PF encontra novas minutas ligadas a oito gabinetes do STJ em investigação sobre vazamento de decisões

01 setembro 2025 às 10h31

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A Polícia Federal ampliou as descobertas na Operação Sisamnes, que apura suspeitas de venda de sentenças e vazamento de informações dentro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Durante a análise de um notebook do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e do celular do advogado Roberto Zampieri – assassinado em 2023 –, foram localizadas minutas de decisões atribuídas a mais quatro ministros da Corte, além de um ex-integrante.
Com isso, já chega a oito o número de gabinetes mencionados em documentos apreendidos, o equivalente a quase um quarto dos 33 ministros do tribunal. Até então, as apurações se restringiam aos gabinetes de Isabel Galotti, Moura Ribeiro, Nancy Andrighi e Og Fernandes. Agora, entram também no radar Marco Buzzi, Antônio Carlos Ferreira, João Otávio de Noronha e Ricardo Villas Bôas Cueva, além do ex-ministro Paulo de Tarso Sanseverino, morto em 2023.
Todos os ministros procurados negaram ter conhecimento dos vazamentos e afirmaram nunca ter atuado em favor de interesses de lobistas. O STJ informou que abriu sindicâncias internas e solicitou investigações à PF, que permanecem em andamento.
A Polícia Federal, em relatório obtido pelo Estadão, frisou não haver indícios de participação direta dos magistrados, mas destacou a necessidade de identificar a origem dos documentos. “A simples presença das minutas, ainda que com semelhanças às decisões oficiais, não implica suspeita sobre os ministros, mas exige análise minuciosa para garantir autenticidade e integridade dos textos”, registra o documento.
Provas e falsificações
Além das minutas compatíveis com decisões reais, a PF também encontrou arquivos falsificados que simulavam atos do STJ. Entre eles, um documento com a marca d’água da Corte e até uma decisão de prisão atribuída a Og Fernandes que nunca existiu. A suspeita é de que Andreson teria usado esses materiais para extorquir empresários e atrair clientes.
Os investigadores separaram dois grupos de arquivos: alguns totalmente divergentes das decisões finais e outros que, pela data de criação e pelo conteúdo coincidente, levantam indícios de vazamento interno.
Casos específicos
- Marco Buzzi: minuta sobre disputa fundiária criada em outubro de 2018, dois meses antes da decisão ser publicada. Em outro processo, sobre telefonia e seguradora, um arquivo foi produzido em julho de 2019, semanas antes do julgamento.
- Ricardo Villas Bôas Cueva: minuta localizada quatro dias antes de sessão da Terceira Turma, em fevereiro de 2024.
- Paulo de Tarso Sanseverino: arquivo criado um dia antes da publicação da decisão, com autoria registrada no sistema da Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação do STJ.
- João Otávio de Noronha: minuta compartilhada por Andreson em data anterior à divulgação no Diário Oficial, mas após o julgamento colegiado – hipótese que pode afastar irregularidade.
- Antônio Carlos Ferreira: decisão sobre indenização no Rio Grande do Sul, cuja minuta foi repassada ao lobista em agosto de 2019, mas só divulgada oficialmente em outubro.
Expansão da investigação
O material apreendido com Zampieri – inicialmente recolhido para apurar seu homicídio – acabou revelando indícios de tráfico de decisões judiciais. As informações foram repassadas ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que identificou diálogos entre o advogado e Andreson, levando o caso à PF.
Segundo o relatório parcial que será enviado ao ministro Cristiano Zanin, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal, o volume de provas recém-identificadas amplia o alcance da apuração e pode revelar conexões ainda não mapeadas.
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