A professora aposentada da rede estadual de educação do Tocantins, Maria Célia Santos, de 56 anos, saiu de Araguacema até Palmas, 300 quilômetros distante da cidade em que reside, para fazer uma cirurgia de retirada da tireóide após diagnóstico de câncer. No entanto, o procedimento que seria realizado no Hospital Santa Thereza nesta quinta-feira, 11, e custeada pelo Servir, plano de saúde destinado a servidores do Estado do Tocantins, sequer chegou a ser autorizado. A paciente disse que o hospital alega que os médicos não querem realizar o procedimento, que tem cobertura no plano, pelo fato de o valor repassado aos profissionais ser muito mais barato. 

Segundo Maria Celia, o processo de autorização da cirurgia, que  tem sido marcado por negativas e falta de explicações. “A atendente do hospital disse apenas que a autorização foi negada. Já faz um ano que descobri esse nódulo. Duas biópsias deram resultado indeterminado e, após um exame molecular particular, descobri que era câncer”, relatou. Ela explica que gastou R$ 5.200 em exame particular, pois o plano não cobre o procedimento.

Para tentar realizar a cirurgia, Maria Célia teve que manter a pressão arterial controlada devido ao nervosismo e à preocupação com o câncer. “Quando cheguei ao hospital, fui informada de que o plano de saúde não tinha autorizado as guias, e não deram nenhuma justificativa. O plano nunca atende ligações”, disse.

A aposentada também criticou a postura do plano de saúde em relação aos médicos credenciados. “O Servir quer se apresentar como um dos melhores planos, mas não é assim. Médicos de especialidade em cabeça e pescoço não estão credenciados, e o problema não é dos profissionais, mas sim do plano, que paga pouco e demora para efetuar os pagamentos”, explicou.

Maria Célia afirma que, diante do impasse, recebeu do hospital o orçamento da cirurgia particular, mas não dispõe do valor, que gira em torno de R$ 26 mil. “Não tenho esse dinheiro agora, por isso não pude fazer a cirurgia particular. Quem sofre é sempre o paciente”, desabafou.

A situação de Maria Célia não é isolada e tem sido vivida por usuários do Servir frequentemente, que veem prestadores de serviço negarem atendimento. Nesta semana, chegou a reportagem do Jornal Opção Tocantins que uma série de prestadores do plano estariam se negando a atender os servidores estaduais. Em nota, a Secretaria da Administração do Tocantins (Secad), gestora do plano Servir, informou que os atendimentos médicos e hospitalares aos beneficiários seguem normalmente. 

A Secad disse, ainda, que eventuais problemas pontuais com prestadores ou operadoras são acompanhados pela gestão para garantir a assistência contínua. Beneficiários com dúvidas podem contatar o Servir pelos canais oficiais: 63 9949-2433, 63 99982-4211, 0800 911 4040 ou [email protected]

A reportagem entrou em contato para saber especificamente sobre o caso de Maria Célia e aguarda um retorno. Em nota, o Santa Thereza disse que “por prezar pela relação contratual instituída com o Servir, bem como por seguir rigorosamente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o hospital não comenta casos específicos relacionados a seus pacientes”.

Procurado pelo Jornal Opção, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins (Sintet) manifestou preocupação e indignação diante da negativa de cobertura do plano Servir à professora aposentada.

Em nota, o sindicato ressaltou que negar atendimento a servidores aposentados é um grave descaso e afirmou que cobrará providências do Governo do Estado e da administração do Servir, além de encaminhar representações ao Ministério Público e à Defensoria Pública. O Sintet também se colocou à disposição para oferecer assistência jurídica a filiados prejudicados e reforçou o compromisso com a defesa da saúde e dignidade dos trabalhadores da educação.

Confira a nota na íntegra

Nota de Posicionamento do Sintet – caso da professora aposentada Maria Célia Santos

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins (Sintet) manifesta profunda preocupação e indignação diante da negativa de cobertura do plano Servir à professora aposentada Maria Célia Santos, 56 anos, que aguardava a realização de cirurgia para retirada da tireoide, em tratamento de câncer, no Hospital Santa Thereza, em Palmas.

A saúde é um direito constitucional e sua negação em casos de urgência e alta complexidade representa uma grave violação da dignidade humana. Não é admissível que servidores públicos, após anos de contribuição, sejam submetidos a esse tipo de descaso.

O Sintet tem recebido, ao longo dos últimos anos, diversos relatos de trabalhadores da educação enfrentando dificuldades semelhantes para conseguir atendimentos e procedimentos pelo plano Servir. Esse quadro demonstra uma fragilidade estrutural que precisa ser urgentemente enfrentada pelo governo do Estado, responsável direto pela gestão do plano e pela garantia de acesso pleno à saúde dos servidores e seus dependentes.

Diante dessa situação, o Sintet:

• Cobrará do Governo do Estado e da administração do Servir esclarecimentos imediatos e providências para assegurar que a professora Maria Célia Santos seja atendida com a urgência que o caso exige;

• encaminhará representação aos órgãos de controle, como Ministério Público e Defensoria Pública, a fim de que medidas sejam tomadas para coibir novas negativas;

• ofertará assistência de nossa assessoria jurídica, caso seja filiada e nos procure;

• seguirá recolhendo e acompanhando relatos de outros trabalhadores prejudicados, para fortalecer a defesa coletiva da categoria;

• reforça que não medirá esforços para garantir que os profissionais da educação, ativos e aposentados, tenham seus direitos resguardados no acesso integral à saúde.

O Sintet se solidariza com a professora Maria Célia Santos e reafirma seu compromisso histórico com a defesa da vida, da saúde e da dignidade dos trabalhadores em educação do Tocantins.

Palmas, 11 de setembro de 2025.

Direção Estadual do Sintet.