Após um ano marcado por forte instabilidade política no Tocantins, o comércio de Palmas chega ao fim de 2025 entre expectativas moderadamente positivas e cautela. A prisão do prefeito da capital Eduardo Siqueira Campso (Podemos), o afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), a posse interina de Laurez Moreira (PSD) e, posteriormente, o retorno de Wanderlei ao comando do Executivo estadual, criaram um ambiente de insegurança institucional que se refletiu diretamente na economia. Soma-se a esse cenário as demissões de servidores públicos, não apenas na capital, mas também em pequenos municípios, com impactos diretos sobre renda, consumo e planejamento empresarial.

Especialistas avaliam que a instabilidade política tem efeito quase imediato sobre a economia local. O economista Higor Franco, bacharel em Economia e com mais de 20 anos de experiência em administrações públicas e no setor privado, explica que o ambiente de incerteza compromete decisões estratégicas tanto do poder público quanto da iniciativa privada. “Sem dúvida. O empresário, ao perceber instabilidade, deixa de vender para o poder público e reduz contratações. Isso impacta diretamente na arrecadação de ICMS e ISS, além de gerar desemprego e inadimplência. É um ciclo em que todos perdem: o Estado arrecada menos, o comércio vende menos e a população perde poder de compra. Por isso, estabilidade política e credibilidade na gestão são fatores fundamentais para manter a economia girando”, afirma.

Segundo Higor, os reflexos são ainda mais sensíveis para os pequenos empreendedores, que dependem diretamente da circulação de renda local. “O impacto é imediato. Quando centenas de servidores são demitidos, o consumo cai. Essas pessoas deixam de comprar, e o comércio sente na hora. É um efeito dominó: menos renda circulando, menos vendas, menos arrecadação. Por isso, cortar pessoal é sempre a pior alternativa. O caminho é reduzir custeio, enxugar contratos e manter a economia ativa”, avalia.

Economista Higor Franco | Foto: Jornal Opção Tocantins

Apesar do contexto político conturbado, o período de fim de ano segue como uma âncora importante para o varejo. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Tocantins (Fecomércio), Itelvino Pisoni, destaca que a expectativa é de um movimento positivo no comércio, em linha com a tendência nacional. “A expectativa da Fecomércio Tocantins é de um fim de ano com movimento positivo no comércio, acompanhando a tendência nacional. Mesmo com um cenário de juros elevados e maior cautela do consumidor, o Natal continua sendo a principal data do varejo, impulsionando as vendas e a geração de empregos temporários, especialmente nos segmentos de alimentos, vestuário e serviços”, afirma.

Itelvino Pisoni | Foto: Divulgação/Fecomércio

Para 2025, a projeção é de crescimento, ainda que moderado. “A projeção indica um desempenho levemente superior ao de 2024, mas com crescimento moderado. A CNC estima um avanço real de 2,1% no volume de vendas neste Natal, o que mostra que o comércio segue crescendo, embora em um ritmo mais contido, refletindo um cenário econômico que exige planejamento e cautela”, explica Pisoni.

Na avaliação da Fecomércio, a instabilidade política afeta diretamente o comportamento do consumidor, sobretudo em Palmas. “A instabilidade política naturalmente gera mais insegurança e tende a tornar o consumidor mais cauteloso, sobretudo em centros urbanos como a capital. Ainda assim, o período natalino tem um peso emocional muito forte, o que ajuda a sustentar o consumo, mesmo com decisões de compra mais planejadas”, observa o presidente da entidade.

Esse comportamento mais racional também tem sido percebido pelos empresários do setor. “Os empresários têm adotado uma postura mais responsável e estratégica. Há confiança no movimento do período, mas com planejamento cuidadoso, controle de estoques e foco em produtos de maior giro, diante de um cenário de crédito mais caro e maior atenção ao fluxo de caixa”, relata Pisoni. Entre os fatores que favorecem as vendas, ele destaca o pagamento do 13º salário e a renda acumulada ao longo do ano. Por outro lado, juros elevados, alto endividamento das famílias e restrição ao crédito seguem como limitadores, apontando para um Natal de crescimento contido e consumidores mais atentos a preços e condições de pagamento.

