Palmas que corre: Histórias, superação e o movimento das corridas de rua em na Capital

28 setembro 2025 às 10h00

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Palmas amanhece cedo e, já nas primeiras horas do dia, as ruas e avenidas da cidade começam a se encher de passos e tênis batendo no asfalto. Entre corredores iniciantes e veteranos, a capital tocantinense respira um movimento que cresce a cada ano; a corrida, mais precisamente, as corridas de rua.
O movimento que começou de forma tímida nos últimos anos, ganhou força com eventos locais, assessorias esportivas e projetos voltados para o público de todas as idades. Do Circuito Virgílio Coelho às provas tradicionais da Meia Maratona do Tocantins e da Corrida do Fogo, Palmas acaba atraindo corredores de toda a região.
Cada prova reúne histórias de esforço, superação e conquistas pessoais que transformam não só o corpo, mas a mente e a vida de quem participa.
Da necessidade à paixão
Ivana Ornelas, professora e moradora de Porto Nacional, não começou a correr por hobby. “A maior parte dos corredores que conheço começou buscando emagrecimento ou vida mais saudável. Mas, para mim, a corrida nasceu da necessidade de cuidar da minha mente”, conta. Há nove anos, Ivana conciliava dois empregos, era mãe, esposa, dona de casa e professora na rede pública e particular. “Por fora parecia dar conta de tudo. Por dentro, o cansaço pesava. Procurei um médico e ele me disse: ‘Clinicamente, você está ótima. Mas precisa de uma atividade física para evitar problemas físicos e emocionais’. Saí dali refletindo… e naquele mesmo dia calcei meu tênis e fui caminhar pela orla da cidade.”
O que começou como uma caminhada tornou-se uma rotina de treinos e, eventualmente, desafios como a Meia Maratona de Palmas. “A corrida me deu asas… trouxe leveza, energia e coragem para enfrentar os desafios. A corrida me deu amigos, histórias e sorrisos compartilhados no asfalto e nas trilhas. Hoje sei que correr não é só um exercício físico, é liberdade, equilíbrio e vida. E ainda tem aquela sensação única de subir no pódio e segurar um troféu”, celebra.
Mesmo após cirurgias na coluna e obstáculos de saúde, Ivana voltou às provas: “Em agosto de 2022, lá estava eu cruzando os 21 km na cidade maravilhosa. Uma vitória da fé, da resiliência e da certeza de que desistir jamais seria uma opção”. Além disso, ela ainda aproveita para passar momentos em família levando os filhos e o marido.

Rubia Aragão, outra corredora assídua, reforça o impacto da prática na vida pessoal e profissional. “Fisicamente, melhorei meu condicionamento, controlei meu peso e ganhei mais disposição no dia a dia. A corrida me ajuda a aliviar o estresse, clarear a mente e manter o foco. É um momento só meu, de autocuidado. A constância me transforma em pessoa mais forte, confiante e segura”, diz. E é essa constância que faz com que cada treino, cada quilômetro percorrido, seja uma vitória pessoal.

Crescimento e profissionalização do esporte
O crescimento das corridas de rua em Palmas acompanha uma tendência nacional: em 2024, o Brasil registrou 2.827 corridas oficiais, um aumento de 29% em relação a 2023, segundo dados da Associação dos Organizadores de Corrida de Rua e Esportes Outdoor (Abraceo). A capital tocantinense tem visto um crescimento na quantidade e diversidade de provas. Entre os eventos mais tradicionais estão a Meia Maratona do Tocantins, organizada pelo Governo do Estado por meio da Secretaria dos Esportes e Juventude (Seju), a Corrida do Fogo promovida pelo Corpo de Bombeiros e a Corrida da Força Tática da Polícia Militar.
A modalidade também têm se consolidado como plataformas de conscientização e incentivo a causas sociais. Eventos como a Cats Run atraem corredores e apoiadores para chamar atenção ao cuidado com os animais, enquanto outras provas são dedicadas à conscientização sobre a violência contra a mulher, à inclusão social e a campanhas de saúde e educação.


