Exploração da água na bacia do Rio Formoso coloca o Tocantins em lista de violações graves de direitos humanos

07 maio 2025 às 10h01

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Um relatório produzido pela Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil (AMDH) destacou o Tocantins entre os seis casos emblemáticos de violações de direitos humanos no país. O documento traz à tona os conflitos gerados pela disputa por água na bacia do rio Formoso, localizada na região sudoeste do estado.
De acordo com o relatório, comunidades indígenas e rurais têm sido prejudicadas pela expansão da monocultura irrigada, que consome volumes excessivos de água. Somente entre julho e agosto de 2024, foram autorizados 136 bilhões de litros para captação na bacia, quantidade suficiente para abastecer a cidade de Palmas por quase oito anos.
Apesar de uma decisão judicial de 2023 que definiu regras para o uso sustentável da água, o relatório aponta que as normas vêm sendo ignoradas. Em alguns casos, produtores rurais chegaram a captar até 2 milhões de metros cúbicos acima do permitido durante o período de estiagem.
Falhas na fiscalização
A publicação também critica o sistema de revezamento adotado pelo governo estadual, que, mesmo diante do baixo nível dos rios, segue autorizando o uso intensivo de água para grandes plantações nos municípios de Lagoa da Confusão e Cristalândia.
Segundo o relatório, órgãos como a Secretaria de Meio Ambiente (Semarh) e o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) têm falhado na fiscalização. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Formoso também é alvo de críticas por não garantir equilíbrio na participação social e por conflitos de interesse entre seus membros.
Consequências para a população local
As consequências da exploração excessiva incluem a escassez de água potável, contaminação de rios e solos, prejuízos à saúde da população, insegurança alimentar e perda de territórios tradicionais. É o caso dos indígenas Krahô-Takaywrá, expulsos da região na década de 1970 para a instalação de grandes propriedades rurais.
O relatório alerta que o modelo de produção voltado para exportação de commodities desconsidera os modos de vida tradicionais de indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores, que dependem diretamente do rio para garantir sua subsistência.
O Movimento Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH), que integra a Coalizão Vozes do Tocantins por Justiça Climática, acompanha a situação e cobra providências. “Nosso papel é dar visibilidade às comunidades que não têm como se defender sozinhas. Estamos atentos ao uso descontrolado da água e agrotóxicos na região e continuaremos acompanhando até que haja justiça”, afirma Maria Francisca, orientadora do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia.
Direitos violados
Entre os direitos citados no relatório como violados estão:
- Direito à água;
- Direito à saúde;
- Direito à alimentação adequada e à segurança alimentar;
- Direito à participação e à consulta prévia, livre e informada;
- Direito à demarcação de terras;
- Direito ao meio ambiente equilibrado;
- Direito à segurança e à preservação da cultura tradicional.