O presidente da Associação Comercial e Industrial de Palmas (Acipa), Joseph Madeira, é um apaixonado pela cidade que o acolheu na juventude e permitiu uma transformação na sua vida. Não apenas em função da sua história de pioneirismo, cuja síntese representa um pouco da saga vitoriosa de muitos que abandonaram sua terra natal para arriscar um lugar ao sol no cerrado tocantinense e hoje são referências de sucesso, como ele, mas pela pujança econômica da nova capital que desde que surgiu se mantém no topo das cidades mais pujantes do país.

“A perspectiva do crescimento em Palmas é extremamente animador. Numa escala crescente, constante. O que é ótimo. Porque às vezes não adianta crescer exclusivamente e depois parar. Em Palmas não, ela é constante. Ela cresce sempre. Então, o sentimento que eu tenho em relação a Palmas é a confiança nessa escala de crescimento contínuo”, defende o dirigente empresarial, apontando ainda o nível de qualidade de vida que Palmas oferece como outro fator de atratividade de capital tocantinense.

Quando o cenário é a economia do Estado o líder empresarial é ainda mais otimista. Ele avalia que o crescimento do comércio varejista de 12,6% em 2023, 11 pontos percentuais acima da média nacional, coloca o Tocantins como destaque nacional como nova fronteira de crescimento econômico. “São vários setores que conseguiram evoluir e na sua soma permitiram que o comércio atingisse esse percentual tão significativo e que conferiu ao Tocantins essa posição de destaque nacional”, ressalta.

Joseph Ribamar Madeira, 58 anos, maranhense de Penalva, palmense de coração. Jornalista, empresário, influenciador de empreendedorismo e uma das figuras mais influentes do mundo corporativo do Estado. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, o líder empresarial falou de economia, novos negócios, política e contou um pouquinho da sua trajetória de origem humilde do interior do Maranhão a empresário mais bem sucedido do Tocantins. Ao longo da conversa, o líder empresarial pontuou os avanços na gestão do Estado, que segundo ele, tem um líder sensível e comprometido à frente dos negócios públicos. “Quando eu menciono o governo do Estado, é assim, meio que agradecendo pela sensibilidade, pelo compromisso que ele vem demonstrando com o setor empresarial”.

Hoje o agronegócio, as pessoas vêm, elas moram aqui, elas compram casa em Palmas, elas fomentam a geração de dinheiro

Ruy Bucar – Presidente, o sr. tem feito uma avaliação bastante otimista do desempenho da economia do Tocantins. Aponta que o comércio varejista cresceu 12,6%, nada menos que 11 pontos acima da média nacional. É um crescimento incontestável. O que significa esse crescimento e o que ele representa no universo econômico do Tocantins?

Esse número é uma somatória da evolução que houve em vários outros. Então você tem o agronegócio. Antigamente a gente pensava que o agronegócio não tinha um impacto, talvez, muito positivo, muito direto, que era uma riqueza que você gerava e ela saía daqui e os efeitos não se faziam sentir. Isso mudou. Hoje o agronegócio, as pessoas vêm, elas moram aqui, elas compram casa em Palmas, elas fomentam a geração de dinheiro. Aí você tem o setor do turismo, que Palmas tem crescido acentuadamente. Existe hoje o turismo da saúde ou da medicina, como queiram dizer, que são profissionais altamente especializados que Palmas começa a ter e que as pessoas vêm para cá, já tem aqui tipo hotel que tem as acomodações adequadas para a pessoa fazer uma cirurgia e ficar ali se recuperando. Então são vários setores que conseguiram evoluir e na sua soma permitiram que o comércio atingisse esse percentual tão significativo e que conferiu ao Tocantins essa posição de destaque nacional.

O governo tem empreendido diversas ações que favorecem a geração de negócios e que criam no empresário um sentimento de positividade

Ruy Bucar – Uma comprovação inequívoca de que a roda da economia está girando, o segmento que está lá na ponta está sendo muito beneficiado. Isso significa dizer que toda a economia sai fortalecida?

