Banco Master expõe o risco das “oportunidades boas demais para ser verdade” e a conta que sobra para o FGC
21 novembro 2025 às 14h47

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A liquidação do Banco Master é mais do que um episódio isolado. É um retrato nítido de um problema recorrente no mercado financeiro brasileiro: a tentativa de transformar rentabilidade extraordinária em vitrine comercial, mesmo quando não há base sólida para sustentar essas promessas.
O Master decidiu competir pela via mais arriscada: oferecer CDBs com taxas muito acima do que os pares pagavam. Segundo os relatos, taxas de 30% ao ano, IPCA + 19% e até mais. Era o tipo de rentabilidade que não nasce de eficiência, inovação ou escala, mas de necessidade urgente por captação.
E quando o retorno oferecido destoa demais do mercado, isso costuma indicar que a estrutura está pedindo socorro, não celebrando prosperidade. Como todo bom ditado popular sugere (“quando a esmola é grande, o santo desconfia”), aqui poderíamos dizer que “quando a rentabilidade promete demais, o risco se esconde”.
Ou ainda: “quando o prêmio é extraordinário, o fundamento costuma ser frágil”. No mercado financeiro, não existe almoço grátis. Quando uma instituição paga muito mais do que as outras para captar recursos, o investidor não deveria enxergar ali uma oportunidade, mas um sinal evidente de que há risco escondido, e risco elevado normalmente aponta para fragilidade de caixa.
No caso do Banco Master, essa fragilidade desabou sobre credores, investidores e sobre o sistema financeiro como um todo quando o Banco Central decretou a liquidação. Mas para quem analisou com calma, havia bandeiras vermelhas.
O banco recorria à emissão intensa de CDBs para captar recursos rapidamente. Os ativos onde esses recursos eram aplicados tinham lastros duvidosos, como por exemplo, créditos de precatórios, operações de carteira de crédito compradas a valores não transparentes.
A remuneração altíssima já era um indício de compensar o risco elevado, ou de ignorar o risco. Como um “prêmio de risco” elevado mais parecendo “prêmio de ilusão”. Quando algo rende muito acima do comum, não é apenas “uma oportunidade boa”, pode estar dizendo “o mercado não confia tanto nisso quanto te convidam a acreditar”.
E, de fato, o Banco Central tomou providência de liquidação extrajudicial. Então, sim: oferta de CDBs com taxas exorbitantes, vistas por muitos como “oportunidade”, no fim se revelaram armadilhas para investidores menos atentos.
O papel do FGC e suas fragilidades
Esse cenário levanta um debate inevitável: o mecanismo do FGC precisa ser repensado. Não no sentido de reduzi-lo ou de fragilizar sua proteção, mas de revisitar como ele pode evitar ser utilizado como rede de segurança para estratégias comerciais irresponsáveis.
Talvez seja hora de discutir critérios mais rígidos para instituições que oferecem remunerações fora da realidade, especialmente aquelas que dependem do FGC como parte de sua narrativa de “risco zero”.
A garantia não deveria funcionar como licença para que bancos busquem captação a qualquer custo, nem como escudo para operações que desafiam a lógica de mercado. O FGC existe para dar um colchão de segurança aos investidores de renda fixa, em caso de falência ou liquidação de uma instituição associada.
No entanto, o caso Banco Master expõe várias fragilidades do sistema. O FGC garante até cerca de R$ 250.000 por CPF ou CNPJ por instituição (na garantia ordinária). Para muitos que se deixaram seduzir pelas taxas elevadas, esse limite pode não cobrir o montante investido.
Estimativas falam em cerca de R$ 41 bilhões de garantias envolvidas no caso do Banco Master, atingindo cerca de 1,6 milhão de credores. Isso significa que, se o banco falhar, o FGC será “acionado” em grande escala, e embora diga que “tem patrimônio suficiente”, o cenário por si só já gera risco moral e sistêmico: se muitos bancos fazem isso, o fundo pode ficar vulnerável.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou mudanças nas regras do FGC motivadas, em parte, pelo caso Master, tais como limitar emissões “turbinadas” de CDBs, prever que instituições muito alavancadas devem aplicar excedente em títulos públicos.
Ou seja: o sistema reconheceu que não basta ter garantia, é preciso que a captação e a alocação de risco do emissor sejam coerentes. Enquanto o investidor continuar acreditando que rentabilidade extraordinária vem sem riscos extraordinários, episódios como esse se repetirão.
E enquanto o FGC continuar sendo forçado a absorver a implosão de modelos insustentáveis, o sistema financeiro brasileiro seguirá pagando por distorções que poderiam ser evitadas com regulação mais firme e educação financeira mais clara.
O episódio do Banco Master oferece lições que todo investidor de renda fixa deveria considerar. Taxas altíssimas são sedutoras, mas também podem sinalizar risco elevado ou estrutura frágil.
“Rendimentos elevadíssimos” em CDBs de bancos pequenos devem gerar o questionamento: por que esse banco está oferecendo tanto mais que os demais? O FGC não é “uma póliza de seguro ilimitada e instantânea”.
Há prazos para acionamento, limites de cobertura, e em caso de instituição muito grande ou crise sistêmica, a cobertura tem limites práticos. Em vez de olhar apenas para a taxa, olhe para quem está emitindo.
Se há alavancagem elevada, exposição a carteiras de risco, emissão rápida de títulos, mudança abrupta de estratégia são sinais de alerta. Quando muitos emissores começam a operar no limite da garantia do FGC, o sistema fica mais fragilizado, e isso afeta investidores “normais” que buscam alternativas de renda fixa mais seguras.
O fundo pode estar “sobrecarregado” por “oportunidades” que na prática são ciladas. Se sua aplicação ultrapassa o limite de cobertura, diversificar entre emissores sólidos, manter uma parte em instituições grandes e bem reguladas, e evitar concentrar montantes em bancos menores com promessas “irresistíveis” pode reduzir o risco.
Quando o retorno brilha mais do que deveria, é porque a estrutura por trás está no escuro. E, quando as luzes se apagam, quem pagará o custo não é apenas o banco que errou, mas todos nós.
