Pedro Paulo Martins Lustosa, filho de Paulo César Lustosa Limeira (PC Lustosa) — ex-marido da primeira-dama Karynne Sotero — trabalhou por quase um ano no gabinete da deputada estadual Claudia Lelis (PV). Segundo dados do portal da transparência da Assembleia Legislativa levantados pelo Jornal Opção Tocantins, ele ocupou o cargo em comissão de secretário parlamentar de 3 de maio de 2022 a 9 de março de 2023, com salário de R$ 3.402. No período, incluindo férias e 13º proporcional, ele teria recebido aproximadamente R$ 42 mil.

Ato de exoneração do servidor | Foto: Portal da Transparência da Aleto/Reprodução

Tanto PC Lustosa quanto Claudia Lelis estão entre os investigados da Operação Fames-19, que apura desvios de R$ 73 milhões em contratos de fornecimento de cestas básicas na pandemia da covid-19, contexto que também levou ao afastamento do governador Wanderlei Barbosa e da primeira-dama Karynne Sotero, em 3 de setembro, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo a Polícia Federal, Claudia Lelis teria mantido diálogos diretos com PC Lustosa, a pedido de Karynne Sotero, com o objetivo de negociar a destinação de emendas parlamentares para o Instituto de Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (IDEGESESC), investigado por suposto desvio de recursos públicos em contratos de cestas básicas não registrados no portal da transparência estadual.

Conforme registros obtidos pela Polícia Federal, em junho de 2024, Claudia Lelis teria buscado intermediar uma emenda parlamentar de R$ 300 mil para a reforma de um complexo da pessoa idosa, mas a verba teria sido direcionada ao instituto ligado à primeira-dama. Nos diálogos, Paulo César e seu irmão Wilton Pires teriam comentado sobre a perda de uma possível comissão de aproximadamente 10% do valor do repasse, e indicaram que a decisão da deputada poderia ter sido motivada por aproximação política com Karynne Sotero:

WILTON: “…porque que o pessoal veio atrás de nós, da emenda lá da Claudia?…”
PC LUSTOSA: “Aproximação com Karynne. Cláudia não é boba.”

Ainda segundo a investigação, a cooperação entre Claudia Lelis e a primeira-dama teria ocorrido em outras situações, com repasses de emendas parlamentares em 2022, inclusive em contratos com a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) — quando Karynne Sotero Campos exercia o cargo de secretária-executiva — e na Secretaria de Esportes e da Juventude. A proximidade política entre Claudia Lelis, Karynne Sotero e o governador teria sido registrada em postagens nas redes sociais.

PC Lustosa seria apontado como operador ativo do suposto esquema de desvio sistemático de recursos públicos no Tocantins, atuando como intermediário em contratos de fornecimento de cestas básicas, e teria mantido acesso à cúpula do Poder Executivo Estadual. Entre as ações investigadas estão:

  • Possível desvio de recursos e movimentação financeira: suspeita de recebimento de valores de empresas ligadas ao esquema e saques que somariam R$ 665.015,63, com indícios de lavagem de dinheiro.
  • Negociação de propinas: análise de seu celular teria indicado participação em negociações de vantagens indevidas em contratos do governo estadual e prefeituras, incluindo combinação de resultados de licitações.
  • Relação com a primeira-dama e o governador: proximidade com Karynne Sotero e Wanderlei Barbosa seria relevante para a execução dos contratos, com registros que sugerem supervisão de projetos.
  • Fraudes em licitações: ele teria se associado a outros investigados para definir vencedores de certames, como no caso da empresa PORTINARI que venceu oito processos licitatórios.
  • Atuação no IDEGESESC e META SERVICE: envolvimento no suposto desvio de recursos através do IDEGESESC, utilizando cestas básicas simuladas, e na META SERVICE, empresa contratada pelo Estado por mais de R$ 3 milhões em 2022, com negociações de comissões e parcerias com prefeituras.
  • Movimentação de dinheiro em espécie: pagamentos de vantagens indevidas teriam sido planejados em espécie, para dificultar rastreamento.