Portilho Prado: “Acreditamos no poder do crédito para transformar ideias em negócios de sucesso”

19 janeiro 2025 às 08h04

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Lyndon Johnson Portilho Prado é o atual presidente da Agência de Fomento do Estado do Tocantins. Graduado em Ciências Contábeis e com especializações em Gestão e Auditoria na Administração Pública, além de um MBA Executivo em Negócios Financeiros, Portilho construiu uma sólida carreira de mais de três décadas no setor financeiro. Ele passou por instituições renomadas como o Banco do Estado de Goiás (BEG), Banco do Brasil e Sicoob, consolidando sua expertise em liberação de crédito e gestão de riscos. Com uma trajetória marcada pelo apoio ao empreendedorismo, Portilho Prado tem ajudado empreendedores a transformar ideias em negócios sustentáveis.
Nesta semana, a Agência de Fomento do Tocantins anunciou a nova linha de crédito “Crédito Acessível 2”, com taxas de juros reduzidas, a partir de 0,98% ao mês, voltada para microempreendedores individuais (MEIs), profissionais liberais e pequenos empresários. A iniciativa visa oferecer condições acessíveis para impulsionar o empreendedorismo e estimular o desenvolvimento econômico do estado.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Portilho Prado falou sobre a importância da nova linha de crédito, os desafios e avanços na estruturação da agência e as estratégias para ampliar o alcance dos financiamentos no Tocantins.
Vamos começar falando dessa trajetória do senhor até chegar na Agência de Fomento do Estado. Como foi a sua chegada até lá?

Eu iniciei a minha carreira profissional como funcionário do estado de Goiás, trabalhei com recursos humanos de Goiás. Trabalhei na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, daí fiz o concurso do Banco do Estado de Goiás, fiz carreira lá e saí em um Plano de Demissões Voluntárias (PDV). Fiz o concurso do Banco do Brasil, trabalhei quase 25 anos no Banco do Brasil. Me aposentei há dois anos e aí tive um convite para trabalhar no Sicoob (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil) aqui no Tocantins, aqui em Palmas mesmo.
Mas lá eu trabalhei só por quatro meses, quando o nosso governador Wanderlei Barbosa fez o convite para estar trabalhando com ele no governo, à frente da Agência de Fomento do Estado do Tocantins. Iniciei lá na diretoria enquanto transcorria o período do mandato da ex-presidente. Então, logo houve essa vacância do cargo dela, eu fui eleito pelo conselho de administração da agência e tomei posse como presidente no dia 30 de outubro de 2024.
Como foi essa saída do Banco do Brasil para a Agência de Fomento? Teve muita diferença no trabalho que o senhor já exercia?
Essa mudança foi um pouco grande, porque o Banco do Brasil é uma instituição financeira que tem uma dimensão, um tamanho gigantesco. São mais de 6 mil agências pelo país todo, são mais de 20 mil funcionários entre funcionários diretos e indiretos. A nossa Agência de Fomento, embora tenha uma dimensão bem menor, é muito grande para o nosso estado devido à sua importância.
A importância da Agência de Fomento para o estado do Tocantins é muito grande porque ela traz a possibilidade de os pequenos, micro, MEIs, médios empresários e empreendedores do estado do Tocantins alcançarem operações de crédito com juros bem mais acessíveis e prazos mais dilatados.
E no momento que nós estamos passando na nossa economia, as taxas de juros estão bem elevadas. Então, é um momento muito propício, muito oportuno. O governo do estado possibilitou que essas linhas de crédito que nós estamos reeditando possam ajudar os nossos empreendedores do estado do Tocantins a manterem os seus negócios ativos ou, até mesmo, naqueles que ainda não têm seus negócios implantados aqui no estado do Tocantins e que desejarem fazê-lo. É uma grande oportunidade para conhecer a Agência de Fomento e entender qual é o propósito dela.
E já que o senhor já começou a falar, qual é a importância e como funciona a Agência de Fomento? Em geral, os empresários já conhecem um pouco, mas para a população em geral, como o senhor explicaria o que é essa agência?
A Agência de Fomento está aberta para atender todos os empreendedores que desejam implantar seus negócios aqui no estado do Tocantins. Isso quer dizer que pode ser, naturalmente, um tocantinense ou qualquer outro cidadão brasileiro que deseje trazer os seus negócios para o estado.