Sai fortalecida. E sem deixar de mencionar o aspecto de governo, administrativo. O Tocantins está num momento muito singular em que o governo tem empreendido diversas ações que favorecem a circulação, a geração de negócios e algumas ações estruturais que criam no empresário um sentimento de positividade. Eu cito por exemplo os distritos industriais do Estado. Quase todos eles há década os empresários sofriam com solicitações simples, mas que efetivamente não aconteciam. O Fundo de Desenvolvimento Econômico do Estado (FDE) tinha aqueles recursos em que se anunciavam os números, mas eles pareciam fictícios, nunca se aplicavam. Nesse governo, felizmente, tem se aplicado 98%, 100%. Isso tem se refletido nas estruturações de todos os distritos industriais do Tocantins e na aprovação de vários projetos. A soma de tudo isso, como disse, resulta nesse patamar alcançado.

Às vezes votou com o lado que não venceu a eleição, por isso acha que não vai dar certo, na prática, graças a Deus, o cenário é positivo mesmo

Ruy Bucar – O que se pode projetar para este ano com base no desempenho da economia em 2023? Significa que o Tocantins mantém forte atrativo para abertura de novos negócios? Qual é a mensagem que o Tocantins passa para os empresários e empreendedores?

A tendência é que melhore ainda mais. Veja, a pandemia criou um cenário, o pior cenário em que não tem como ficar pior. Por incrível que pareça, um cenário como este acaba tendo um lado positivo, no sentido de que no momento em que você acha que não tem como piorar, então a resposta inversa é tudo pode, qualquer coisa que vier será positiva. Então os empresários se prepararam mais, quem sobreviveu, quem reagiu bem naquele período, então agora consegue navegar de uma forma muito mais positiva, com melhores resultados, com excelência na gestão da sua atividade e aí na soma a gente tem a economia como um todo funcionando. Se eventualmente você conversar com um empresário individualmente, ele vai, às vezes, apontar, às vezes por questões até partidárias, às vezes ele votou de um lado que não venceu a eleição, por isso ele acha que não vai dar certo, mas na prática graças a Deus, o cenário é positivo mesmo.

O governo federal anunciou também agora, um grande volume de crédito que vai ser operacionalizado que vem do BNDES

Ruy Bucar – O Tocantins tem nesse momento, tanto do governo do Estado quanto do governo federal, uma sinalização de muito investimentos em obras estruturantes. Isso também tem um impacto na economia, como é que se aproveita esse boom de investimento em infraestrutura para também consolidar uma boa imagem do Estado, como um ótimo lugar para investimento?

Sim, você vê no governo federal, por exemplo, agora houve a criação do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequena Porte. É uma notícia extremamente positiva, à medida que você diz assim, eu vou ter um olhar diferenciado, voltado para um segmento que tanto precisa. Além disso, o governo federal anunciou também agora, um grande volume de crédito que vai ser operacionalizado esta semana, que vem do [Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] BNDES e que vai ser operacionalizado por todos os bancos. Além dessas obras grandes que você muito bem mencionou, no Tocantins, de igual modo. No Tocantins, por exemplo, as rodovias do Estado, todas elas foram recuperadas. Nós não temos tido, nos últimos tempos, notícias ruins. É um momento muito favorável.

