da dupla, estão entre os artistas contratados: Flaguim Moral e a banda Moleca 100 Vergonha (R$ 250 mil cada), Ricardo & Thiago, Igor Cunha e Waldecy Aguiar (R$ 100 mil cada), Suellen Lima (R$ 85 mil), Vitinho Real (R$ 60 mil), José Henrique Vaqueiro (R$ 50 mil), DJ Lelis (R$ 40 mil), Paula Diaz, Hariely Santos e DJ Vitor Lira (R$ 30 mil cada), Barões de Natividade (R$ 28 mil) e Teclinha dos Teclados (R$ 10 mil).

Todos os contratos foram assinados entre os meses de junho e julho de 2025.

Denúncia no MPTO

A reportagem também teve acesso a uma representação popular feita ao Ministério Público do Tocantins (MPTO), que aponta relata um possível superfaturamento e lavagem de dinheiro na contratação da banda Moleca 100 Vergonha. De acordo com o documento, a mesma banda contratada por R$ 250 mil em Tocantinópolis teria sido contratada por valores inferiores em outras localidades. Os exemplos são: Sítio Novo do Tocantins/TO – R$ 135.000,00 – contratação em 31/05/2025. Caxias/MA – R$ 100.000,00 – contratação em 29/06/2024; e Canaã dos Carajás/PA – R$ 140.000,00 – contratação em 11/07/2025.

“A média dos três valores acima é de R$ 125.000,00, o que representa um acréscimo injustificável
de 100% no valor pago pela Prefeitura de Tocantinópolis”, diz o documento protocolado no MPTO.

A prefeitura de Tocantinópolis foi procurada e a reportagem aguarda retorno da gestão.