Professor sem PCCR, isso é vida: mendigar seus direitos

01 outubro 2025 às 14h16

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Por: Fernando Maciel Vieira
No estado de Toga, governado pela Sábia, tudo parecia poesia de palanque: promessas de valorização, discursos com cheiro de futuro, palavras bonitas que cabiam até em outdoor. O secretário, o João de Barro, fazia pose de arquiteto do amanhã, mas na prática só construiu um ninho de promessas vazias.
A grande novela era o PCCR. Ah, o PCCR… esse bicho mitológico que todo professor ouve falar, mas nunca vê. Um plano que deveria organizar a carreira, garantir salário digno, abrir caminho para progressão. Mas ficou só no papel das intenções, perdido entre “iremos analisar”, “vamos discutir” e “estamos planejando”. Enquanto isso, a classe docente continua com o mesmo contracheque anêmico, menor que lanche de estudante em recreio.
Quando a pressão subiu, a governadora Sábia perdeu o trono. A polícia bateu na porta. Os professores promessa !!! O vice Beija-Flor assumiu. Mas, ao contrário do que o nome sugere, não trouxe alegria nem voo alto. Parou no galho seco, bicando promessa e olhando pro nada. Até hoje o professor espera uma resposta — e o que recebe é silêncio.
E o professor, como sempre, segura o pincel seco, riscando quadro branco com tinta que falha no meio da explicação. E pensa:
— Isso é vida?
Viver mendigando direito? Trabalhar em três escolas para pagar as contas e ainda ser chamado de preguiçoso por quem nunca encarou uma sala com 40 alunos, cada um com sua história, sua fome e sua dor?
A ironia é essa: professor é o único profissional que forma todos os outros, mas é o que menos vale no contracheque. Médico ganha bem, engenheiro tem status, advogado cobra por hora. E o professor? Recebe salário que mal paga a feira, e olha lá.
Chico Anysio já dizia, lá atrás: “o salário, ó!”. E desde então só piorou. O professor virou especialista em esticar dinheiro até o fim do mês. Aprende matemática da sobrevivência: divide conta de luz com cartão de crédito, multiplica bicos, soma paciência e subtrai dignidade.
E aí vem a pergunta que não quer calar:
— Como atrair novos professores com esse cenário?
Do jeito que está, cada vez menos gente vai querer encarar o ofício. E quando faltar professor, o que vai ser do futuro da educação? Vai ter escola com prédio, mesa, computador e até ar-condicionado, mas sem mestre na frente. Sala sem professor é como hospital sem médico: não funciona.
Durante a pandemia, o mundo descobriu o valor do professor. Quando as escolas fecharam, pais e mães enlouqueceram em casa. Aí entenderam: ensinar exige paciência, preparo e profissão. Mas assim que a poeira baixou, tudo voltou ao normal — ou melhor, ao anormal. Promessa de valorização virou pó, e os professores voltaram à rotina de mendigar direitos básicos.
E a luta pelo PCCR é isso: não é luxo, não é capricho. É só o mínimo para garantir que a profissão não morra. Sem ele, ser professor em Toga virou um exercício de resistência, quase um ato de fé. É acordar cedo, enfrentar ônibus lotado, entrar em sala com Climatizador quebrado, dar aula com pincel falhando e ainda sair com salário que não compra nem dignidade.
E fica o sarcasmo: no palanque, todo mundo jura amor à educação. Todo político repete o mantra “professor merece valorização”. Mas quando chega a hora de pagar, o amor evapora. O discurso some. E sobra para o professor a velha pergunta:
— Isso é vida?
Ou será que a vida do professor é só encenação nesse teatro da política, onde os palhaços não estão no picadeiro, mas sentados nas cadeiras do poder?