Teve uma data no ano passado, teve dois grandes eventos, aí a gente tinha que trazer garçom de Paraíso

Então, não há dúvida que nós vamos crescer mais. E eu sugiro, assim, para o empresário e para todos nós, que a gente aproveite esse momento. As oportunidades que surgem. Como o turismo tem crescido, tem vezes aqui que você não acha vaga no hotel. Recentemente, as entidades que mexem com a área de turismo, a Abrajet, todas que mexem com o turismo, estão se organizando, tem aquele Convention Bureau de Palmas, exatamente para fazer uma gestão dos eventos, para que não haja coincidência. Teve uma data no ano passado, que teve dois grandes eventos, aí não tinha garçon, teve que trazer de Paraíso, tudo lotado, e o dono do restaurante às vezes tem dificuldade, porque não avisaram para ele que ia lotar a cidade. Então, você tem uma fila. E quando você não está preparado para receber bem, gera uma má imagem para quem chega. O visitante chega e fala eu fui lá e não tinha onde almoçar. Então, esse conselho que é presidido pelo Marcelo Perin, ele vai fazer esse trabalho entre todos os agentes que mexem, que acolhem os visitantes, de maneira que se melhora a qualidade do serviço. Então, ao se fazer isso, você vai atrair mais pessoas que vão ao shopping, que vão ao restaurante, que vão aos bares, que movimentam a economia.

Se você melhora os incentivos, se melhora as estradas, se melhora o poder de consumo, tudo isso vai estimular as indústrias a virem

Ruy Bucar – Presidente, como o sr. avalia redução dos números da indústria que já chegou a representar 20% do PIB do Estado, e agora se calcula, dados do próprio governo, que chega a 12%. Uma redução circunstancial e que com o próprio investimento do governo, novamente o Tocantins pode resgatar essa sua capacidade da industrialização, que ainda é pequena?

Ainda é pequena. Eu falei dos distritos. Se você melhora as condições, as estruturas, se você melhora os incentivos, se você melhora as estradas, se você melhora o poder de consumo, tudo isso vai estimular as indústrias a virem. Para atender, inclusive, o público interno aqui. Então, o agro, agora mesmo, vai ter uma indústria de fertilizantes, no município de Palmeirante. Uma granja, também muito grande, naquela região ali do Bico [do Papagaio]. Então, tudo isso vai fomentar, porque antigamente a gente pegava a soja, produzia, mandava para o exterior. Agora, a ideia é se criar indústrias, porque você consegue melhorar o valor daquele produto, e mais importante que isso, gerar, empregar as pessoas, os tocantinenses, gerar mão de obra local.

O governo do estado tem um secretário de turismo, que é o Hercy Filho, que vem fazendo um trabalho extraordinário

Ruy Bucar – O sr. mencionou o turismo, uma atividade que tem demonstrado enorme potencial para o crescimento, para gerar emprego, para ajudar no desenvolvimento e que ainda não está sendo bem explorada. O que falta para o turismo virar uma força econômica emergente?

O que está precisando, o que está sendo feito, está em processo que é o aperfeiçoamento da acolhida, do atendimento desse visitante, que eu mencionei. E talvez, que também o conselho presidido pelo Marcelo [Perin] está cuidando disso, no sentido de fazer uma logística de acolhida daquele turista que chega no aeroporto e para que ele passe um pouco por Palmas, essa logística que as próprias agências de turismo, as operadoras, estão cuidando disso. Então é só um aperfeiçoamento. Porque volume existe muito. Eu lembro que estou em Palmas, há muito tempo, antigamente, você entrava num avião e conhecia quase todo mundo. Hoje você pega um avião que chega lá em Guarulhos (SP) e pega um voo direto para Palmas, dificilmente você conhece uma pessoa. Virou o inverso. Turismo de negócios, os caras vêm para cá mesmo. Então, é só uma questão de aperfeiçoar, mas eu repito que isso está sendo feito. Nessa área, o governo do Estado também tem um secretário de turismo, que é Hercy Filho que vem fazendo um trabalho extraordinário, um trabalho de aperfeiçoamento muito sincronizado, e que na soma, eu não tenho dúvida que todas essas áreas que nós mencionamos aqui, elas vão crescer de forma harmônica. Vão evoluir num só tempo.