Então, qualquer cidadão brasileiro também tem acesso a essas linhas de crédito, porque o propósito da Agência é atender à demanda de recursos para gerar mais empregos e fortalecer mais a nossa economia do estado.
Essa semana, a Agência anunciou um novo tipo de financiamento, o “Crédito Acessível 2”, que possui taxas de juros a 0,98%. Como funciona essa nova linha de crédito?
Essa linha de crédito, como o nome já pressupõe, já houve no passado um momento em que a Fomento se utilizou dessa linha, e nós estamos reeditando porque foi uma linha que teve muito sucesso.
Quem pode contratar o “Crédito Acessível 2”? Como eu já disse, os MEIs, médios e pequenos empreendedores, pessoas físicas, profissionais liberais, autônomos, taxistas. Tem uma linha que chama mobilidade urbana, que é destinada aos taxistas. Todas essas linhas têm a taxa de 0,98%.
O piscicultor e o agricultor familiar também têm acesso. Ou seja, nós estamos aí disponibilizando esse recurso para comércio, pequenas indústrias, prestadores de serviços, autônomos, mobilidade urbana: taxistas, piscicultores e agricultura familiar.
Ou seja, nós estamos atendendo praticamente todo o conjunto de produtores, de alguma forma, do nosso estado do Tocantins, através dessa linha.
E para o empreendedor ou empresário que queira entender melhor e acessar esse serviço, como é que ele faz?
Nós temos o site, temos também o Instagram, que é fomento.to.gov.br. Nós temos a Agência de Fomento aqui na capital, que fica na Teotônio Segurado, quadra 802 Sul, número 9, sentido Aeroporto-Centro.
Temos também atendimento em Araguaína no Pronto de Araguaína, em Gurupi e no Pronto de Porto Nacional. Além de Palmas, hoje nós temos esses três pontos de atendimento, com servidores do estado qualificados para prestar atendimento a todo aquele que deseja acessar o crédito da Agência de Fomento.
Agora, complementando a outra pergunta que você me fez, uma agência de fomento é como se fosse um banco. Para ficar claro para os leitores, é o seguinte:
é como se fosse um banco onde você vai e toma crédito e, depois, vai pagar esse crédito parceladamente.
A nossa agência não tem cartão de crédito ainda, não tem conta corrente para os empresários e empreendedores, mas nós temos linhas de crédito. Essas linhas de crédito são empréstimos para capital fixo, para investimentos e o misto, que é capital fixo e investimento.
Para ficar mais fácil de entender, capital de giro é aquele valor que o empresário toma para poder pagar as suas despesas diárias, pagar sua luz, pagar os salários dos funcionários, comprar mercadoria para revenda. Isso é capital de giro. Já o valor tomado para ampliar o negócio, comprar equipamentos, aumentar sua produção, comprar um veículo, por exemplo, é investimento. Ele vai ampliar o seu negócio através daquela linha de crédito. E o misto é aquele que ele utiliza para as duas coisas: ele vai comprar um equipamento e vai pagar o salário do funcionário para operar o equipamento novo. Então, essa é a linha mista que a gente chama.
Especificamente no “Crédito Acessível 2”, vai ter essas duas possibilidades?
Sim, as duas possibilidades, eu diria até três: capital fixo, capital de giro e o misto.
E existe algum limite nos valores desse crédito? Qual o critério para o empréstimo?
Microempreendedores, os MEIs, são de até R$30 mil. Agora, os demais vão até R$150 mil. O valor que é operacionalizado com cada CNPJ, vamos dizer assim, é feito de acordo com a capacidade de tomador daquela empresa, daquela pessoa, daquele profissional. Os valores variam de acordo com a capacidade dele. Esse limite é feito por uma análise e, aí, o valor vai ser disponibilizado de acordo com a capacidade dele, levando em conta quanto ele vende, quanto fatura, qual o valor total das despesas.
A gente faz essa análise de toda a situação econômica e financeira do proponente e calcula o valor que ele pode tomar.
Os prazos são de até 60 meses para pagar, ou seja, são 60 parcelas. Isso dá cinco anos, com até dois meses de carência. Isso significa o seguinte: o cliente tomou um valor de, vamos supor, R$30 mil. Ele começa a pagar o empréstimo em 60 dias e terá mais 60 meses para concluir o pagamento das 60 parcelas.
