O dossiê elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) revela que, em 2024, o Brasil continuou sendo o país que mais assassina pessoas trans no mundo, mantendo essa posição pelo 16º ano consecutivo. Apesar de uma redução de 16% nos casos de assassinato em relação a 2023, os índices ainda apontam para um cenário preocupante.

O estudo traça o perfil das vítimas: a maioria é composta por jovens, negras, empobrecidas e residentes em regiões periféricas, especialmente no Nordeste. A vítima mais jovem registrada em 2024 tinha apenas 15 anos. Os assassinatos ocorreram, em sua maior parte, em espaços públicos e foram caracterizados por altos níveis de violência.

Embora tenha ocorrido uma diminuição nos números absolutos, o estudo aponta que o Brasil ainda carece de políticas públicas eficazes para proteger a população trans. A subnotificação e a dificuldade no monitoramento dos casos são fatores que dificultam o enfrentamento dessa realidade.

O Tocantins registrou um assassinato de pessoa trans em 2024. Apesar de o estado ter histórico de baixa recorrência em relação ao número de casos, o contexto segue as tendências nacionais, com a maior parte das ocorrências concentradas em cidades do interior. O estudo destaca que 68% dos assassinatos de pessoas trans no Brasil aconteceram em locais fora dos grandes centros urbanos, como é o caso do Tocantins.

O relatório também aborda a vulnerabilidade da população trans diante de discursos e ações antitrans que ganharam força nos últimos anos. Essas dinâmicas têm sido agravadas por agendas conservadoras, que, segundo o documento, dificultam a implementação de medidas de proteção e inclusão.

Mesmo diante desse cenário, o estudo destaca iniciativas como a adoção de cotas para pessoas trans em universidades, o que representa avanços na inclusão social. No entanto, esses esforços ainda enfrentam desafios diante da escassez de financiamento e do aumento do apoio a grupos contrários aos direitos trans.

Avanços

Para o pesquisador e doutor em psicologia, Eder Ahmad Charaf Eddine, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, apesar disso, e ao mesmo tempo, avanços estão acontecendo. “O Tocantins implantou o primeiro ambulatório transexualizador em Palmas recentemente. Temos também iniciativas de lutas, como a Associação de Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins (Atrato) que se empenham em buscar políticas públicas, visibilidade e bem estar para essa população. Precisamos avançar, enquanto sociedade, no reconhecimento e no respeito às diferenças”, disse.

Ele afirma que um exemplo seria a construção de políticas públicas para garantir a permanência de pessoas trans no ensino básico, “pois a evasão por sofrimentos devido a violências psicológicas e físicas ainda são alarmantes e, infelizmente, não registradas. Precisamos pensar na empregabilidade e observar que na cadeia do desemprego, mulheres negras e as pessoas trans são as que mais sofrem, completa.