Palmas exerce isso, essa facilidade que você tem de chegar em casa em 15 minutos, em qualquer ponto que esteja

Ruy Bucar – O que Palmas representa nesse contexto do Estado? Qual a mensagem para os investidores que pensam em expandir seus negócios? O Tocantins de um modo geral, e Palmas em particular, tem muito o que oferecer?

Tem, muito a oferecer. Palmas é uma das cidades com melhor qualidade de vida do país. Tanto é que, eu conheço vários casos de pessoas que vêm aqui transferidas e às vezes com prazos de validade. Dois anos. Aí depois eles ficam torcendo para conseguir uma prorrogação em dois anos. E quando conseguem essa prorrogação, e que chega ao final, eles pedem desligamento para continuar morando em Palmas. Então Palmas exerce isso, essa facilidade que você tem de chegar em casa em 15 minutos, em qualquer ponto que esteja. Então ela tem crescido a parte de construção que tínhamos passado por aquela crise, mas agora voltou, voltou com força total. Então esse é um segmento que tem crescido bastante. O segmento de saúde, como eu mencionei, ele tem crescido muito.

A perspectiva do crescimento em Palmas realmente é extremamente animadora. Numa escala crescente, constante

Ruy Bucar – A educação, ensino superior.

Ensino superior. Palmas virou uma cidade universitária também. E que tem impacto lá na hotelaria, que tem impacto na locação de imóveis. Então a perspectiva do crescimento em Palmas realmente é extremamente animadora. Numa escala crescente, constante. O que é ótimo. Porque às vezes não adianta crescer exclusivamente e depois parar. Em Palmas não, ela é constante. Ela cresce sempre. Então, o sentimento que eu tenho em relação a Palmas é a confiança nessa escala de crescimento contínuo.

Quando menciono o governo do Estado, é assim, meio que agradecendo pela sensibilidade que tem demonstrando com o setor empresarial

Elâine Jardim – Eu queria perguntar sobre Palmas como cidade empreendedora. O que ela deve melhorar para abraçar, de fato, o empreendedorismo. Não só focar no turismo local e também no funcionalismo público que a gente vê que hoje é muito forte. Não excluindo o turismo? Quais os segmentos que mais poderiam ser reforçados para formar, crescer, implantar, evoluir, o empreendedorismo?

O setor de prestação de serviços numa cidade que tem a prioridade turística, acaba sendo aquele que mais cresce. E aí várias empresas, empresas de tecnologia, em Palmas tem muitas empresas de tecnologia. Esse é um segmento que precisa ser, talvez, melhor aproveitado, melhor estimulado. Lá na Acipa tem uma diretoria de turismo. Mas tem uma diretoria que cuida dessas startups. Como tem uma diretoria agora que cuida de fomento ao crédito para o micro, ontem mesmo tivemos com o presidente da Agência de Fomento. Então, os setores de prestação de serviços são aqueles que mais precisam, que mais têm abertura. Tipo, hoje tem muitas empresas de treinamento, de consultoria. Essa área tem crescido bastante. Por sua vez, o poder público tem uma imensa responsabilidade. Ele precisa estar muito próximo. Quando eu menciono o governo do Estado, é assim, meio que agradecendo pela sensibilidade, pelo compromisso que ele [governador Wanderlei Barbosa] vem demonstrando com o setor empresarial. Hoje nós temos na Secretaria do Indústria e Comércio, uma pessoa que é originária, inclusive foi presidente da Associação Comercial, mas que não é somente por isso. Nós temos um caso de pessoas originárias, mas que quando chegam lá, por alguma razão, não conseguem evoluir. E nós estamos tendo um caso raro de uma pessoa que tem a boa vontade, tem o conhecimento e tem tido o respaldo do governador. Ele tem tido carta branca. Eu mencionei aqui no início a questão do recurso disponibilizado para o Fundo de Desenvolvimento Econômico. Ele, no início, perguntou posso aplicar? A resposta foi, pode. Em que? Faz uma pesquisa e veja o que os empresários mais querem. Aí viajou, foi em todas as associações comerciais e naquele momento o que eles mais queriam era que os distritos industriais fossem recuperados. Isso foi feito. Então, isso é uma realidade, uma coisa muito bacana que no momento que também acontecer isso com o poder público municipal de Palmas, aí vai melhorar mais.

