Casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas foram registrados em São Paulo, resultando em mortes. Até o momento, foram contabilizados 22 casos, sendo 17 suspeitos e 5 confirmados. Entre os óbitos, quatro estão em investigação e um foi confirmado como decorrente de intoxicação por metanol. Nesta terça-feira, 30, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, detalhou os principais sinais e sintomas da substância tóxica.

Na maioria das ocorrências, conforme Padilha, o primeiro sintoma é uma dor intensa, seguida de alterações na visão. Os sinais podem demorar até 24 horas para surgir.

“Uma dor muito diferente, porque é uma dor em cólica. As pessoas, às vezes, quando fazem ingestão de bebida alcoólica sentem uma queimação, falam que estão com azia, aquela coisa da ressaca. Não é queimação, não é azia. Pode até ter isso também. Mas a dor em cólica é algo que chama muito a atenção nesses casos”, destacou.

Em seguida, o ministro citou qualquer percepção de alteração visual. “O metanol vem pelo estômago, vai para o intestino, é absorvido para o fígado e, no fígado, é digerido e metabolizado. Saem dali substâncias como ácido fórmico e formaldeído, que são extremamente nocivas ao sistema nervoso central”.

Segundo Padilha, essas substâncias afetam o sistema nervoso central e o nervo óptico, provocando alterações na visão. “Por isso, as pessoas começam a perceber, às vezes, algum tipo de alteração visual. Começam a ver luzes, flashes e há até o risco de perda visual. Isso acontece de imediato? Não, não acontece de imediato”, completou.

O ministro alertou que os sinais e sintomas podem levar até 24 horas para se manifestar, dependendo do nível de hidratação e da ingestão de alimentos. “Sentiu 12 horas depois? Pode ser intoxicação por metanol. Sentiu 24 horas depois? Pode ser intoxicação por metanol”.

Ele ressaltou a importância da hidratação desde os primeiros sintomas para proteger os rins. “Se você estiver bem hidratado, pode estar eliminando mais rápido pela urina. Por isso é tão importante, quando começar a sentir os primeiros sinais e sintomas, a hidratação. Para proteger o rim”, explicou.

Padilha recomendou atenção especial para bebidas de origem desconhecida e alertou que medidas caseiras não são seguras. “Na medida em que começarem esses sinais e sintomas, procure os serviços de saúde. Não vá fazer qualquer medida por conta própria, não vá achar que tem algo milagroso para uma desintoxicação, qualquer tipo de lavagem”.

O ministro destacou que os serviços especializados possuem o antídoto para metanol. “Procure um serviço de saúde que ele vai ter a preocupação de te manter hidratado a níveis elevados e monitorar, dependendo da gravidade”, disse. “A gente tem o etanol específico para antídoto do metanol, registrado aqui no Brasil. Os serviços especializados de intoxicação têm e sabem o manejo desse produto”, concluiu.

Emergência médica

A intoxicação por metanol é uma emergência médica grave. A substância, ao ser ingerida, é transformada pelo organismo em produtos tóxicos como formaldeído e ácido fórmico, podendo levar à morte.

Os principais sintomas incluem visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado, com náuseas, vômitos, dores abdominais e sudorese.

Em caso de suspeita, é fundamental procurar imediatamente serviços de emergência e contatar pelo menos uma das seguintes instituições:

  • Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
  • CIATox de sua cidade para orientação especializada;
  • Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733.

Também é importante identificar outras pessoas que possam ter consumido a mesma bebida, orientando-as a buscar atendimento médico. A demora aumenta o risco de óbito.

Números registrados:

  • 1 morte confirmada por metanol;
  • 4 mortes sob investigação;
  • 5 casos de intoxicação por metanol;
  • 17 casos suspeitos de intoxicação por metanol.

O comitê de crise atua na interdição de estabelecimentos que venderam bebidas adulteradas, abertura de canais de denúncias, incluindo o Procon, e reforço da rede de saúde para atendimento das vítimas.

O secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, afirmou que o tratamento depende do estado do paciente, mas que todas as unidades de saúde do estado possuem o antídoto para metanol. Paiva reforçou a importância de buscar atendimento ao surgirem os primeiros sintomas.

Envolvimento do PCC

O governador negou qualquer evidência de participação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) nos casos de adulteração. “Tudo o que acontece agora em SP é PCC. Não tem evidência nenhuma de participação do crime organizado nisso”, afirmou.

Na segunda-feira (29/9), a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) havia relacionado os casos de intoxicação a metanol importado ilegalmente pelo grupo criminoso para adulterar combustíveis.

Alerta do Ministério da Justiça

Diferente de intoxicações anteriores por metanol, desta vez o consumo ocorreu em ambientes sociais, segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad). Em anos anteriores, os casos envolviam o uso deliberado de combustível por moradores de rua.

“A ingestão acidental ou intencional de metanol leva a intoxicações graves e potencialmente fatais. O cenário de adulteração é particularmente relevante do ponto de vista de saúde pública, pois episódios dessa natureza frequentemente resultam em surtos epidêmicos com múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, afetando grupos populacionais vulneráveis e exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias. Nesse sentido, requer alerta à população, considerando, inclusive, o início do fim de semana, quando há maior frequência a bares e consumo de bebidas alcoólicas”, afirmou a Secretaria.

Recomendações da Senacon

A nota técnica emitida pela Senacon orienta estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas em São Paulo e consumidores sobre sinais de adulteração. Entre as recomendações:

  • Adquirir bebidas apenas de fornecedores formais, com CNPJ ativo e regularidade;
  • Comprar com nota fiscal e conferir a chave de segurança na Receita Federal;
  • Não receber garrafas com lacres violados, rótulos desalinhados, baixa qualidade, sem identificação de fabricante ou lotes;
  • Implementar medidas de rastreabilidade, como dupla conferência;
  • Desconfiar de preços muito abaixo do mercado, odor incompatível e relatos de sintomas como visão turva, dor intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência;
  • Não realizar testes caseiros como cheirar, provar ou acender a bebida.

A nota reforça que essas práticas não são seguras nem conclusivas.