Com relação à taxa de juros, eu sei que você vai me perguntar também, vou te explicar como funciona. A taxa de juros que nós estamos operando agora, essa de 0,98%, é uma taxa equalizada. O que isso significa? Nós trabalhamos com a taxa de 2,5%, mas aquele empreendedor, profissional liberal ou autônomo que pagar sua prestação em dia, a taxa cai para 0,98%.
Para você ter uma ideia, fazendo esse cálculo, um valor de R$10 mil cai para uma média de R$400 a menos por parcela, em função da equalização. A equalização é feita com recurso do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Sustentável do Estado. É o Governo do Estado do Tocantins, por meio desse fundo, que faz essa equalização, tornando a taxa mais amena, mais baixa, para que o empreendedor possa investir, melhorar seu giro, sua capacidade de atendimento, aumentar o faturamento, contratar mais um, dois ou três empregados e, assim, girar a economia do nosso estado, ampliando a capacidade de gerar receita.
Nesse caso, os juros de 0,98% são fundamentais para que o empresário pague em dia o parcelamento?
Exatamente. A taxa cai para 0,98%. Eu até chamo isso de bônus de adimplência. É um abatimento para quem paga em dia. Se o empresário tiver qualquer problema e não pagar na data certa, ele perde o bônus e já vai para o juro de 2,5%.
Falando agora do Tocantins de uma forma geral. Como está a liberação de crédito aqui no estado? Quais são as principais atividades, ramos, onde esses empréstimos mais se concentram?
De um certo tempo pra cá, nós temos operado muitos valores para projetos de turismo. Nós temos uma linha de crédito que se chama Fungetur, que é uma linha de crédito que vem diretamente do Ministério do Turismo.
Nossas linhas de turismo possuem valores mais elevados, são projetos mais elaborados, mas a gente tem uma expertise já muito grande em operar o turismo e temos tido muito sucesso, muito êxito nessa construção. Nosso turismo no estado do Tocantins tem recebido um apoio muito grande nesse segmento.
Uma coisa que eu gostaria de complementar sobre as operações de turismo é o seguinte: as nossas linhas de crédito de turismo não são limitadas, por exemplo, a hotelaria. Nós operamos o turismo em hotéis, pousadas, restaurantes, bares, empresas de turismo e guias de turistas. Então, ela contempla toda atividade que atenda o turista. Até cafeterias nós temos financiado. O empresário tem uma empresa de material de construção e, lá dentro, ele implanta um sistema de cafeteria. Nós podemos financiar aquela cafeteria pra ele, com a taxa de turismo.
E de onde vêm esses recursos para esses financiamentos?
Essa operação do “Crédito Acessível 2”, por exemplo, tem recurso próprio da Agência de Fomento e tem recurso do Fundo de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado do Tocantins. Então, ele é um mix de recursos que pode atender essa taxa mais atrativa, mais acessível para o empresariado tocantinense.
E sobre a taxa de inadimplência, sobre os riscos desses empréstimos, em geral, o tocantinense tem se comprometido a fazer os pagamentos das parcelas?
O tocantinense é muito pontual. Ele gosta de pagar as suas contas em dia.
As operações são todas garantidas através do Fundo de Amparo ao Microempresário (Fampe).
A gente trabalha com a maior segurança para que esses recursos retornem para a Fomento e a Fomento possa reemprestar esses recursos. Nossa taxa de inadimplência é uma das mais baixas do mercado também.
Agora, falando sobre economia verde e agricultura familiar, existem linhas ou projetos para esse tipo de setor?
É o seguinte: a área, o segmento de agricultura familiar que faz o seu projeto, seu investimento, consorciado o cultivo de arroz, por exemplo, e faz isso com florestas e lavouras. Ela pode ser contemplada com a linha de crédito da agricultura familiar, que é uma linha que visa atender esse segmento de produtores menores, mas sempre observando a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente.
Outro tema que desperta interesse é a tecnologia. Que linhas ou ações da Agência de Fomento podem contribuir para alavancar esse setor no estado?
Nós temos uma linha que se chama Finep, que é Financiamento de Projetos de Inovação. É uma linha que tem uma taxa de juros bem acessível, um prazo longo também. É uma linha que atende à inovação.

