A Assembleia Geral é a principal conferência mundial entre nações para debate dos problemas contemporâneos, resolução diplomática de conflitos e formulação de políticas da ONU. Desde 1955, o representante do Brasil é sempre o primeiro a discursar em Nova York. Lula da Silva usou a oportunidade para criticar a interferência americana no Judiciário brasileiro. 

Em uma crítica indireta aos Estados Unidos, Lula iniciou seu discurso afirmando que “sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra”. A declaração remete à imposição da Lei Magnitsky pelos EUA ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes, e a declarações dadas pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, que disse que daria “resposta à altura” ante a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições, atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa”, disse Lula. “Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia após duas décadas de governo ditatorial. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável.”

Lula foi ainda mais claro: “[No Brasil] pela primeira vez um ex-chefe de estado foi condenado por atentar contra o Estado de Direito, julgado e responsabilizado em um processo minucioso com direito a ampla defesa — prerrogativa que ditaduras negam. O Brasil deu recado aos autocratas: nossa democracia e soberania são inegociáveis.”

Em uma breve sentença, o discurso de Lula pareceu voltado a Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, e outros brasileiros auto exilados nos EUA, apontados como articuladores das tarifas contra o Brasil junto ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos. “Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”, disse Lula. O presidente descartou ainda os projetos de anistia em debate no Congresso: “Não há pacificação com impunidade”. 

Após dar os recados de interesse político do Brasil no momento atual, o discurso de Lula retornou aos temas que historicamente foram de seu interesse — o combate à fome e a pobreza. “Democracia sólidas vão além do ritual eleitoral; seu rigor pressupõe redução das desigualdades, garantia a alimentação, segurança, moradia e saúde. A pobreza é inimiga da democracia tanto quanto o extremismo.” 

O presidente comemorou a saída do Brasil do mapa da fome novamente em 2025. Para combater a pobreza, Lula defendeu que a comunidade internacional precisa reduzir gastos com guerras e aumentar ajuda ao desenvolvimento, aliviar o serviço da dívida sobretudo aos países africanos, e aumentar impostos para super ricos.  

Por último, a fala de Lula se voltou ao conflitos internacionais — defendeu o Haiti, Venezuela e Cuba contra sanções. Dedicou boa parte do discurso a recriminar o genocídio em curso em Gaza, enquanto congratulou judeus críticos à política beligerante de Israel. Sobre a guerra na Ucrânia, entretanto, foi ambíguo. Defendeu uma “solução realista” com conceções de ambas as partes. A ideia de que a Ucrânia deve ceder territórios invadidos à Rússia contradiz o protesto de Lula contra o expansionismo e imperialismo.