Pecuarista é suspeito de marcar criança indígena com ferro de gado na Ilha do Bananal
25 outubro 2024 às 11h49
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Um menino indígena de 6 anos foi ferido no braço com um ferro de marcar gado na Ilha do Bananal, próximo à Aldeia Macaúba. O suspeito é um pecuarista que aluga terras na região, e representantes do povo Karajá pedem que ele deixe a área em até 30 dias. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e já foi encaminhado à Justiça pelo Ministério Público e Defensorias.
Segundo relato da família entregue à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o pecuarista teria se irritado com a criança enquanto ela brincava perto do gado, agarrou-a pelo braço e a queimou com o ferro. Assustada, a criança correu para os braços da mãe. Além das lesões físicas, a família relata que o episódio gerou traumas psicológicos no menino.
Um boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado, inicialmente pela Polícia Civil do Mato Grosso e encaminhado para a 57ª Delegacia de Polícia de Pium (TO) na quarta-feira, 23. As investigações seguem em sigilo por envolver uma criança. A Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público Estadual também tomaram medidas judiciais sobre o caso.
O diretor de Proteção aos Indígenas da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais do Tocantins (Sepot), Célio Canela, classificou como lamentável a agressão sofrida pela criança indígena na Ilha do Bananal, comparando o ato à brutalidade da época da escravidão. Ele afirmou que a secretaria está acompanhando o caso de perto, em parceria com a Defensoria Pública e outras instituições, para garantir o atendimento à família e cobrar as devidas providências legais.
“É lamentável que, em pleno século XXI, alguém marque outra pessoa com ferro, algo que remete ao período da escravidão. Tanto indígenas quanto negros foram explorados fisicamente e psicologicamente naquela época, e é triste ver isso se repetir. Já estamos acompanhando o caso, em diálogo com outras instituições, para garantir que a família seja atendida e que as medidas cabíveis sejam tomadas.”
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Funai exigem a punição do agressor e criticam a presença de pecuaristas na ilha. “A Ilha do Bananal é território indígena. Não há razão para pessoas não indígenas ocuparem esse espaço”, afirmou a defensora pública Letícia Amorim. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também se solidarizou com a família e lamentou o ocorrido.
Notas na íntegra:
Nota da Sepot:
A Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) informa que está ciente da situação e que, em conjunto com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Defensoria Pública do Estado (DPE) e órgãos de Segurança Pública e da Saúde nas esferas estadual e federal, está dando todo o suporte necessário e acompanhando de perto este caso criminoso de violência infantil envolvendo uma criança da Aldeia Karajá Macaúba, na Ilha do Bananal.
A Sepot ressalta que repudia veementemente o ato e que buscará todos os esclarecimentos e a punição dos culpados. Por fim, a Pasta reitera seu compromisso em lutar pelos direitos dos povos indígenas e por seu bem-estar.
Nota do MPF:
Atualmente, o caso da criança marcada com ferro de gado está sendo apurado no âmbito da Justiça Estadual. Sobre a presença de pecuaristas na Ilha do Bananal, o Ministério Público Federal esclarece que as associações indígenas celebram contratos de parcerias com criadores para o desenvolvimento de projetos de bovinocultura, onde os criadores levam o gado para a Ilha e os benefícios são repartidos entre os retireiros e comunidades indígenas.