Manifestantes ocupam Feira do Bosque em Palmas contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia; vídeo

21 setembro 2025 às 22h00

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Em meio à onda de calor típica desta época do ano, o ato contra a chamada PEC da Blindagem (PEC 3/2021) e o PL da Anistia teve início no início da noite deste domingo, 21, por volta das 18h, na Feira do Bosque, em Palmas. Convocado por partidos de esquerda, como o PT e o PCdoB, e por organizações populares e movimentos sociais, o protesto fez parte de uma mobilização nacional que ocorreu em 26 estados e o Distrito Federal. Durante a caminhada dentro da feira, os manifestantes entoaram frases de efeito como “Sem anistia” e gritaram “fora” seguidos dos nomes dos oito deputados federais do Tocantins, que votaram a favor da proposta na Câmara dos Deputados.
A bancada tocantinense é composta por Carlos Gaguim (União Brasil), Eli Borges (PL), Filipe Martins (PL), Ricardo Ayres (Republicanos), Tiago Dimas (Podemos), Vicentinho Júnior (Progressistas), Alexandre Guimarães (MDB) e Antônio Andrade (Republicanos), e todos votaram “sim” à PEC, sendo um dos principais motivos de repúdio por parte dos manifestantes. Confira o vídeo no final da matéria.

O texto da PEC, aprovado em primeiro turno no dia 16 com 353 votos favoráveis, 134 contrários e uma abstenção na Câmara dos Deputados, estabelece que investigações criminais contra parlamentares só podem prosseguir com autorização da maioria absoluta da Casa Legislativa correspondente. O projeto ainda precisa ser votado em segundo turno antes de seguir para o Senado. Em Palmas, o ato foi organizado por diferentes frentes sociais, centrais sindicais e entidades da sociedade civil.
Em entrevista ao Jornal Opção Tocantins, o presidente do diretório do PT no Tocantins, Nile William (PT), afirmou que a manifestação teve como objetivo demonstrar o descontentamento da população com a bancada tocantinense. Segundo ele, “essa proposta não se trata de uma legítima prerrogativa parlamentar, mas sim de uma tentativa de anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e de proteger o Congresso Nacional das consequências de seus próprios atos de corrupção”. Ele completou dizendo que, apesar do respeito ao parlamento e à democracia, “não aceitaremos o desrespeito ao povo do Tocantins”.

O ex-deputado federal e ex-prefeito de Porto Nacional, Paulo Mourão (PT), participou do ato e declarou que o Congresso Nacional, ao aprovar a PEC, “virou as costas aos interesses da coletividade e do povo brasileiro”. Em sua fala, ele comparou o atual movimento à mobilização das “Diretas Já” e questionou a postura de parlamentares que antes defendiam o voto impresso como símbolo de transparência, mas que agora, segundo ele, apoiam o voto secreto em benefício próprio. “Desmantelaram a Lei da Ficha Limpa e agora propõem a PEC da Blindagem, cujo objetivo é garantir a impunidade e o avanço do banditismo na política brasileira”, afirmou.

Para Thamires Lima (PT), porta-voz do coletivo Somos de Palmas, a manifestação foi um recado direto aos parlamentares tocantinenses. “Gente inocente, que não comete crimes, não precisa de blindagem”, disse. Ela destacou que espera “que nossos três senadores, Irajá Abreu, Eduardo Gomes e Dorinha Seabra, tenham a sensatez de não repetir o erro cometido por grande parte da bancada federal”.

Roberta Tum (PCdoB), presidente estadual do PCdoB, também criticou o tratamento diferenciado dado aos parlamentares. Ela afirmou que “os mandatários que hoje ocupam cadeiras na Câmara dos Deputados parecem se considerar acima do povo”. Para ela, é inaceitável que cidadãos comuns sejam julgados e condenados por suas ações enquanto deputados e senadores precisem de autorização especial para responder judicialmente. “Por que qualquer um de nós pode ser questionado por nossos atos, presos em flagrante, julgados e até condenados, muitas vezes apenas por manifestar uma opinião, e eles não?”, questionou.

Josafá Maciel, representante dos movimentos sociais de esquerda em Palmas, enfatizou a importância da mobilização nas ruas e nas urnas. Segundo ele, o fato de nenhum deputado federal do Tocantins ter votado contra a PEC deve servir de alerta para as eleições de 2026. “Não permitiremos que o golpe se consolide. Não deixaremos que a PEC da Bandidagem seja aprovada”, afirmou. Ele completou dizendo que é preciso eleger parlamentares comprometidos com os trabalhadores e com os interesses populares.

Renan Colossi, servidor público na área da saúde há mais de duas décadas, comentou sobre o simbolismo do ato em Palmas. Ele observou que, apesar da esquerda ser minoria no estado, “no cenário nacional mostramos ser uma maioria que vota contra a elite golpista e contra aqueles que controlam o país”. Para Colossi, a manifestação serve também para reanimar a atuação da esquerda nas ruas, que, segundo ele, vinha se mostrando acomodada. Ele lamentou a ausência de representantes da esquerda tocantinense no Congresso Nacional, mas afirmou esperar que a mobilização contribua para mudanças no futuro, principalmente nas eleições de 2026.

Manifestação no Brasil
A manifestação na capital do Tocantins integrou uma série de protestos que aconteceram simultaneamente em todas as regiões do país. Os atos também criticaram o Projeto de Lei da Anistia, que pode perdoar envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos de prisão. Militantes e lideranças políticas associam os dois projetos — PEC da Blindagem e PL da Anistia — a uma tentativa de limitar a atuação do STF e de proteger parlamentares investigados ou condenados.
Em nível nacional, a mobilização ganhou força após apoio de artistas como Caetano Veloso, Anitta, Paulinho da Viola, Djonga, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, Maria Gadú e Marina Sena. Em Palmas, apesar do calor intenso e da predominância de representantes da direita no estado, o ato reuniu vozes contrárias às propostas em tramitação no Congresso.