No cenário nacional, os números reforçam a importância da data para o varejo. Levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil aponta que o Natal deve movimentar cerca de R$ 84,9 bilhões em todo o país. A pesquisa indica que quase oito em cada dez consumidores pretendem comprar ao menos um presente, o equivalente a aproximadamente 124,3 milhões de brasileiros. O gasto médio estimado é de R$ 174, valor superior ao registrado em anos anteriores, refletindo maior disposição ao consumo, ainda que com planejamento.

No Tocantins, a Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado (Faciet) avalia que esse comportamento nacional tende a se refletir no comércio local, especialmente nos principais polos urbanos. Para o presidente da entidade, Fabiano do Vale, o Natal segue como a principal âncora de vendas do varejo tocantinense. “O Natal é o período que mais movimenta o comércio, e fortalecer essa data é fundamental para garantir fluxo de clientes e competitividade para as empresas tocantinenses. As campanhas natalinas que promovemos todos os anos buscam justamente incentivar o consumo local, valorizar nossos empreendedores e criar um ambiente mais atrativo para quem vai às compras”, afirma.

Na ponta, pequenos empreendedores relatam sentir os efeitos combinados da instabilidade política e da redução do poder de compra. A empresária Stefany Campos, que atua no ramo de banho e tosa de pets em Palmas, descreve um ano de ajustes e frustração em relação às expectativas tradicionais de fim de ano. “Em relação aos clientes, contratar pacote e contratar banho diminuiu. O que aumentou foi a quantidade de clientes ao longo do ano, o que já é previsto dentro do nosso cronograma. Mas quando chegou o mês 11 e o mês 12 eu senti diferença. No mês 11, eu cheguei a fazer umas contas de quase três mil reais de diferença em relação ao mês 10”, relata.

Segundo ela, dezembro apresentou melhora em comparação a novembro, mas ainda aquém do esperado. “O mês 12 está melhor que o mês 11, porém não está aquele embalo todo que a gente espera no mês 12, que é o melhor mês de um banho e tosa”, afirma. Stefany também observa mudança no comportamento dos clientes. “A procura de clientes novos diminuiu em relação ao ano passado. Os clientes que estão vindo, vêm com uma frequência menor. Antes eles davam quatro banhos, uma vez por semana. Hoje pulam um, pulam dois banhos. A gente fala que a rotina é corrida, mas acho que não é só isso”, avalia.

Estefany Campos durante trabalho | Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Para a empresária, fatores econômicos e políticos ajudam a explicar o cenário. “Senti um pouco, porque dezembro é um mês bom. Mas tem a questão política, tem toda a questão financeira do estado agindo por trás. Eu não estava sabendo. Se soubesse, teria me preparado melhor”, conclui.

Incentivos

Como forma de estimular o consumo e criar um ambiente mais favorável ao comércio neste fim de ano, a Prefeitura de Palmas também passou a atuar de maneira direta em ações de incentivo ao setor. Por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Empreendedorismo (Sedeem), o Município integra a campanha Natalzão CDL 2025, realizada em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Palmas, reforçando a estratégia de aquecer a economia local em um período decisivo para o varejo.

Dentro da programação, a penúltima etapa da campanha, denominada Comércio Luz, promove uma competição entre as empresas participantes interessadas em concorrer ao título de loja mais enfeitada da capital. A iniciativa prevê um prêmio de R$ 15 mil para a empresa vencedora e busca incentivar a criatividade, o espírito natalino e a valorização das vitrines e fachadas, contribuindo para tornar a cidade mais atrativa a consumidores e visitantes. Podem participar empresas sediadas em Palmas, mediante inscrição por formulário eletrônico até a próxima quarta-feira, dia 10.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Empreendedorismo, Henrique Nesello, destaca que a ação também funciona como ferramenta de visibilidade para os comerciantes. “Atendendo a uma determinação direta do nosso prefeito Eduardo Siqueira Campos, estamos ampliando as ações para valorizar o nosso comércio e incentivar que a população compre aqui na nossa cidade. E o Comércio Luz, etapa do Natalzão CDL 2025, é parte fundamental desse movimento, criando um fim de ano mais aquecido e atrativo para quem empreende e para quem consome”, afirmou.

Entre projeções otimistas, dados nacionais robustos e relatos de cautela no dia a dia, o comércio de Palmas encerra o ano tentando equilibrar esperança e prudência. O Natal segue como um período decisivo para fechar as contas e projetar 2026, mas a experiência recente reforça que estabilidade política e previsibilidade continuam sendo fatores centrais para sustentar o crescimento e a confiança no mercado local.