Por exemplo, nós iniciamos as operações agora no final do ano passado. Já temos operações ativas contratadas aqui no estado, mas estamos ampliando ainda mais o crédito para inovação. Se o empresário tem algo que seja inovador, buscamos o recurso do Finep, que tem uma taxa muito atrativa. Vou te dar um exemplo: uma empresa que deseja implantar uma clínica médica em um município onde não existe esse recurso. Apesar de uma clínica médica de exames não ser uma inovação, naquele município é uma inovação, sendo passível de análise pelo Finep.
Outro exemplo: um sistema de aplicativo de celular que organiza a sua agenda de trabalho, que já existe, mas que o empresário decide adaptar para atender outro segmento. Isso é uma inovação, apesar de já existir. Vou te dar mais um exemplo: está sendo criada aqui no estado do Tocantins uma empresa que vai atender pessoas idosas. Essa instituição vai receber o idoso de manhã, como se fosse uma escola. O idoso passará o dia todo ali desenvolvendo várias atividades e, à tarde, retorna para casa. Para o estado, isso é uma inovação, passível de análise pelo Finep.
Partindo agora para a organização da Agência de Fomento. A estrutura da agência migrou para a Teotônio Segurado, na 802 Sul, como o senhor havia dito. Por que foi feita essa mudança e qual a estrutura que a agência possui hoje?
A princípio, precisávamos atender a uma solicitação do Ministério Público em relação à acessibilidade. Então, decidimos procurar um prédio que atendesse essa exigência, que hoje nos é imposta e é muito justa, muito necessária.
Conciliamos a exigência do Ministério Público com a própria necessidade da Agência de Fomento, que cresceu muito.
Realizamos o concurso ainda nesse governo, contratamos alguns concursados, e estamos chamando mais seis em breve.
Precisávamos de um maior espaço físico e conciliamos a questão da acessibilidade com a ampliação do espaço.

Encontramos um prédio que, acredito, trouxe mais visibilidade para a Agência de Fomento. Isso é muito importante, porque todo tocantinense precisa saber onde está a Agência de Fomento e o que ela pode fazer pelo empresariado, pelo empreendedor, por quem realmente busca auxílio financeiro.
Agora, com essa mudança, acreditamos que traremos essa visibilidade que o nosso governador pretendia e também conforto tanto para a população quanto para os servidores que ali trabalham.
E com relação aos outros pontos de atendimento no estado? Atualmente, a agência já está em Araguaína, Gurupi e Porto Nacional. Já existe algum estudo ou intenção de abrir um escritório em outra cidade do Tocantins?
Sim. Estamos aguardando a Secretaria de Administração, mais uma vez em parceria com o governo do estado, para a abertura de novos Prontos. Acredito que o objetivo do governador é aumentar o atendimento da Rede Pronto, e nós estamos nesses três locais sediados junto com o Pronto. Acreditamos que a rede será ampliada, e estaremos juntos com a Secad e o governo do estado nessa expansão.
Ainda não posso te dizer qual cidade será contemplada, mas acredito que o governo já tenha um estudo para abranger as principais cidades. Eu fico vislumbrando Paraíso, Guaraí, Colinas, que já merecem ter um Pronto. No Bico do Papagaio, Araguatins é uma cidade polo naquela região.
O Pronto é muito importante para o cidadão, porque ali ele encontra todos os serviços do estado disponíveis em um só lugar.
Ali estão os órgãos do estado que trabalham em sintonia, como Sefaz, Ruraltins, Naturatins, Adapec, Fomento e Sebrae, geralmente presente também, dando apoio. O Pronto realmente é um grande evento quando chega ao município.
Presidente, a gente agradece muito a entrevista. Para finalizar, como o senhor vislumbra esses próximos anos? Quais são os planos da agência daqui para frente?

Eu agradeço o convite e a oportunidade de mostrar um pouco de como é a nossa Agência. Eu acredito muito nas parcerias que estamos buscando. Estamos muito próximos de ampliar nosso portfólio de linhas de crédito junto com órgãos como o BNDES, Banco da Amazônia, Sebrae, Caixa e Banco do Brasil.
Estamos estreitando muitas possibilidades de novos negócios para o estado do Tocantins através da Agência de Fomento e ampliando esse atendimento. Acreditamos muito na geração de empregos para o estado, que vem se desenvolvendo muito economicamente.
Crescemos no ano passado 25% em relação a 2023. Pretendemos crescer mais 30% este ano. Estamos muito próximos de atingir esses números em 2025. Vamos chamar mais concursados e ampliar nosso portfólio de negócios.