Como presidente da Acipa, eu não tive, da administração municipal, o mesmo exemplo que estou tendo do governo do Estado

Ruy Bucar – Que avaliação então o sr. faz da administração municipal? A economia do Estado vai bem muito porque a gestão tem feito o dever de casa. Em Palmas, deixa a desejar?

O meu perfil de liderança é aquele que pauta o diálogo, a abertura, o entendimento do que eu preciso ter uma boa interlocução com as pessoas que eu represento. Eu preciso ter uma consciência da minha responsabilidade institucional. Como presidente da Acipa, eu não tive, da administração municipal, o mesmo exemplo que eu tive, que estou tendo do governo do Estado. Quando eu falo, eu não estou falando somente da Acipa, as instituições com quem eu tenho relacionamento. Então, eu te falei de como é o meu padrão e da forma que foi conduzido, que é conduzido, não é a forma que eu considero que seria razoável para uma cidade como Palmas, que ainda é pequena, que precisa que as pessoas dialoguem, conversem, se respeitem, não se fechem. Eu sinto que para a gestão municipal faltou isso, infelizmente. Ainda tem um ano, quem sabe isso não muda nesse ano.

Quando as pessoas o procuram querendo que você possa colaborar de alguma forma, são sinais claros de que está indo bem na missão

Ruy Bucar – Como o sr. tem conseguido se livrar do assédio político? São insistentes convites para ser candidato ou ocupar cargos públicos. Como o sr. avalia esses convites?

Eu avalio de uma forma muito positiva. Quando nós temos uma missão em um ponto que definiu para chegar, você precisa de sinais que indicam que está bem na sua caminhada. Então, se não houver esses sinais você fica meio no escuro, mas na verdade meio que tem a certeza que não está tão bem, que você não está recebendo sinais. Então, quando o seu nome é lembrado, quando as pessoas o procuram querendo que você possa colaborar de alguma forma, então são sinais claros de que você está indo bem na missão. Mas esses sinais, eles não podem lhe tirar do caminho que você está seguindo. Eles têm que ser entendidos. Eu estou bem. Deixa-me seguir, cumprir a minha missão. É uma missão de cada vez. A minha missão da vez é ser presidente da Acipa. Então, essas coisas que você mencionou e que eu me sinto feliz e grato por elas, mas eu entendo apenas como sinal de que eu estou bem nessa missão e que devo continuar nela como estou.

Eleição se perde ou se ganha. O que não se pode perder é a dignidade. O propósito, a missão

Ruy Bucar – E como o sr. avalia a experiência de 2020 em que você foi candidato a vice-prefeito de Palmas, na chapa do deputado Eli Borges?

Uma experiência muito enriquecedora. Eu tive a oportunidade de estar ao lado de um homem extremamente decente, de uma postura reta, que tive a oportunidade de aprender muito e o resultado, de eleição, eu não entendo muito, mas eu guardo alguns ensinamentos. Eu lembro do Aureliano Chaves, que foi vice-presidente, lá atrás, do [Presidente] João Figueiredo. Eu lembro que na época ele disputava a eleição com o Tancredo Neves, do Colégio Eleitoral. Era muito difícil, era uma eleição perdida. Não tinha como vencer o Tancredo. E aí, aconteceu que ele perdeu. E depois, a repórter disse assim, por que o senhor disputou? O senhor sabia que ia perder. Tipo, ele disse, “olha, eleição se perde ou se ganha. O que não se pode perder é a dignidade”. O propósito, a missão. E o Eli, tem isso. Ele tem uma missão, ele tem um propósito e ele é muito leal a isso. E eu aprendi. Eu aprendi muito. De maneira que foi uma experiência muito enriquecedora. Eu me orgulho da oportunidade que tive, sou muito grato, aprendi muito.

