A quantidade de água que circula pelos rios do Cerrado brasileiro caiu 27% desde a década de 1970. O dado é de um estudo divulgado nesta segunda-feira, 23, pela Ambiental Media, com base em mais de 50 anos de medições da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O levantamento revela impactos em rios importantes do Tocantins, como o próprio rio Tocantins e o rio Araguaia.

Segundo o levantamento, a chamada “vazão de segurança”, volume mínimo de água disponível em 90% do tempo, passou de 4.742 m³/s nos anos 1970 para 3.444 m³/s no período de 2012 a 2021. Isso representa uma perda de cerca de 30 piscinas olímpicas por minuto que deixam de correr pelos rios da região.

A pesquisa analisou as bacias hidrográficas de seis rios que fazem parte do bioma: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins. Sendo que o rio São Francisco foi o que teve a maior redução na vazão, ou seja, a que mais secou.

Redução das chuvas e desmatamento

Os dados mostram que houve uma redução de 21% nas chuvas nas áreas estudadas, com uma queda de 680 mm para 539 mm por ano entre os dois períodos comparados. Ao mesmo tempo, a evapotranspiração, que é a perda de água do solo para a atmosfera, aumentou em 8%.

Além das mudanças climáticas, o estudo aponta o desmatamento como a principal causa da redução da água nos rios. O cerrado perdeu cerca de 22% de sua vegetação nativa nas últimas décadas. No Tocantins, esse processo está diretamente relacionado à expansão agrícola, especialmente o plantio de soja, que cresceu de forma acelerada na região conhecida como Matopiba (acrônimo de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Outro ponto de alerta é que o Cerrado concentra cerca de 80% dos sistemas de irrigação com pivôs centrais do país. Esse tipo de irrigação demanda grande volume de água e, segundo os pesquisadores, muitas vezes é feita sem controle efetivo sobre o impacto nos mananciais.

Políticas de proteção

Apesar da retomada do PPCerrado, plano federal para conter o desmatamento no bioma, em 2023, pesquisadores consideram que ainda há pouco controle sobre a destruição do Cerrado. A legislação atual exige a preservação de apenas 20% da vegetação nativa nas propriedades rurais do bioma, enquanto na Amazônia o índice é de 80%.

O Instituto Cerrados, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, planeja apresentar em setembro um mapeamento de áreas prioritárias para restauração e conservação da água no bioma.