O Circuito Virgílio Coelho, em homenagem ao pioneiro do atletismo em Palmas, é referência local. “Virgílio Coelho dedicou sua vida à prática e à organização de eventos de corrida de rua. Ele marcou a cidade e fez com que o esporte ganhasse relevância social e esportiva”, observa Cézar Leão, professor de Educação Física com mais de 20 anos de experiência em docência universitária, pós-graduado em treinamento esportivo e MBA em Planejamento e Gestão Organizacional, e ex-Técnico da Seleção Brasileira de Handebol.
Cézar é ainda diretor técnico e fundador da LCM, empresa responsável por organizar grande parte das corridas locais.
LCM Gestão e Treinamento Esportivo, fundada em 2011 por Luiz Eduardo, Cézar Leão e Matheus Morbeck, realiza hoje cerca de 15 eventos anuais. Cézar explica: “As corridas em Palmas estão numa crescente desde o Circuito Virgílio Coelho. A corrida é democrática, acessível a todas as classes sociais, melhora a qualidade de vida e envolve uma cadeia econômica importante, treinadores, preparadores físicos, lojas de material esportivo, profissionais de saúde. É um movimento que o poder público deveria abraçar.”

Assessoria esportiva
O papel das assessorias esportivas também é essencial. Jane Farias, profissional que coordena grupos de corrida em Palmas, explica: “Muita gente acha que é só calçar o tênis e sair correndo, mas não é assim. Cada pessoa tem sua individualidade. Treinar sem acompanhamento pode levar a frustrações e lesões.” Ela acrescenta que, após a pandemia, houve um aumento de corredores iniciantes buscando orientação profissional. “As pessoas perceberam que o treino correto exige planilha, progressão e acompanhamento, e não apenas treino aleatório. Isso garante evolução e segurança.”
Jane compartilha histórias inspiradoras: “Tenho alunos que começaram com problemas de saúde, depressão, obesidade ou limitações físicas. Hoje, completam meias maratonas, maratonas e relatam que a corrida transformou a vida deles. Uma aluna me disse: ‘Se não fosse a corrida, eu não estaria aqui’. Isso é impactante.”

Benefícios que vão além do físico
O impacto da corrida de rua vai muito além da saúde física. Cézar Leão detalha: “Além da melhora cardiovascular e da densidade óssea, o fator mais importante é o mental. A corrida promove socialização, alivia o estresse e melhora a qualidade do sono. É cientificamente comprovado que a prática regular melhora a qualidade de vida.”
Para Rúbia, esses efeitos também refletem na vida profissional: “Minha produtividade aumentou, o foco melhorou e o autocuidado me fortaleceu emocionalmente. Além disso, cada treino é uma experiência de conexão comigo mesma e com o ambiente à minha volta.” Pequenos acontecimentos, como encontrar dois cães durante um treino de longão e compartilhar água com eles, tornam o percurso uma experiência única, reforçando o vínculo emocional com a prática.

Economia e oportunidade
As corridas de rua movimentam a economia local, como Cézar destaca: “Quando alguém se inscreve em um evento, não está apenas comprando uma camiseta. Está participando de um evento estruturado, seguro e com toda a infraestrutura. Há oportunidade de negócios, ativação de marcas, turismo esportivo. É um mercado em crescimento.”
O esporte gera empregos diretos e indiretos: treinadores, assessorias, profissionais de saúde, fotógrafos, fornecedores de material esportivo e organizadores. Palmas, com sua agenda crescente de provas, tem se consolidado como referência no cenário esportivo estadual.
Quem participa das corridas descreve a prática como transformadora. Ivana e Rubia resumem a experiência: “Comece hoje. Não se compare. Cada passo é uma vitória. A corrida transforma você por dentro”, aconselha Ivana. “A confiança vem com a constância, disciplina e foco. É isso que faz alguém evoluir e se sentir forte”, completa Rubia.
De crianças a idosos, de iniciantes a veteranos, de corredores recreativos a atletas competitivos, Palmas respira corrida. Cada quilômetro percorrido é uma história de superação, amizade, saúde e economia, um reflexo de um movimento que cresce e transforma vidas e que, aos poucos, conquista seu espaço na identidade da cidade.