No ano passado, sete empresas registradas em Palmas foram expostas por investigações da Polícia Civil de São Paulo como parte de um esquema de lavagem de dinheiro vinculado às facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), por meio do banco digital 4TBank. Levantamento feito pelo Jornal Opção Tocantins mostra que quatro dessas empresas continuam ativas na Receita Federal.

As empresas são: 4TGroup Holding Ltda (CNPJ 37.614.503/0001-38), VB Interholding Ltda (CNPJ 44.304.179/0001-75), Leve Atacadista Ltda (CNPJ 42.328.745/0001-04) e RNCT – Rede Nacional de Contabilidade Tributária Ltda (CNPJ 41.004.796/0001-94). Todas estão registradas em nome de Matiê Obam, de 24 anos, apontada como “laranja” do padrasto, João Gabriel Yamawaki, preso e acusado de comandar o esquema.

O que mostram os dados da Receita

  • 4TGroup Holding: Cadastrada como microempresa desde 2020, com atividade principal de “holdings de instituições financeiras”, sem atividades secundárias. Fica registrada em uma sala comercial na Avenida JK, onde não há nenhum sinal de funcionamento.
  • VB Interholding: Também com porte de microempresa e registrada no mesmo endereço da 4TGroup, atua como holding de instituições não financeiras desde 2021. Tem uma lista extensa de atividades secundárias, como produção teatral, eventos, publicidade e consultoria – sem nenhuma evidência de funcionamento.
  • Leve Atacadista: Aberta em 2021, com sede na 412 Norte, tem como atividade principal o comércio atacadista de papel e papelão. No entanto, acumula dezenas de atividades secundárias que incluem desde o comércio de veículos e cigarros até artigos médicos, bicicletas e cortinas. No local, há apenas um galpão com placa de “aluga-se”.
  • RNCT (antiga Kampai Oficial Ltda): Registrada em 2022, aparece com a atividade principal de consultoria contábil e tributária, além de outras áreas como TI, publicidade, contabilidade e gestão empresarial. Até setembro de 2024, usava o nome “Rede Kampai Restaurantes Ltda”, o mesmo de um restaurante de comida japonesa tradicional de Palmas, mas que não tem relação com a empresa, que tem endereço registrado na 403 Sul. Após a operação policial, o nome foi alterado.

As demais empresas investigadas – 4TBank Pagamentos Online Ltda, 4TBank ITB e uma terceira com o mesmo nome da primeira – estão atualmente inativas ou com os CNPJs transferidos para São Paulo, onde também operavam.

Lavagem de bilhões e influência política

Segundo a Polícia Civil de São Paulo, a 4TBank, sediada em Mogi das Cruzes (SP), movimentou cerca de R$ 8 bilhões entre 2019 e 2024, por meio de ao menos 20 empresas de fachada – várias delas registradas em Palmas. Nenhuma dessas empresas tinha autorização do Banco Central para funcionar como instituição financeira.

João Gabriel Yamawaki, considerado o “cambista oficial” do PCC, usava a enteada Matiê Obam como testa de ferro em empresas abertas em seu nome em vários estados. As investigações mostram que, apenas no Tocantins, as empresas em nome de Matiê movimentaram mais de R$ 100 milhões de forma ilícita.

Além disso, mensagens interceptadas entre Yamawaki e Fabiana Manzini, mulher de um dos líderes do PCC, revelaram um plano da facção para financiar campanhas eleitorais em cidades do interior paulista, como Campinas, Mogi das Cruzes, Santo André e São José do Rio Preto. Em pelo menos três campanhas municipais, candidatos teriam recebido dinheiro proveniente da lavagem operada pelo 4TBank.

Operações e prisões

A investigação começou em 2023 com a apreensão de drogas na região de Mogi e culminou na Operação Decurio, deflagrada em agosto de 2024, quando Yamawaki e outras 12 pessoas foram presas. Fabiana Manzini também foi denunciada, e Matie Obam, considerada influenciada pelo padrasto, cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.

Nesta quarta-feira, 10, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, com apoio de São Paulo, deflagrou a Operação Contenção, considerada a maior ofensiva já feita contra o Comando Vermelho (CV) no estado. A investigação revelou que o mesmo 4TBank também operava para o CV, movimentando R$ 6 bilhões em um ano por meio de fintechs clandestinas e empresas de fachada – algumas também ligadas ao Tocantins.

As autoridades seguem rastreando os ativos financeiros do grupo. O Ministério Público de São Paulo denunciou 19 envolvidos ao Judiciário, e R$ 8 bilhões em bens e valores foram bloqueados. No Tocantins, apesar da gravidade das denúncias e da permanência dos CNPJs ativos, nenhuma operação foi deflagrada até o momento.