Eu sinto que, no caso do nosso governador [Wanderlei Barbosa], a biografia dele o coloca acima do cargo

Ruy Bucar – No meio empresarial se diz que quando um gestor público não atrapalha já está ajudando muito. O que o segmento empresarial espera do próximo gestor de Palmas no sentido de contribuir para acelerar o desenvolvimento da Capital?

O que faltou na atual, que é essa abertura para o diálogo, ouvir as pessoas, ouvir as entidades, trabalhar em conjunto. Faltou isso. Você foi muito feliz ao mencionar que, quando a gestão não atrapalha, ela já está ajudando. Mas o diálogo é fundamental, ouvir todos os setores. É tentar, talvez, eu gosto muito da pessoa que busca ter uma biografia que a coloca acima do cargo. Eu sinto que, no caso do nosso governador [Wanderlei Barbosa], a biografia dele o coloca acima do cargo. No dia que ele deixar de ser governador, possivelmente você vai ter a mesma consideração pela biografia, pelo que ele construiu durante o período que exerceu. E tem algumas pessoas que, no dia seguinte, que deixam o cargo, perdem metade daquilo que vinha tendo no exercício. Eu imagino o próximo prefeito de Palmas que ele possa, durante a sua gestão, com diálogo, com ações efetivas, ouvindo as pessoas e realizando, ele possa construir uma grande biografia.

Ele disse assim, Joseph, vem pra cá, vem nos ajudar. Você vai conviver com os empresários, vai aprender com eles, vai se inspirar

Ruy Bucar – Para encerrar, não poderia deixar de pedir para o sr. falar um pouco da sua trajetória de pioneiro, em Palmas. Um repórter de economia que virou o empresário mais bem sucedido do Estado. Exemplo de perseverança, visão de oportunidade e de empreendedorismo, como foi essa transformação?

Ontem mesmo, eu recebi uma visita de uma empresária lá na Acipa, e ela me disse assim: “o que você considera fundamental pra vencer na vida? Se você tivesse que me dar apenas uma palavra, que palavra você me daria?” Eu disse assim. Fé. Porque esse é o fundamental. Aquelas coisas que verdadeiramente fazem a diferença na sua vida, nem sempre são construídas pelos seus braços, pelos seus esforços, pelos seus pensamentos. Elas são construídas pela interferência de Deus num determinado instante da sua caminhada. Quando eu olho pelo retrovisor da vida e penso que eu estava na Rodoviária de Imperatriz (MA), com 600 reais, que eu estava querendo ir pra Manaus (AM) em busca de um emprego, e que me assustei quando o vendedor de passagem da Transbrasiliana me disse que eu iria gastar talvez R$ 400,00. Eu pensei, agora só vai me sobrar R$ 200,00, eu comecei a ficar preocupado. E ele me disse assim, “por que você está indo pra Manaus? Você tem família?” Eu disse, não. Eu estou indo atrás de um emprego. Ele disse, “por que você não vai pra Palmas?” Então você observa que foi um vendedor de passagem, que na verdade era anjo de Deus. Quando eu nem sabia direito pra onde ir, ele me apontou o caminho e disse, vai pra Palmas.

