A declaração de Xi Jinping nesta segunda-feira, 24, de que “o retorno de Taiwan à China é uma parte fundamental da ordem internacional pós-guerra” não deve ser lida apenas como reafirmação da posição histórica de Pequim. Trata-se de um sinal claro de como os rumos da política mundial podem ser moldados nas próximas décadas.

Taiwan é mais do que uma ilha com governo próprio, tornou-se símbolo de soberania, democracia e resistência frente às ambições chinesas. Ao colocar sua reunificação como condição para a estabilidade global, Xi insere a questão no centro da geopolítica contemporânea. Isso significa que o futuro da ordem mundial não será definido apenas por tratados ou alianças, mas pela forma como grandes potências lidam com disputas de legitimidade e soberania.

Em conversa com Donald Trump, Xi destacou que “a China e os Estados Unidos já lutaram lado a lado contra o fascismo e o militarismo, e agora devem trabalhar juntos para salvaguardar os resultados da Segunda Guerra Mundial”. A fala não trata apenas de Taiwan, mas de quem terá o poder de definir as regras do sistema internacional, incluindo o domínio sobre tecnologias estratégicas, como semicondutores e inteligência artificial, fundamentais para a área militar.

Se a China conseguir impor sua visão, veremos uma ordem global menos centrada nos valores liberais, do ponto de vista político, defendidos pelo Ocidente e mais voltada para a lógica de soberania absoluta às autocracias e não intervenção. Ainda assim, não se deve esperar um confronto militar imediato entre China e Estados Unidos.

Ambos sabem que um embate direto teria consequências devastadoras para suas economias e para a estabilidade internacional. O próprio Xi reforçou que “a cooperação beneficia ambos os lados, enquanto o confronto prejudica ambos”, sinalizando que, apesar da pressão sobre Taiwan, Pequim busca enquadrar sua visão dentro de uma lógica de estabilidade e cooperação.

O cenário que se desenha é de retaliações indiretas, como pressões econômicas: tarifas, restrições comerciais e boicotes estratégicos; disputas tecnológicas: controle sobre semicondutores, inteligência artificial e cadeias de suprimento críticas; influência diplomática: busca por apoio em organismos multilaterais e aproximação com países-chave para isolar o adversário; e exibição militar: exercícios conjuntos, presença em mares estratégicos e demonstrações de força sem ultrapassar o limite da guerra aberta.

O futuro global está sendo definido não nas trincheiras, mas nos tabuleiros da economia, da tecnologia e da diplomacia. A afirmação de Xi Jinping delimita o campo de batalha simbólico e Taiwan é o epicentro de uma disputa que dificilmente explodirá em guerra direta, mas que se manifestará em múltiplas formas de retaliação entre China e Estados Unidos. O resultado dessa disputa definirá não apenas o destino da ilha, mas os contornos da ordem mundial nas próximas décadas.