O assassinato do vaqueiro Marcos Antônio Pereira da Cruz, de 38 anos, durante uma operação de desintrusão na Terra Indígena Apyterewa, no Pará, chama atenção para os riscos enfrentados por agentes públicos em ações semelhantes às que vêm sendo realizadas pelo Ibama no Tocantins, especialmente na Ilha do Bananal.

No caso do Pará, o trabalhador foi morto em uma emboscada enquanto auxiliava o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na retirada de gado cerca de 350 cabeças de gado criado ilegalmente dentro do território indígena. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) solicitou apoio da Polícia Federal, que investiga o crime. A ação integra o cumprimento de decisão do Supremo Tribunal Federal no âmbito da ADPF 709, que determinou a retirada de invasores de terras indígenas.

Embora sem registros de violência armada até o momento, o Tocantins vive uma operação de natureza semelhante. O Ibama notificou dezenas de ocupantes irregulares da Ilha do Bananal para que deixem a área até 31 de dezembro de 2025, retirem o gado e desmontem estruturas usadas na pecuária ilegal. A medida atende decisão judicial e tem como objetivo conter o avanço do desmatamento e de incêndios criminosos em Terras Indígenas da região.

Assim como na Terra Indígena Apyterewa, a ocupação irregular na Ilha do Bananal está associada à criação ilegal de gado, abertura de pastagens e uso do fogo para limpeza de áreas. Em 2024, mais de 1 milhão de hectares foram atingidos por incêndios na ilha, considerada a maior ilha fluvial do planeta.

No Tocantins, o Ibama também determinou à Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) a suspensão da emissão de Guias de Trânsito Animal (GTA) para a Ilha do Bananal, exceto nos casos de retirada de rebanhos já existentes, como forma de impedir a expansão da pecuária irregular.

Especialistas e órgãos ambientais apontam que esse tipo de desintrusão tende a gerar tensão em áreas onde antigos ocupantes resistem às decisões judiciais. No Pará, segundo a Funai, a emboscada teria sido praticada por ex-moradores que continuam invadindo a terra indígena para manejar gado remanescente.

O caso mostra a necessidade de reforço na segurança das equipes envolvidas nessas operações e sobre os conflitos fundiários persistentes em territórios indígenas, inclusive no Tocantins, onde ações semelhantes seguem em curso.