Depois que eu cheguei aqui, todas as coisas foram dando certo. Cheguei num dia, no outro dia já estava trabalhando no jornal Correio do Tocantins. A primeira matéria que eu fiz foi na Associação Comercial. Eu nunca sonhava em ser empresário. Fiz uma matéria que valeu a vaga, a [jornalista] Conceição Soares que me aprovou. E aí, pelo fato de eu ter feito essa matéria lá na Acipa e ter ganho emprego, aí criou-se um vínculo de gratidão. Eu ia na associação direto. Dois anos depois, teve uma nova eleição lá na Acipa e o novo presidente me chamou para ser assessor de imprensa. Foi o Alan Divino que veio. E eu ganhava R$ 1.200, naquela época já estava no Jornal do Tocantins com o Tião [Sebastião Pinheiro, editor]. Eu comecei até a fazer uns planos como o novo salário que eu iria ganhar. Mas quando eu fui conversar com ele [presidente], disse assim: “Joseph, essa Associação aqui está começando, ela é fraca, aqui prevalece o voluntariado. Eu, presidente, não tenho salário, os meus diretores não têm salário e eu queria que você também viesse de forma voluntária sem salário”. E aí, eu tinha feito os planos, eu fui assim murchando. E aí, ele fez uma coisa muito bacana que, na impossibilidade de me pagar um salário, ele me deu uma outra coisa que valeu muito mais, que eu chamo de semente de esperança. Ele disse assim, “Joseph, vem pra cá, vem nos ajudar. Você vai conviver com os empresários, você vai aprender com eles, você vai se inspirar. E quem sabe um dia você não vira um deles?”. E quando ele disse assim, eu lembrei de uma frase que a minha avó, que me criou quebrando coco Babaçu, lá no interior do Maranhão, ela sempre falava assim, “meu filho um dia vai ser alguém, meu filho um dia vai ser alguém. Quando ele falou isso, rapaz, eu fui lá, no pensamento, e disse assim, eu aceito.

Aquele jovem que fez aquela matéria pra valer o emprego, virou empresário, tem mais de mil funcionários e, mais importante, presidente da Acipa.

Eu aceitei e procurei ser um assessor com o mesmo compromisso, mesmo comprometimento que você estivesse ganhando dez vezes do que eu tinha pensado de ganhar. Fato é, que 29 anos depois, cá estamos nós conversando, aquele jovem que fez aquela matéria pra valer o emprego, virou empresário tem mais de mil funcionários e, mais importante, estamos na honrosa condição de presidente da Acipa. Então, não teria como se fosse só eu, pelos meus esforços, pelos meus planejamentos chegar onde cheguei, sem Deus. Por isso que eu respondi pra ela, que é a fé. Todos os dias, quando eu estou lá na escada [do prédio da Acipa], é como se tivesse uma placa dizendo, olha a mudança que eu fiz na sua vida. Valorize, as oportunidades, que eu lhe dei. E é o que eu tento fazer, buscando sempre fazer o melhor, trabalhar bastante e sendo grato.

Eu entendi essa ideia e falei, olha, Deus não queria que eu fosse, entendeu? E tudo certo.

Elâine Jardim – O senhor trabalha muito, não é? E tem muitos funcionários, mais de mil o sr. estava falando, tempos atrás teve a notícia que o sr. teve uma síncope. E aí, como foi isso? Qual a causa? E como é que o sr. está hoje? Qual a dica pra gente não passar por isso?

Ah, quando eu fiquei doente, né?

Elâine Jardim – É síncope que se fala, não é?

Foi um negócio lá, (risos). Olha, eu quero crer que esse mesmo Deus que promoveu todas essas mudanças que eu acabei de mencionar, entendeu que naquele momento não era bom que eu fosse. Eu estava, tinha acabado de entrar no carro pra andar, o carro abastecido, tudo certo. Mas Deus entendeu que não era bom que eu fosse, não é? E a única forma, já que o carro estava bom, estava tudo certo. A única forma era eu ficar doente naquele momento. Então, acho que foi. Não sei o motivo, só ele sabe. Não afetou a empresa, porque hoje a empresa é muito bem organizada graças a Deus. não afetou a mim também. Eu sou um cara muito saudável. Foi a primeira vez que eu tive um problema de saúde. Então, eu entendi essa ideia e falei, olha, Deus não queria que eu fosse, entendeu? E tudo certo.