Saiba quantas famílias poderiam ter sido alimentadas com R$ 73 milhões desviados no Tocantins

04 setembro 2025 às 14h02

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O afastamento de Wanderlei Barbosa (Republicanos) do cargo de governador do Tocantins, nesta quarta-feira, 3, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), trouxe à tona o impacto do suposto desvio de recursos públicos investigado pela Polícia Federal na operação Fames-19. A investigação aponta suspeitas de fraude em contratos voltados ao enfrentamento da Covid-19, incluindo a compra de cestas básicas, com prejuízo estimado aos cofres públicos em R$ 73 milhões, valor que, na prática, poderia suprir milhares de famílias em situação de vulnerabilidade.
De acordo com último levantamento do Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômico-Sociais (Naepe) do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), feito em julho, o preço médio da cesta básica em 2025 é de R$ 721,24. Nesse cenário, os R$ 73 milhões que a Polícia Federal aponta como prejuízo poderiam ser convertidos em cerca de 101 mil cestas básicas. Considerando que cada cesta supre a necessidade alimentar de uma família de quatro pessoas por um mês, isso equivale a mais de 404 mil pessoas potencialmente atendidas com os recursos hoje sob suspeita de desvio.

O contraste se torna ainda mais evidente diante do programa estadual recém-oficializado pelo Diário Oficial do Estado, o AlimenTO, que prevê R$ 250 mensais para cada família em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, o programa deve atender cerca de 7 mil famílias em 139 municípios, priorizando crianças de 0 a 6 anos e famílias chefiadas por mulheres. Os R$ 73 milhões poderiam alimentar mais de 14 vezes o número de famílias contempladas atualmente.
Para efeito de contexto, o Tocantins possui uma população estimada de cerca de 1,6 milhão de habitantes. Caso os R$ 73 milhões fossem integralmente utilizados para fornecer cestas básicas, seria possível garantir alimentação mensal para aproximadamente 25% da população do estado.
Impacto pode ter sido maior
O impacto real dos supostos desvios pode ter sido ainda maior, já que entre 2020 e 2021, período investigado pela PF, o preço da cesta era consideravelmente mais baixo, antes da pressão inflacionária registrada nos últimos anos. Além disso, trata-se justamente do auge da pandemia, quando a vulnerabilidade social atingia níveis críticos e o acesso à alimentação era ainda mais urgente para milhares de famílias tocantinenses
A Polícia Federal afirma que, entre esses anos, contratos de fornecimento de cestas básicas e frangos congelados teriam sido superfaturados, e os valores desviados teriam sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos investigados. Até o momento, nenhuma irregularidade foi comprovada, e as investigações seguem em andamento sob sigilo.
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