“Justiça climática para quem?”: catástrofes ambientais deixam de ser uma possibilidade em meio ao capitalismo desenfreado

16 outubro 2025 às 10h39

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Por João Reynol
Mais de 160 pesquisadores, de 23 países e 87 instituições, publicaram um relatório de 300 páginas com um alerta que já era esperado: pela primeira vez, a Terra atinge o primeiro patamar crítico e irreversível de desastres climáticos.
O relatório da fundação Global Tipping Points (Pontos de Inflexão Globais, em português), da Universidade de Exeter, na Inglaterra, apresenta cenários em que o planeta pode entrar no chamado feedback loop — um ciclo vicioso em que as causas e os efeitos das mudanças climáticas se confundem. Contudo, um desses cenários já foi ultrapassado, com a constatação da morte em massa de corais ao redor do globo, o que representa um marco histórico e preocupante para o futuro do planeta.
O documento foi redigido em antecipação à reunião da COP30, que será sediada em 2025 na cidade de Belém, capital do Pará, e deve discutir as medidas que precisam ser adotadas pelos protagonistas globais para evitar novos desastres climáticos. Na ocasião, líderes mundiais deverão firmar e renovar compromissos, além de destinar os recursos necessários para o enfrentamento das mudanças ambientais.
Um dos destaques da edição de 2025 é o tema da Justiça Climática, liderado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com foco na equidade, na inclusão e na reparação das populações mais vulneráveis aos impactos da crise climática.
Espera-se que a maioria dos sistemas de inflexões amplifiquem o aquecimento global se forem ultrapassados, dificultando o retorno a níveis mais baixos de aquecimento global em um período de superação. Pressões adicionais, como outros estressores antropogênicos, sistemas de inflexão interagindo e ciclo vicioso do sistema terrestre, podem amplificar ainda mais os riscos de ultrapassar os patamares. A redução dos estressores antropogênicos diretos pode reduzir a probabilidade de inflexões induzido pelo clima para alguns sistemas (por exemplo, interromper o desmatamento da Amazônia).
Por definição, o discurso da Justiça Climática está alinhado à crise existencial do capitalismo no século XXI, à medida que o sistema segue em um ritmo desenfreado de produção, sem a mínima preocupação socioambiental. Enquanto a ordem mundial caminha para um mundo mais corporativista e menos humano (ao agrado de líderes da extrema-direita e bilionários), resta a pergunta: Justiça Climática para quem?
Discutir Justiça Climática, portanto, é apontar os principais responsáveis pelas mudanças climáticas e pela morte dos corais: as megacorporações petrolíferas, como a Shell e a BP.
Corporações como essas têm causado danos duradouros e irreversíveis ao meio ambiente e a ecossistemas locais, afetando diretamente as comunidades que deles dependem — como as que vivem na costa da África e sofrem com os impactos da extração de petróleo. Ao mesmo tempo, colocam nações inteiras em risco de extinção, à medida que o aumento do nível do mar ameaça dezenas de países insulares. Por isso, se deve propor resoluções que limitam o seu escopo de atividade e produção para enfim atingir a verdadeira Justiça.
Analisar o problema sob outro ângulo é ignorar — e isentar — os verdadeiros protagonistas do desenfreio capitalista. Essa mensagem foi compreendida por ativistas como a sueca Greta Thunberg, que deixou de agradar as nações ao abandonar as cobranças brandas por medidas ilusórias para confrontar diretamente as corporações e o sistema econômico global que as sustenta.